sábado, 29 de junho de 2024
Desespero Profundo
sexta-feira, 31 de maio de 2024
Abigail
Abigail, 2024. EUA. De Tyler Gillett, Matt Bettinelli-Olpin
Poderia ser mais claustrofóbico, menos inusitado, menos preguiçoso, mas ainda é engraçado.
Bandidões da pesada são incumbidos de sequestrar uma garotinha chamada Abigail, mas as coisas não saem exatamente como deveria já que a mocinha, bem, podemos dizer que ela não é exatamente uma mocinha. Acho que não é novidade para ninguém que os filmes de vampiros se tornaram autorreflexivos...
Inclusive, há um conto de Stephen King chamado “Popsy” sobre uns desavisados que sequestraram o neto de um morcegão. Muito fácil encontrar a associação entre o conto e o filme, ressalvando que Abigail não precisa da ajuda para descer o terror nos incautos. Há um momento no qual uma televisão exibe um episódio de cartoon chamado Pantry Panic (1941) em que um gato famélico tenta comer o Pica-pau, mas este também tem planos de papar o bichano. Bem, é com esse tipo de obviedade que estamos lidando.
O jogo de gato e rato (gatos e morcegos?) sustenta as premissas e a narrativa contanto com citações sobre vampiros e um humor engraçadinho. Devido às várias dicas dadas desde o início, não seria preciso um Sherlock pra intuir sobre a armadilha à espreita. Mas os personagens são bons para o humor ácido e não para o exercício do tutano.
A personagem título ganha a presença de cena no momento adequado, arrebatando seus adversários na ordem certa: dos menos aos mais interessantes. Assim, merecem destaque Joey, a responsável por cuidar da "garotinha", e Frank, o chefe da equipe. Eles precisam liderar os sobreviventes no momento em que o embate com vampira se desnuda. Embora haja sustinhos convenientes, o clima terrir dá a tônica com um ritmo que impede o espectador de ver as pontas soltas do roteiro.
Comicamente a história se sustenta, mesmo com personagens tão desinteressantes que na prática tanto faz torcer pela Abigail ou pelos sequestradores. A metáfora sugerida de ratos x morcegos é válida, afinal, todas elas merecem a dedetização e se entrarem em briga confesso que torço pela briga...
Ficou com dó? Leva para a casa uai... Cotação: ☕☕☕
Observação: O conto do King pode ser conferido no livro “Pesadelos e Paisagens Noturnas. V.1”
Shin Gojira
Shin Gojira, 2016. Japão. De Hideaki Anno
O
tom nacionalista de Shin Gojira (2016) passou despercebido: uma história
sobre a reorganização militar do país a fim de superar as adversidades. Estas
podem até ser os desastres naturais, mas a questão nuclear é o ponto inegável.
A
abordagem é a política e não a história dos Kaijins em si; nem mesmo o
cinema catástrofe domina a projeção. Trata-se da articulação política dos
médios escalões do governo para impedir a perda de autonomia do país perante a
comunidade internacional ou dos Estados Unidos. Assim, uma mobilização para destruir a
criatura que apareceu no território japonês e salvar vidas choca-se com a
hesitação dos políticos convencionais e dos interesses internacionais. Trata-se,
portanto, de defender a revitalização do Japão com a substituição da engessada
burocracia por uma geração legitimada pelo mérito. A hierarquia e a
respeitabilidade tradicionais são entraves à modernização – um mote discursivo que
se repete por lá. Quando o mostro emerge, a sequência das decisões tomadas em
reuniões regidas por uma pompa e um protocolo denunciam o imobilismo a ser
superado pelos “modernos”.
O
filme defende as premissas da maioridade do Japão e da sua saída da autônoma em
relação dos Estados Unidos. Isso dito de forma explícita e didática, muitos
diálogos, inclusive, são pronunciados para a câmera como a preleção de um
professor diante da turma. Trata-se de um filme educativo que propõe o rearmamento
da nação nipônica, mas tudo com a dita responsabilidade pois a própria arrogância
imperial é lembrada.
O
filme peca por esse excessivo empreendimento moral, tornando o mostro e mesmo o
desastre aspectos quase acessórios. Os personagens são rasos e unidimensionais,
estão ali para pensar a melhor solução para o país com uma abnegação típica de
propaganda de guerra. Por tomarem decisões a uma distância considerável do
monstro, o próprio perigo que correm é reduzido, embora haja, naturalmente, os
sacrifícios e as expiações da rodada.
Além
disso as cenas de destruição e do próprio monstro são apenas razoáveis. Há um aspecto
retrô da criatura, bem em conformidade com um ideário político em si
controverso. Os estereótipos japoneses são mostrados a exaustão revelando um
filme antigo em roupagens hodiernas.
