quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Lutador



O Lutador (The Wrestler), 2008. EUA. De Darren Aronofsky

Agora os médicos dizem que não posso mais ser um lutador

Nossos corpos comportam temporalidades, rugas e cicatrizes são testemunhos de experiências, resistências e fraquezas. O cuidado ou descuidado com nós mesmos têm sentidos que muitas vezes nos escapam.

Pensando especificamente o caso masculino, o que mais me chama atenção é a dedicação de alguns gajos com suas aparências. Muito embora eu seja jovem, saudável e esteja no ápice das minhas capacidades físicas, frequentemente encontro rapazes que, apesar de terem a metade da minha idade (algo entre 14 e 15 anos), apresentam-se muito mais robustos.

Algo naturalmente conseguido através de muitas sessões de musculação, além de uma gama variada de produtos, que vão desde complementos alimentares até anabolizantes. Vale pensar o que se pretende com isso, pois parece que há algo mais do que a busca por um corpo saudável. O hedonismo e o individualismo exacerbado da contemporaneidade podem explicar esse comportamento, mas também permanece a busca pela virilidade, o sentimento de ser macho (seja lá o que isso queira significar) e a ilusão de ser um lutador.

Sim. Ilusão. Afinal de contas, um “guerreiro” pode esconder as mesmas fragilidades que um “não guerreiro”. O corpo humano é delicado e propenso a complicações, não importa: seja homem, mulher, varão ou fracote; todos estamos presos a vida por um fio.

Rand (interpretado por Michael Rourke) parece atinar para esse entendimento ao final de sua trajetória de wrestler. Um praticante profissional de luta livre, famoso em sua juventude, que ao se deparar com as complicações de sua atividade e as limitações impostas pela idade decide encerrar sua carreira de lutador. Contudo não é tão simples deixar cair a toalha, já que lhe resta somente a identidade de gladiador, a única vitória alcançada de fato em uma vida dissipada.

O filme, em alguns momentos, alcança uma tonalidade quase documental, quando percebemos os truques da luta livre (mas ainda que os combates sejam encenados, eles são dolorosos para seus participantes). Mais do que isso, o filme se ancora no real, tornando as decisões de Rand muito verossímeis, críveis para um integrante do “universo wrestler”.

Ao contrário do “Rocky, um lutador”, que remonta a fábula do self-made-man, o filme de Darren Aronofsky quer um diálogo mais direto com a crueza dos ringues e bastidores. O suposto cuidado que os lutadores têm com seus corpos só parcialmente é verdadeiro, pois todos estão dispostos a consumi-los em pelejas feitas unicamente com a intenção de agradar o público – uma forma de alcançar fama e dinheiro.

Sylvestre Stallone criou um personagem que digladiava por valores – a crença nos Estados Unidos, na família, nos laços de amizade, no sucesso individual – enquanto Rand apenas quer se afastar de um “mundo baunilha” que lhe reserva um emprego medíocre. Seu hedonismo é a manifestação da solidão, das dificuldades de se relacionar com a filha ou de seus descompassos com a dançarina Cassidy, sua quase namorada.

Aliás, Marisa Tomei é o contraponto feminino, ela interpreta uma striper, inserida em um meio similar ao de Rand, pois assim como o lutador ela deve se expor ao olhar público. Uma outra faceta do culto ao corpo e da supervalorização da imagem, igualmente ameaçada pela fugacidade das coisas.

Agora os médicos dizem que não posso mais ser um lutador

É nessa frase que se esconde o dilema existência do personagem. Não faz sentido uma outra vida que não aquela. Para preservar a imagem de um corpo perfeito vale arriscar seu próprio bem estar.

Não é a força ou a juventude que se busca preservar, mas a ilusão de poder possuí-las por um tempo indeterminado. Os derradeiros momentos do filme nos permitem intuir que Rand atingiu essa compreensão.

Mas os rapazes de 15 anos, entrelaçados naquelas máquinas de levantar pesos, não conseguem atinar para essa sabedoria. Não conseguiram ainda. O tempo cuida disso, já-já.

Cotação: Bom.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Operação Valquíria


Operação Valquíria (Valkyrie.), 2008. EUA. De Bryan Singer


Tom Cruise não andava muito bem das pernas. Depois de subir nos sofás e se dedicar a explanações filosóficas (vide a cientologia) ele percebeu que sua carreira estava por um triz. Então, para salvar sua reputação (ou o restante dela), ele decidiu aceitar esse trabalho e ir para o tudo ou nada.


Pobre Tom, decidiu salvar sua carreira interpretando um oficial nazista que tenta reiteradas vezes matar Hitler, sendo mal sucedido em todas elas; um conceito um tanto heterodoxo para um (ex)galã hollywoodiano. Aliás, o filme começa com ele levando uma sova de caças aliados e termina com sua punição exemplar pela tentativa de assassinato de füher. Ou seja, assim como o ator, o personagem só leva bofetadas...


