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sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Fantástico Sr. Raposo


O Fantástico Sr. Raposo (The Fantastic Mr. Fox), 2009. EUA. De Wes Anderson

O que é a civilização? O que é deixar-se de ser selvagem?

Tais questões atravessam o atraente filme de Wes Anderson, diretor que tem uma predileção muito conhecido pelos exóticos e excêntricos.

Uma animação feita para adultos, onde Sr. Raposo, o protagonista, vive preso em um terno, trabalhando em um emprego medíocre para sustentar sua família suburbana. Residindo nos limites do bosque, a visão de sua janela dá de frente para as propriedades dos três maiores fazendeiros da região: um criador de galinhas, outro de gansos e um irascível e astucioso produtor de cidra.

Aquela paisagem desperta nesse excêntrico vaidoso um sentimento bem familiar às raposas, evocativo dos seus tempos de ladrão de galinhas. Não resistindo à tentação, ele elabora um plano para assaltar os três fazendeiros, ridicularizando-os e confirmando sua notória esperteza.

Não obstante os ternos e os maneirismos humanos, bem como a precária civilização constituída no bosque (com escolas, escritórios de advocacia e lojas de 1,99) os animais ainda são feras e ressentem a situação em que vivem, distante dos seus instintos primários.

Sr. Raposo é sem dúvida o mais corajoso, ou melhor dizendo, aquele que aceita a sua verdadeira essência. Há mais de uma ocasião em que ele pronúncia:

“No final das contas sou só um animal selvagem”.

Seu desejo, portanto, situa-se ao nível da identificação com suas origens, um encontro com sua ancestralidade. E nesse sentido o filme se estrutura quase que como um apelo anti-civilizacional. Apesar dos pedidos da Sra. Raposa, ele negligencia o bom senso, motivado pelo anseio em ser livre e cumprir sua razão de ser.

No entanto, não há como se enganar, esse ladrão de galinhas, que entra furtivamente no galinheiro é o verdadeiro herói. Em momento algum se propõe a destruir a espécie das galinhas, busca somente satisfazer suas vontades predando uns poucos espécimes. Bem diferente dos fazendeiros, que decidem destruir todo o bosque na tentativa de uma desforra pela ação ousada do Raposo.

A civilização, no fim das contas, mostra-se mais bárbara que a própria selvageria. Quando os tratores avançam contra a floresta, as escavadeiras levantadas assemelham-se a mandíbulas, com dentes enfileirados e ameaçadores. Muito mais que os caninos do Raposo, que também insistem em aparecer, mesmo nos mais inocentes sorrisos.

O filme conta com uma galeria de animais não tão interessantes, o destaque fique para Raposo, seu próprio filho enfada com o estereótipo do adolescente ressentido em busca do reconhecimento paterno. A vaidade das raposas permanece como temática essencial, metaforizando a beleza e os estratagemas da natureza, em contraponto com a frialdade da civilização.

Nos atos finais, subtende-se que os animais estão fadados a morrer – cercados pelos fazendeiros e entocados no esgoto. Mesmo com consciência de tal inevitabilidade não se abatem, deleitando-se com as pequenas vitórias, fazem um banquete às custas da civilização.

No fim das contas, reconhecem que a existência nada mais é que uma sobrevivência.

Cotação: Bom

25 de junho de 2010

sábado, 4 de abril de 2009

Monstros Vs. Alienígenas



Monstros Vs. Alienígenas (Monsters Vs. Aliens), 2009. EUA. De Rob Letterman e Conrad Vernon

Essa semana o feminismo foi um tema que me veio à tona em várias ocasiões. Lendo um dossiê da Cult sobre o assunto fico sabendo sobre a teologia feminista e o esforço de algumas filósofas para desconstruir a concepção de um Deus patriarcal. Também, meio por acaso, encontrei algumas antigas anotações que eu havia feito sobre O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir. Finalmente, entregando-me ao ato ilícito de assistir um Dvd pirata na casa de um amigo, deparo com esse novo produto da DreanWorks.

Produto embaladinho, bem feitinho e divertido, nada demais, mas desta vez colocando uma mocinha na condição de protagonista, o que garante o charme do filme. No dia do seu casamento, Susan é atingida por um meteorito e sofre um processo de gigantismo transformando-se na quase heroína Ginórmica. Desesperada com sua condição, ela é capturada por agentes do governo e trancafiada junto a outros “monstros” (uma barata cientista, uma gosma indestrutível, um anfíbio e um inseto super-gigante).