A representação
dos norte-americanos é ambivalente, de um lado são apresentados como
autoritários e com exigências exclusivamente favoráveis aos seus próprios
interesses, mas, do outro lado, confiam aos japoneses uma solução própria. As menções
aos ataques de Hiroshima e Nagasaki ocorrem mais de uma vez e o trauma do
ataque nuclear paira durante toda a narrativa. A fim de evitar o pior, Estado e
nação precisam da harmonia de modo que modo que o novo e o antigo possam ser
integrados.
Enquanto
isso, Godzilla vai se movimentando e cientistas, políticos e militares precisam
conter seu avanço sobre Tóquio. Depois dos desarranjos iniciais criados pela
paralisia política uma resposta técnico-militar é fabricada e colocada a prova.
O sucesso dessa empreitada vai garantir a autonomia do país evitando, assim,
sua invasão pelos estrangeiros. Os olhos dos Estados Unidos e da Europa estão
voltados para a terra do sol nascente, já Rússia e China são colocadas de lado
com uma certa suspeição.
A
ideologia nacionalista e militarista não são propriamente novidades no Japão,
mas esperamos que assim como o Gojira elas continuem adormecidas.
Cotação: ☕☕☕
sábado, 25 de maio de 2024
Miss Zombie
Senhorita Zumbi (Miss Zombie), 2013. Japão. De Yoshiki Kumazawa e Satake Kazumi.
"Devemos ter medo dos vivos, não dos mortos". Essa é uma frase que resume grande parte dos filmes de zumbis. Fido, Warm Bodies, Zombie plage são algumas das associações as quais não me esquivo em fazer.
O filme vai constituindo uma cultura necrófila com constantes violações perpetradas contra a moça zumbi. Alguém aí se lembra de “Dogville”? Lar von Trier é você que está aí meu filho?
Além disso, a casa a qual a Miss Zumbi serve possui uma arquitetura lúgubre e semelhante a uma paisagem tumular. As construções parecem monumentos mortuários, aspecto reforçado pela fotografia preta e branca com gradações fugidias e contrastada por meios tons e pelos jogos de sombra. A luz do sol não consegue atravessar as nuvens opacas realçando o conflito entre o mundo dos vivos e dos mortos. À noite a ambiência torna-se mais desolada. Algo entre uma sepultura reaberta e uma favela terceiro-mundista.
O desenvolvimento da história apresenta furos, a comunidade adapta-se rapidamente a presença da zumbi. Todo modo, a verosimilhança construída é o suficiente, pois o plano geral consegue combinar o horror das relações familiares adoecidas com a proscrição e abandono imposto a alguns seres. A partir desses elementos entende-se a promiscuidade entre os vivos e os mortos.
Cotação: ☕☕☕☕
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Jurassic Park
Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park), 1993. De Steven Spielberg.
Antes
de tudo Jurassic Park precisa ser entendido como um filme, ou seja,
antes da superexploração por meio das franquias pasteurizadas tivemos uma
história que realmente valeu o ticket do cinema. Em retrospectiva, podemos ter
dificuldade em apreciar seu impacto à evolução do entretenimento, mas o apuro
técnico dos efeitos especiais abriu novas possibilidades para os filmmakers.
Jurassic Park foi a superação do Tubarão (também do Spielberg), e se há semelhanças eles – o confronto entre homem e natureza e a inversão da relação caça-caçador, por exemplo – a escala de cada uma dessa mitopéias é distinta.
O tubarão era um invasor individual, até interpretado como
resultado dos desequilíbrios ecológicos – algo presumível da história de Peter
Bencley, o autor do romance original. Já os dinossauros foram resultados do
poder da ciência maximizados pela caótica força motriz da vida. Ideia
concebida por Michael Crichton em seu best-seller, o próprio Jurassic Park.
Chrichton inova, pois não temos aqui um mundo perdido tal como nas histórias de
Conan Doyle ou Júlio Verne; as criaturas extintas voltaram à vida por meio do
desiderato de um show business vocacionado em ser um Walt Disney com
engenharia genética.
Jurassic Park finalizou um trabalho iniciado com King Kong, Godzilla e outros monstros gigantes (kaijins) mundo afora. O roteiro é um primor didático pela simplicidade de uma narrativa bem contada. A apresentação dos personagens e do cenário, as complicações da trama e o aparecimento do inimigo ensinam-nos como guiar a imaginação; e do espanto caímos para o mar do merchandising.
Eis a dita magia do cinema operada no convencimento do público quanto a realidade do que se passa na tela. Os efeitos especiais e visuais hoje parecem-nos banais, mas inauguraram uma expectativa de receber a fantasia realista em seus detalhes – cada vez o esforço da imaginação passa a ser menor. Ao refletir sobre o realismo de Jurassic Park não posso me esquivar de rememorar o non sense do quadro Dinosaurier auf der Autobahn (1980) do pintor suíço Giuseppe Reichmuth. É o monstro entrando naturalmente na ossatura do cotidiano.
Basta olhar para a tela, tudo está lá, mastigado e plastificado. No lançamento de Independence Day (1996) e Star Wars – Episode I (1999), para citar dois outros arrasa-quarteirões, o trabalho de educação das sensibilidades levado a cabo por Spielberg (e também por Georg Lucas) já estava concluído.