A maneira como o espectador é introduzido na narrativa é inteligente, inicialmente fala-se em alemão, mas os sons e frases começam a se transformar em inglês, uma maneira de “fazer de conta” que se está falando alemão. Pena que o diretor não era o Mel Gibson, daí todo o elenco teria que fazer uma temporada no Cultura Alemã...


Vakkyrie é o nome do plano utilizado pelos dissidentes para tentar eliminar Hitler. Lastimavelmente esse filme é mal sucedido em todas suas tentativas, as representações de um Hitler medíocre e maligno são redundantes (já vimos isso várias vezes). Há uma cena em que ele aparece de costas, sentado em uma cadeira acariciando, um cachorro (sim! eles usam esse clichê) – eu quase exclamei “Dr. Evil!”, isso sem falar que o brilhante estadista alemão assina documentos importantíssimos sem se dá o trabalho de lê-los...


Já o personagem de Tom Curise, coronel Stauffenberg, é um cristão, corajoso, temente a Deus, fiel a Alemanha, pai amoroso, marido exemplar que decide ingressar no movimento de resistência alemã. Dessa vez ele atinge laivos impressionantes de canastrice, sua expressão é sempre a mesma, ou ele é um homem sob tensão ou sofre de cálculos renais.


O filme tem dois tipos de personagens, os feios e antipáticos, que são fiéis ao ditador, e os belos e de bons corações, mas que são ou incompetentes ou covardes. O general Olbricht, por exemplo, só toma as decisões erradas, totalmente incapacitado para a condição de liderança do alto oficialato. Aliás, ele me lembrou outro general incompetente, cujo nome não me lembro, do livro de A festa do bode de Vargas Llosa – este sim, um interessante trabalho que também aborda a organização de um golpe para eliminar um ditador, dessa vez um caribenho.


O filme é a crônica de um fracasso anunciado, basta esperarmos os planos falharem, os pelotões de fuzilamento entrarem em ação e as previsíveis declarações de coragem serem enunciadas. Mas dispensável mesmo é a família de Sauffenberg, que só aparece para reforçar as características simpáticas do personagem.


As interpretações, os cenários e o próprio roteiro não possuem vida, que não há como nos identificarmos com a história. O efeito de real é mínimo. Há vários bons trabalhos direcionados para a crítica ou mesmo a tentativa de compreensão do nazismo. Operação Valquíria com certeza não é um deles. Trata-se de uma dessas “fitas” descartáveis que Hollywood faz sem levar muito a sério; só mesmo alguém que se macaqueia em frente a Oprha para considerar esse fracasso evidente como a tábua da salvação.


Decadente.


Cotação: Fraco

Os Infiltrados


Os Infiltrados (The Departed), 2006. EUA. De Martin Scorcese


O filme se estrutura no contraponto entre dois policiais, um deles, está infiltrado na polícia, para ajudar os mafiosos (Matt Damon), e o outro vive o disfarçe de criminoso, para fornecer informações às forças da lei (Leonardo DiCapiro).


Ambos, cada um à própria maneira, são desajustados, a escolha do caminho que decidiram trilhar está justamente ligado às suas experiências no passado. Um procura um substituto paterno (Damon) e outro constrói sua identidade recusando o pertencimento à sua família composta por criminosos (DiCapiro).


Ambos os lados procuram o “rato”, isto é, o infiltrado, uma figura marrom, igualmente odiada. Porém desempenhar esse papel de informante é tarefa difícil, e só pode ser levado a cabo por pessoas desajustadas, que sempre vivenciaram um sentimento de não pertencimento, de fluidez perante qualquer identidade grupal.


Scorcese deixou de fora seus diálogos tão brilhantemente conduzidos, optando também por uma direção mais convencional, embora não menos vigorosa – basta perceber aquela seqüência em que DiCapiro persegue Damon. O essencial nesse filme é a construção dos personagens – que se coincidem em seus antagonismos. Claro, o elenco é impecável, mas DiCapiro é quem se sobressai, uma vez que é o terceiro filme do Scorcese que ele faz seguido.


Em Gangues de Nova York, o ator interpreta um homem violento, que pretende encontrar um lugar em uma gangue, mas, ao mesmo tempo, deseja desforrar a morte do pai, assassinado pelo líder do grupo. Já em O Aviador, temos a figura de um milionário que não consegue se definir, encontrar alguma satisfação, nas inúmeras atividades em que ele se envolve com muita distinção.


Em Os Infiltrados, temos um policial que perdeu sua identidade de homem da lei, e por mais que ele se esforça por recompor essa auto-representação, seu distanciamento da “boa sociedade” é contínuo. William Costigan (DiCapiro) é um tipo assustador, ele se assemelha ao criminoso a um ponto de chegar a se esquecer que é um homem da lei. Nos três casos, os personagens passam por conflitos internos, na medida em que tentam encontrar um ambiente do qual possam se sentir parte.