Criaturas que fogem aos nossos padrões antropormóficos e por isso mesmo devem ser escondidos dos olhares do restante, até que o aparecimento de um malévolo vilão cria uma oportunidade para que os monstros demonstrem seu valor. São os resquícios da Era Shrek de animações: o permanente desejo de aceitação social.

Salva o filme as referências aos clássicos da ficção científica (algumas sutis e outras nem tanto) e a divertidíssima figura do presidente americano retratado como um idiota (estamos cansado de saber disso, mas eles lá não), além, claro, da personagem principal, Susan, a menina de 15 metros.

Inicialmente uma genuína casadoira, frágil e feminina, mas que no decorrer da história se reconhece como capaz, percebe que seu noivo é um cafajeste de pequena grandeza e que sua felicidade não está condicionada a um anelzinho em seu dedo. No final, sua opção é ser uma profissional de sucesso no especialíssimo mercado de defesa planetária. Bem, não sei se isso pode ser chamado de feminismo, mas já é um passo adiante em relação aos finais ultra-açucarados da Disney.



[Ginórmica, uma citação à mulher de 50 pés ou só o atestado já corriqueiro do esgotamento da criatividade em Hollywood?]

Susan é referência direta à personagem do clássico fic-sci Attack of the 50 ft. Woman, uma provocação divertida, mas inofensiva acerca da suposta superioridade masculina. Não estamos falando de sutiãs em chamas ou revisão dos cânones da civilização ocidental, trata-se somente de uma animação que não bate nas mesmas teclas do chauvinismo reinante em produções do gênero. O que já é algum consolo.

Agora, fala sério, que homem em sã consciência dispensaria uma mulher de 15 metros? Vê se isso não é um mulherão...

Cotação: regular

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Kung Fu Panda


Kung Fu Panda, 2008. EUA. DreamWorks Animation / Pacific Data Images. De Mark Osborne e John Stevenson

Dizia-se, antigamente, das normalistas de 16 anos que, quando introduzidas na arte da culinária, faziam uma comida bem feitinha, mas sem sal, sem sabor. Faltava a elas o segredo daquelas cozinheiras que passaram a vida toda no fogão.

Isso é o que pode ser dito sobre Kung Fu Panda, filme tecnicamente bem feitinho, mas sem sabor. Tudo nele parecer ser resultado de técnicas computacionais, não só as imagens, mas também o roteiro e a direção. Talvez já haja um software capaz criar um filme, do argumento ao produto final, você digita as palavras chaves, tais como:

urso | kung fu | aceitação social | superar desafios | derrotar vilão

E o resultado seria Kung Fu Panda...

O urso gordo que sonha ser um grande lutador, por um acaso ele é selecionado para um rigoroso treinamento, sendo recusado por todos e tido como alvo preferencial de deboches. Porém ele acaba por descobrir seu valor e suas supostas fraquezas se revelam o grande trunfo, o único capaz de derrotar o vilão arrogante em busca do poder supremo, mas desabilitado a perceber as pequenas belezas e sutilezas da vida.

No decorrer do filme todos nós aprendemos uma lição, tal como “seja você mesmo” ou “não desista dos seus sonhos”. Porém, tal qual o urso do filme eu sou preguiçoso e sempre esqueço esses brilhantes ensinamentos; aliás, por isso mesmo eu retorno às salas de projeção para assistir essas animações.

Uma historinha engraçada, mas sem ousadia, as próprias cenas de combate são reduzidas, isso porque a censura tem que ser livre. Quanto aos personagens, o destaque fica para a tartaruga, guerreiro supremo e detentor de segredos milenares, mas que, como em todo filme de kung fu que se preze, por alguma razão não toma partido na luta final.

Assim como no filme há um ensinamento secreto para se tornar um grande mestre ou o ingrediente secreto para se tornar o grande cozinheiro, talvez haja o macete secreto para se fazer um grande filme. Aliás, não é nem tão secreto assim, todas aquelas animações insanas dos anos 30 e 40 o conheciam.

É só não acreditar que o software resolve tudo, que a animação 3D é a resposta infalível. A subjetividade e a inteligência ainda têm um papel no cinema, pequenino, mas existente. As cozinheiras velhas sabem disso.

Cotação: fraco