O
sucesso dos dinossauros gerou uma superexposição do tema com uma posterior
infantilização (as crianças adoraram), mas em certa medida eles foram apenas o
instrumento de conscientização do grande público. Pacotões de pipoca e pepsi-cola enquanto assistem seres irreais agindo da forma mais realista e verossímil
possível: eis o melhor programa da nova era de ouro do cinema.
Sucesso
total: todos abarrotados, amarrotados e arrotados.
Mas
e aí, o que viria depois disso?
- Ei, ali na frente, é um robô ou um carro fazendo uma conversão?
quinta-feira, 14 de março de 2024
O Vale do Gwangi
O Vale do Gwangi (The Valley of Gwangi), 1969. De Jim O'Connolly
Antes que o Parque dos Dinossauros (Spielberg, 1993) catapultasse o gênero em começos dos anos 90 a temática dos mega-monstros já estava sedimentada na tradição cinematográfica. Em Gwangi temos uma aventura clássica na qual não há propriamente vilões, embora os conflitos e as rivalidades existam.
Os diálogos, os enquadramentos e o desenvolvimento da narrativa seguem de forma esquemática com uma introdução sólida para apresentar as características dos principais personagens. O grande eixo será o embate entre rancheiros e dinossauros com o ponto alto no momento em que os cowboys conseguem laçar um Alossauro (assemelha-se a um Tiranossauro).
Tudo isso porque na passagem dos séculos XIX para o XX artistas hípicos texanos estão percorrendo a fronteira com o México, lá eles descobrem o caminho para um antigo vale no qual os dinossauros continuam existindo. Decidem aumentar o prestígio do circo exibindo uma dessas criaturas apesar da resistência dos supersticiosos ciganos mexicanos que temem a maldição do Gwangi, o mais temido de todos os jurássicos.
Embora o filme seja bem inofensivo, os brancos são sempre apresentados como indivíduos em contraposição aos nativos, ciganos e mexicanos, apontados como religiosos, supersticiosos. A representação, no entanto, não é de toda negativa cabendo ao órfão Lope a condição de ajudante dos intrépidos exploradores.
Estereótipos à parte, há um tipo de fábula acerca da ganância do show-businesses norte-americano que alimenta a narrativa. O núcleo principal comporta o aventureiro Tuck (James Franciscus) e a amazona T.J. (Gila Golan): um casal de namorados que não consegue acertar o interesse amoroso com a vontade de fazer fortuna. A ideia de capturar o monstro, elaborada meio ao acaso pelos artistas, e levá-lo à civilização é manjadona, porém fadada ao fracasso (vide King Kong).
Ao contrário do que poderia se esperar, a construção dos dinossauros foi bem executada graças às técnicas de stop motion – o que se tinha de mais moderno na época. Embora os efeitos especiais sejam limitados para os nossos padrões, a história segue a mesma toada da atual franquia Jurassic World. Aliás, temos até um professor com pouco traquejo social disposto a se arriscar para provar a existência das criaturas.
A conclusão é crua, isto é, sem maiores desdobramentos, bem em conformidade com os padrões da época. Não apresenta nada de extraordinário, mas possui uma história bem organizada e tem belíssimas locações – gravado em Cuenca, Espanha, com cenas de desertos, cânions, catedrais e estádios de touradas. Enfim, o filme atesta que os monstrões há muito exercem o fascínio sobre nós.
E onde tem interesse sempre haverá um capitalista para mercantilizar. Everything is money, alright?
Como será que se diz isso em espanhol?
Cotação: ☕☕☕domingo, 25 de fevereiro de 2024
O homem que ri
✈ Crítica a jato
As
pessoas ficariam surpresas se parassem para assistir filmes do período do cinema
silencioso, a linguagem cinematográfica é bem potente para transmitir as
mensagens por meio das imagens dessincronizados do som.
Um
excelente exemplo é o filme O Homem que ri de 1928, uma adaptação melodramática
do romance de Victor Hugo. O início do filme expressa potência com o cenário claustrofóbico e com a apresentação de personagens marginais, introduzindo, inclusive, temas macabros, tais como os ciganos comprachicos. A história, no entanto, é um romance cujo arco geral centra-se na redenção por meio do amor incondicional. Os temas do terror são tangentes e talvez até não intencionais.
A trama se passa no final do século XVII e o personagem principal, o palhaço Gwynplaine (interpretado por Conrad Veidt), foi deformado com um sorriso abjeto a mando do rei James II quando ainda era criança - vingança do monarca contra o filho de um nobre revoltoso. Consta, inclusive, que o vilão Coringa do Batman foi inspirado nessa figura. A imagem trágica de Gwyn, no entanto, não traz o germe da loucura, a autopercepção da não aceitação traduz-se simplesmente na busca da dignidade diante da monstruosidade.
Adotado por um circo itinerante, o artista Gwyplanine ao lado de sua amada Dea (uma moça cega que ele salvara na infância) se torna uma atração nas feiras populares, conhecido como “o homem que ri”. Porém, as origens nobres do palhaço, quando descobertas, envolvem-no em uma trama palaciana da rainha Ana, incluindo as heranças, os casamentos arranjados e os raptos de donzelas por malvadões de capa...
A
construção do cenário, com muita influência do expressionismo alemão, o desempenho
de Veidt (sustentando uma carranca impressionante) e a trama rocambolesca de inspiração
romântica registram a fase final do cinema silencioso. Inclusive a sonoplastia
já avançava para a introdução do som sincronizado com falas na tessitura fílmica.
Destaque para a capacidade didática do roteiro em explicar longos desdobramentos sem o excesso de intertítulos, isto é, as placas informativas e os diálogos em texto. Quer
dizer, temos um filme maduro capaz de organizar uma história banal dentro de uma ambiência sombria, prenúncio da era dos filmes de terror da
Universal.
O
homem que ri tem ainda hoje elementos capazes de entreter uma plateia adulta, com
exceção daqueles que apreciam vídeos de trinta segundos de uma plataforma
bastante popular entre os jovens.
domingo, 7 de abril de 2019
O retorno dos malditos
O retorno dos malditos (The hills have eyes 2), 2007. De Martin Weisz.
Antes de ser fascista ou racista, trata-se de algo simplesmente americano, talvez eticamente incorreto, mas também mera expressão de mau gosto. Os americanos têm um apreço pelo freak, pelo estranho e anormal. Os circos de aberrações são tão americanos quanto a torta de maçã.
Há uma tradição literária e cinematográfica de qualidade “B” que mantém como tema principal a existência de monstros no coração da América. Lendas que partem de um fundo histórico real, pois no processo de colonização dos Estados Unidos, sobretudo com a expansão para o Oeste, muitas famílias ficaram isoladas nas novas terras ocupadas, sendo comuns os relatos de relações incestuosas e enlouquecimentos.
Visão construída pelo leste urbano e cosmopolita sobre o oeste provinciano. Muito antes de representar o preconceito contra os negros ou os mexicanos, prevalecia o senso de desvalorização do pobre branco, o caipira.
Em relação ao cinema podemos citar filmes como O massacre da serra elétrica (original e remake), O homem de Palha (original e remake), Viagem Maldita (original e remake), além do Padrasto, Pânico na Floresta, Rejeitados pelo Diabo e muitos outros. A mensagem em todos esses filmes é a mesma, fora das cidades, das rodovias principais, existem pequenos povoados, regidos por outra racionalidade que não a judaico-cristã.
Os mutantes canibais devoradores de pessoas incautas constituem personagens recorrentemente visitados, temática muito coerente com as tendências eugenistas que permearam a história intelectual dos Estados Unidos. Acontece uma equivalência entre a deformidade física e a mental, com clara sugestão de que aqueles que não possuem a simetria bilateral, a pele clara, os olhos azuis, os cabelos loiros e lisos estão singularmente predispostos à brutalidade. Em suma, o monstro é o não branco.
Portanto, O retorno dos malditos, continuação do remake de um clássico faz parte dessa tradição, você pode até não gostar, mas deve entender sua proposta e situá-la no cinema de terror/horror americano. Pesa contra este filme, especificamente um tom proto-fascista indisfarçável, uma imbecilidade profunda no roteiro e a total incapacidade de criar empatia com o público.
O mais estúpido pelotão em treinamento de todo o exército americano (sendo mais preciso, da Guarda Nacional) vai parar nas colinas onde existe uma família canibal. Com coletes, capacetes, fuzis, e outras bugigangas militares, esses soldados conseguem levar uma inexplicável surra dos mutantes assassinos do mau das trevas.
Inexplicável em termos, pois quando conhecemos os integrantes tudo fica claro... O pseudo protagonista é um soldado magricela que é pacifista, há um baixinho latino esquentadinho, um negro bom de briga meio sinistro, uma loira gostosa que não sei o que está fazendo nas Forças Armadas e uma latina idiota que no meio do território inimigo vai sozinha atrás da pedra fazer um xixizinho toda despreocupada.
Ah me poupa, se eu chamar os moleques da minha rua organizo um pelotão melhor.
O único que tinha um pouco de habilidade era o sargento, mas que, na primeira oportunidade, foi fuzilado acidentalmente por um dos seus próprios soldados – maneira preguiçosa e chinfrim que o roteirista achou de deixar a situação mais cabeluda para os pobres recrutas. No mais o filme é a representação da deformidade como mal, o elogio do branco americano e demonstração da incrível incapacidade dos militares americanos.
Território inimigo, desconhecido, cheio de crateras, montanhas, relevo acidentado. Os soldados decidem se dividir em pequenos grupos (de certo para facilitar a ação dos seus captores), param, conversam, colocam as armas ao lado, discutem uns com os outros, enfiam as cabeças nos buracos. Seria mais previdente brincarem de roleta russa.
Um soldado branco, uma soldada loira, um subsoldado latino, um subsoldado negro. Acontece um incidente e se forma uma dupla e um casal... quem fica com quem?
Quem morre: o casal ou a dupla? Quem sofre na mão dos algozes, a linda moça loira ou a moça latina? Viram, é disso que estou falando...
Dá preguiça.
Cotação: Péssimo.
terça-feira, 23 de maio de 2017
Alien Covenant
Alien Covenant, 2017. EUA. De Ridley Scott
Conforme dito no texto inaugural da temporada de críticas 2017 há algumas recorrências que pretendo discutir nesse blog.
Um dos aspectos a serem tematizados é o “empoderamento feminino” transformado em paradigma de Hollywood. Trata-se do corolário político (derrotado) de Hillary Clinton como uma boa pedida. Significa, por outro lado, uma castração do elemento masculino, pois os personagens do sexo neo-frágil são fracos e desinteressantes.
De fato, há uma galeria de homens incapazes de agir racionalmente. O novo capitão da nave, “homem dotado de fé”, é o melhor exemplo... Quantas saudades de um Kirk ou mesmo um Picard. Vários personagens descartáveis, incluindo as femininas, povoam a narrativa esperando o momento certo de cair nas garras dos bichões espaciais (outrora considerados inspirações de imagens fálicas). O destaque fica para a ativa cientista Daniels (interpretada por Katherine Waterston) e os “sintéticos” (androides) David e Walter interpretados por Michael Fassbender.
Os aliens são um mero pretexto para que possamos acompanhar as desventuras de uma nave por esse sertão galáctico e o verdadeiro antagonista esconde-se no masculino arrogante com as suas criações artificiais. No entanto, é difícil compreender como exploradores espaciais podem ser tão amadores, dando-se ao luxo de agir pela fé, pela raiva e pelo impulso. Assim, cabe ao logos feminino a premência de contornar um amontoado de disparates.
Daniels é vítima da vez, não obstante seu protagonismo. As criaturas alienígenas são brutais, mas apenas isso. Nessa “franquia” há pouco espaço para o otimismo e não deixa de ser curioso que em ambiente vasto (um planeta) prevaleça o ângulo claustrofóbico.
Mesmo assim, o terror não se firma e a heroína percorre sua trajetória com um vigor desperdiçado.
Cotação: ☕☕
domingo, 11 de abril de 2010
O retorno dos malditos
O retorno dos malditos (The hills have eyes 2), 2007. De Martin Weisz.
Antes de ser fascista ou racista, trata-se de algo simplesmente americano, talvez eticamente incorreto, mas também mera expressão de mau gosto. Os americanos têm um apreço pelo freak, pelo estranho e anormal. Os circos de aberrações são tão americanos quanto a torta de maçã.
Há uma tradição literária e cinematográfica de qualidade “B” que mantém como tema principal a existência de monstros no coração da América. Lendas que partem de um fundo histórico real, pois no processo de colonização dos Estados Unidos, sobretudo com a expansão para o Oeste, muitas famílias ficaram isoladas nas novas terras ocupadas, sendo comuns os relatos de relações incestuosas e enlouquecimentos.
Visão construída pelo leste urbano e cosmopolita sobre o oeste provinciano. Muito antes de representar o preconceito contra os negros ou os mexicanos, prevalecia o senso de desvalorização do pobre branco, o caipira.
Em relação ao cinema podemos citar filmes como O massacre da serra elétrica (original e remake), O homem de Palha (original e remake), Viagem Maldita (original e remake), além do Padrasto, Pânico na Floresta, Rejeitados pelo Diabo e muitos outros. A mensagem em todos esses filmes é a mesma, fora das cidades, das rodovias principais, existem pequenos povoados, regidos por outra racionalidade que não a judaico-cristã.
Os mutantes canibais devoradores de pessoas incautas constituem personagens recorrentemente visitados, temática muito coerente com as tendências eugenistas que permearam a história intelectual dos Estados Unidos. Acontece uma equivalência entre a deformidade física e a mental, com clara sugestão de que aqueles que não possuem a simetria bilateral, a pele clara, os olhos azuis, os cabelos loiros e lisos estão singularmente predispostos à brutalidade. Em suma, o monstro é o não branco.
Portanto, O retorno dos malditos, continuação do remake de um clássico faz parte dessa tradição, você pode até não gostar, mas deve entender sua proposta e situá-la no cinema de terror/horror americano. Pesa contra este filme, especificamente, um tom proto-fascista indisfarçável, uma imbecilidade profunda no roteiro e a total incapacidade de criar empatia com o público.
O mais estúpido pelotão em treinamento de todo o exército americano (sendo mais preciso, da Guarda Nacional) vai parar nas colinas onde existe uma família canibal. Com coletes, capacetes, fuzis, e outras bugigangas militares, esses soldados conseguem levar uma inexplicável surra dos mutantes assassinos do mau das trevas.
Inexplicável em termos, pois quando conhecemos os integrantes tudo fica claro... O pseudo protagonista é um soldado magricela que é pacifista, há um baixinho latino esquentadinho, um negro bom de briga meio sinistro, uma loira gostosa que não sei o que está fazendo nas Forças Armadas e uma latina idiota que no meio do território inimigo vai sozinha atrás da pedra fazer um xixizinho toda despreocupada.
Ah me poupa, se eu chamar os moleques da minha rua organizo um pelotão melhor.
O único que tinha um pouco de habilidade era o sargento, mas que, na primeira oportunidade, foi fuzilado acidentalmente por um dos seus próprios soldados – maneira preguiçosa e chinfrim que o roteirista achou de deixar a situação mais cabeluda para os pobres recrutas. No mais o filme é a representação da deformidade como mal, o elogio do branco americano e a demonstração da incrível incapacidade dos militares americanos.
Território inimigo, desconhecido, cheio de crateras, montanhas, relevo acidentado. Os soldados decidem se dividir em pequenos grupos (de certo para facilitar a ação dos seus captores), param, conversam, colocam as armas ao lado, discutem uns com os outros, enfiam as cabeças nos buracos. Seria mais previdente brincarem de roleta russa.
Um soldado branco, uma soldada loira, um subsoldado latino, um subsoldado negro. Acontece um incidente e se forma uma dupla e um casal... quem fica com quem?
Quem morre: o casal ou a dupla? Quem sofre na mão dos algozes, a linda moça loira ou a moça latina? Viram, é disso que estou falando...
Dá preguiça.
Cotação: Péssimo.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Caçados
Caçados (Prey), 2007. África do Sul/ EUA. De Darrel Roodt
Racista, antropocêntrico e absurdo!
Cólicas de tanto rir! Rir para não chorar.
Uma família de loiros americanos na África!
Pai, madrasta e dois filhos, os Newman.
O pai é engenheiro e foi para a África fazer uma BARRAGEM!
(meu Deus... que edificante...)
Enquanto ele está dando duro, levando o PROGRESSO à África, a madrasta (loira boazuda) e as crianças fazem um SAFARI!
Porém pegam uma rota indevida, o guia é devorado por leões selvagens (como é que é?) e eles ficam perdidos, dentro do jipe ecologicamente incorreto, no meio do nada!
Meu Deus, eles estão na ÁFRICA SELVAGEM!
Perdidos, completamente isolados da civilização!
(Tensão com musiquinha brega!)
Agora pasmem, a família loira americana construtora de barragens que anda em jipe nas savanas africanas são os heróis. Os monstros são os leões.
É impressão minha ou há algo de podre nisso?
Esperem, não acabou, os aplausos ficam para o caçador que ajuda na busca aos desaparecidos, especialista em grandes feras... Mas não nos esqueçamos das cenas em que aparecem os africanos, cortando os restos dos leões abatidos, tal como se fossem hienas.
Entendem o paralelo? Os brancos = os leões, os negros = as hienas... ficou claro ou alguém quer um infográfico?
Ei! Há um nazi-sinal sendo projetado nos céus da cidade!
Também somos agraciados com frases maravilhosas, quando o Mr. Newman (O loiro pai!) desabafa impetuosamente:
“Eu vou entrar naquele carro e vasculhar cada centímetros desse continente até encontrar minha família”.
Ouíe Mr. White, aproveita que você está com as mãos na massa e descobre também a nascente do Nilo, se não for pedir demais, dá um pulinho lá na Antártida
Mas não se preocupem, no final, a civilização branca vence a selvageria, graças aos recursos disponíveis (com ênfase no JIPÃO 4x4).
Os leões malvados são abatidos. Tão tocante ver o fardo do homem branco.
Cotação: Péssimo
06 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
O Lobisomem
O Lobisomem (The Wolfman), 2010. Reino Unido/ EUA. De Joe Johnston
Lawrence Talbot é ator de teatro, especialista em interpretações shaekesperianas, faz parte de uma companhia de Nova York. Durante sua turnê pela Inglaterra recebe a notícia de que seu irmão se perdeu no bosque, ele retorna ao vilarejo onde nasceu na tentativa de ajudar nas buscas. Lawrence reencontra seu pai, um homem frio e misterioso, que comunica o falecimento do irmão, encontrado em estranhas condições, parcialmente devorado por uma fera.
Durante a noite, Talbot vai ao acampamento cigano, em busca de maiores informações, mas acaba sendo ferido pela criatura. Apesar da gravidade do ataque, recupera-se rapidamente, seu corpo sofre, no entanto, transformações, e durante a noite de lua cheia, a maldição da licantropia emerge.
Ao amanhecer, o pobre amaldiçoado é capturado por um investigador da Scotland Yard, sob a alegação de demência e múltiplos assassinatos. Lawrence Talbot é encaminhado para um sanatório, o mesmo local em que ele esteve quando criança a pedido do pai. Todos o tomam como louco, exposto ao escrutínio e escárnio público, os psiquiatras querem que Talbot veja a lua cheia para compreender o desvio da realidade que ele operou.
Inicia-se o discurso de um médico sádico sobre os significados da normalidade, uma visão oitocentista da ciência que nega o lugar do místico, uma versão bem simplificada (quase comicamente) daquilo que o censo comum chamaria de psicanálise freudiana. No entanto, a lua aponta no céu e o monstro insurge, dilacerando os arrogantes de casaca e fugindo para as ruas londrinas. Inicia-se uma perseguição, o investigador tenta acompanhar o movimento do animal e nessa trajetória ele encontra com um subordinado, ao que pergunta: “Por um acaso você não teria uma bala de prata aí?”.
Frase essencial para a compreensão do filme, de forma irônica e auto-referenciada o personagem admite a impossibilidade do fato (repetindo o que os médicos haviam dito na cena anterior), mas dessa vez vem junto uma confissão, quase um carimbo: “Este é um filme de horror”. A espontaneidade operada por esse mecanismo repete-se em outro momento, quando a heroína ao descobrir o terrível desígnio do amado, propõe-se a interceder por ele, “Se isto é possível, tudo é possível, magia é possível, Deus é possível”. Não há muito espaços para o ceticismo, não obstante a proposta pseudo-cientificista sugerida de forma rasteira.
Assim, há certa seriedade nessa película, apesar das vulgaridades estéticas e dos chavões típicos de filmes de lobisomem. A taberna de cervejeiros supersticiosos e a turba de homens enfurecidos empunhando tochas na escuridão estão, previsivelmente, presentes. Além disso, a fotografia escurecida, o ar pós-vitoriano de decadência e uma essência de ultra-romantismo démodé se constituem nos principais elementos para a construção cênica.
A representação do campo (área rural) tende para o sobrenatural, com ciganos, simulacros de Stonehenge e cenários enevoados. A cidade também mostra seu lado ameaçador, com a impessoalidade das ruas, a frialdade da iluminação a gás e a igualmente esperada fog londrina, sem se esquecer dos planos gerais nos quais vemos as chaminés das locomotivas e das indústrias expelindo uma fumaça escurecida.
A cena da perseguição na cidade sugere a noção de uma selva urbana – sendo, inclusive, um dos momentos mais consistentes do filme – que acaba por nos remeter a dois clássicos do cinema de horror, King Kong e (o dúbio, mas igualmente influente) Lobisomem Americano em Londres.
Porém, o que há de interessante em The Wolfman reside em seus subtextos, em primeiro lugar na proposta, fracassada frisa-se bem, de conferir um ar psicanalítico ao personagem. Ao voltar a sua antiga morada, seus traumas de infância retornam e ele se depara com as memórias trancadas no porão de sua mente pela terapia de choque sofrida no sanatório.
Ressalta-se também o ar hamletiano conferido, a sina autofágica inscrita na família Talbot. Há uma tragédia que só pode em compreendia em sua inteireza após a última batalha entre as criaturas noctívagas, com soluções extremadas, onde o amor não oferece espaço para a salvação. A mágoa e o rancor são, portanto, os principais efeitos da maldição da licantropia.
O incêndio da mansão dos Talbot tem uma previsibilidade irritante, típica solução para uma novela neogótica que parece parodiar (e só uso esta palavra por elegância, já que há outra mais apropriada) o conto “A casa de Usher” de Edgar Allan Poe. Todo modo, esta cena, como muitas outros possui uma textura visual eficaz. O filme como um todo é quase palpável e não há muitas intenções de amenizar os embates, sejam nos ataques das feras ou nos relacionamentos pessoais.
Fecha-se com o questionamento sobre a relação homem-fera. Onde começa um, onde termina outro? Pouco importa, pois permanece a impossibilidade da redenção.
Cotação: Regular.
01 de março de 2010
sábado, 4 de abril de 2009
Monstros Vs. Alienígenas
Monstros Vs. Alienígenas (Monsters Vs. Aliens), 2009. EUA. De Rob Letterman e Conrad Vernon
Essa semana o feminismo foi um tema que me veio à tona em várias ocasiões. Lendo um dossiê da Cult sobre o assunto fico sabendo sobre a teologia feminista e o esforço de algumas filósofas para desconstruir a concepção de um Deus patriarcal. Também, meio por acaso, encontrei algumas antigas anotações que eu havia feito sobre O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir. Finalmente, entregando-me ao ato ilícito de assistir um Dvd pirata na casa de um amigo, deparo com esse novo produto da DreanWorks.
Produto embaladinho, bem feitinho e divertido, nada demais, mas desta vez colocando uma mocinha na condição de protagonista, o que garante o charme do filme. No dia do seu casamento, Susan é atingida por um meteorito e sofre um processo de gigantismo transformando-se na quase heroína Ginórmica. Desesperada com sua condição, ela é capturada por agentes do governo e trancafiada junto a outros “monstros” (uma barata cientista, uma gosma indestrutível, um anfíbio e um inseto super-gigante).
Criaturas que fogem aos nossos padrões antropormóficos e por isso mesmo devem ser escondidos dos olhares do restante, até que o aparecimento de um malévolo vilão cria uma oportunidade para que os monstros demonstrem seu valor. São os resquícios da Era Shrek de animações: o permanente desejo de aceitação social.
Salva o filme as referências aos clássicos da ficção científica (algumas sutis e outras nem tanto) e a divertidíssima figura do presidente americano retratado como um idiota (estamos cansado de saber disso, mas eles lá não), além, claro, da personagem principal, Susan, a menina de 15 metros.
Inicialmente uma genuína casadoira, frágil e feminina, mas que no decorrer da história se reconhece como capaz, percebe que seu noivo é um cafajeste de pequena grandeza e que sua felicidade não está condicionada a um anelzinho em seu dedo. No final, sua opção é ser uma profissional de sucesso no especialíssimo mercado de defesa planetária. Bem, não sei se isso pode ser chamado de feminismo, mas já é um passo adiante em relação aos finais ultra-açucarados da Disney.
[Ginórmica, uma citação à mulher de 50 pés ou só o atestado já corriqueiro do esgotamento da criatividade em Hollywood?]
Susan é referência direta à personagem do clássico fic-sci Attack of the 50 ft. Woman, uma provocação divertida, mas inofensiva acerca da suposta superioridade masculina. Não estamos falando de sutiãs em chamas ou revisão dos cânones da civilização ocidental, trata-se somente de uma animação que não bate nas mesmas teclas do chauvinismo reinante em produções do gênero. O que já é algum consolo.
Agora, fala sério, que homem em sã consciência dispensaria uma mulher de 15 metros? Vê se isso não é um mulherão...
Cotação: regular
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
O nevoeiro
O nevoeiro (The Mist), 2007. EUA. De Frank Darabont
Cláudio e eu nos conhecemos há muito tempo. De certa forma, acho que ambos somos durões. Mas enquanto ele perfaz o estilo do nice boy corajoso, me sobra o papel do cético-amargo-sarcástico.
É mesmo. Sabe aquele cara dos filmes de terror com um copo de whisky na mão que zomba do perigo? Bem, sou eu. Sim, o tipo de personagem arrogante que sempre morre no final. Já Cláudio pode se gabar: ele é o sujeitinho bacaninha que sobrevive com a linda mocinha loira.
Preâmbulo necessário, pois esse meu bom amigo veio até mim e confessou ter ficado apavorado com O nevoeiro. Bem, vindo de alguém que acho O chamado fastidioso e Dawn of the dead brega, achei promissor. Aluguei o dvd esperando encontrar o “fear”, mas o que eu vi foi uma dissertação sobre os neo-pentecostais... que a julgar por essa historieta até que não são tão descabidos...
Pois bem, logo após uma forte tempestade, em uma cidade interiorana americana (tinha que ser), surge um estranho nevoeiro, trazendo um clima de anormalidade à cidade. Algumas pessoas ficam presas em um supermercado e percebem que algo estranho está acontecendo lá fora. Não é necessário muito tempo para constatar a presença de criaturas dispostas a se banquetearem com a carne humana.
Entre os sobreviventes temos simpáticos idosos, pais exemplares de família (a propósito, pessoas como meu amigo Cláudio), funcionários do estabelecimento, advogados céticos-amargos-sarcásticos (olha eu aqui!) e uma neo-pentecostal fervorosa (queima eles Jesus). Pronto, o cenário perfeito para os embates com o “freak”, sejam as criaturas externas ou internas.
Na medida em que os ataques dos monstros se intensificam, as pessoas ficam mais desesperadas, portanto mais suscetíveis aos trôpegos discursos da beata Sra. Carmody. Na verdade, ela não é de todo mau, já que os demais não conseguem apresentar nenhuma estratégia de sobrevivência realmente válida.
Aliás, se um dos objetivos do filme era a crítica ao discurso neo-pentecostal, cabe dizer que ele falha, pois ao final, a música orquestrada e o clima fatalista gerado nos levam a crer que há momentos em que devemos ter fé e confiar plenamente em um “Deus vingativo e poderoso”, mesmo que no caso seja o exército americano.
É aqui que eu chego ao ponto que gerou essa crítica, pois ao contrário do meu lindo e másculo amigo Cláudio, não vi nada de assustador no filme. Eu já comentei isso antes: eu acredito que os monstros mais perigosos são os humanos, capazes de levar qualquer outra espécie à extinção. Se alguns se apressam e temem o Armagedon fazer o que...
Claro, quem assistir o filme vai entender aonde eu quero chegar.
A ironia! Há ironia! Ah... a ironia....
Como sou cético, amargo e sarcástico.
Cotação: regular