Por outro lado, Colin Sullivan (Damon), tem a pinta do mocinho, mas sua lealdade está mais direcionada para os grupos mafiosos. Indiscutivelmente ele é um criminoso, embora ninguém perceba. Porém ele também comporta uma dimensão de desajustamento, o que ele teme não é a morte (esta, em nenhum momento o assusta verdadeiramente), mas sim a perda do ethos do bom policial. Ele abandonou a ética da igreja pela da rua – um ponto recorrente na filmografia de Scorcese – pois antes de se filiar aos delinqüentes era um coroinha.


Entre esses dois, paira a figura, sinistra mais cativante, de Frank Costello, o líder dessa facção de criminosos, interpretado pelo consagrado Jack Nicholoson, que consegue compor um personagem típico do universo scorcesiano. Costello é um crítico ferrenho da ética religiosa, sua opção é pela violência, em sua opinião, mas legítima e explícita que a hipocrisia dos eclesiásticos – ele se recusa a ter qualquer contato com os representantes do sagrado, um indício de sua vocação niilista.


Porém, o filme não consegue se afastar muito do cinema de gênero, todos os ingredientes obrigatórios para um filme policial estão presentes. O que vale a pena em Os Infiltrados é a pouca distinção entre as fronteiras da lei e do crime. Basta mencionar que a concepção de justiça sustentada não é aquela compreensão da vitória final do ordeiro sobre o ilícito.


Não. Os criminosos pagam seus delitos por outros caminhos, muito mais obscuros. Os ratos são necessariamente marginalizados, ao optarem por viver nas fronteiras, não resta a possibilidade fazerem uma opção decisiva por um dos lados, pois ao final, esquecerão completamente a quem eles servem realmente.


Talvez nunca descubram que o que eles procuram é a ratoeira.


Sem cotação.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Violência gratuita


Violência gratuita (Funny Games U.S.), 2008. EUA / França / Inglaterra / Alemanha / Itália / Áustria. De Michael Haneke

Crianças têm medo de Bicho Papão. A inverossimilhança do monstro faz todo o sentido para elas. Bicho Papão nada mais é que a soma dos medos infantis: ele ataca a noite quando estão todos dormindo, ele fica debaixo da cama, ele se esconde atrás da porta, os barulhos noctívagos são de sua autoria.

Um dia o Bicho Papão é desmascarado, não há nada debaixo da cama ou atrás da porta, o escuro não é necessariamente uma ameaça e os barulhos não passam de móveis se dilatando. Uma vez adultos, aprendemos a ter outros receios: seqüestro relâmpago, assalto a mão armada, o estuprador escondido na noite, o ensandecido viciado em drogas.

Violência gratuita não funciona comigo. Lamento, mas dois jovens brancos de alta classe, com roupa de golfe e um ar esnobe não são uma ameaça para mim. Disso eu sei.

Gosto de imaginar um travesti vendo esse filme e rindo, pensando: “navalha na cara dos dois, na primeira oportunidade”.

Gosto de imaginar uma prostituta vendo esse filme com um ar meditativo: “já tive clientes piores”.

Gosto de imaginar um detetive da polícia investigativa (com um bigodinho aparado e uma camisa florida suja com molho de almôndegas) assistindo esse filme meio desconcertado: “quebrava a cara dos dois e depois subornava”.

Gosto de imaginar um burguês que vive em condomínio fechado e anda em carro blindado vendo esse filme: “meu Deus! Isso é real! Pode acontecer a qualquer momento!”.

Lembramos que Funny Games U.S é remake de um trabalho feito em 1989 pelo próprio Haneke, originalmente ambientado na Europa. Parece-me crível o entendimento de que as altas classes européias temem que, um certo dia, seus lindos jardins sejam invadidos pela barbárie. É o que acontece com família de Ann, George e o pequeno Georgie, que em certa manhã recebem a visita de dois belos e mortais jovens, interessados em submeter seus anfitriões a degradantes tratamentos.

Se os rapazes fossem negros, com sotaques africano ou jamaicano, a crítica social seria evidente demais. Não é isto que o diretor pretende, uma de suas intenções é abordar a insanidade do terror e da tortura. A maldade pura, desvinculada de qualquer contexto. O bom burguês teme que seus privilégios um dia venham ser cobrados (aqui já é minha interpretação). Nesse sentido, teríamos uma radicalização de Edukators, filme que também retrata o uso de estratégias para aterrorizar as classes ricas (mas nesse último caso, temos motivações políticas expressas claramente).



[Imagem acima: o belo Paul, por traz de sua aparência serena, esconde o torturador de burgueses]

Vislumbra-se o fim de qualquer ilusão de segurança ou estabilidade; o que os refinados jovens denunciam é que não há nenhuma ética aplicável ao universo das classes altas. Elas podem perecer ad infinitum e não serão notadas, pois estão tão escondidas em seus bairros, que passam despercebidas. Não há possibilidade de vicinalidade em uma região de mansões, pois qualquer um pode esconder em suas proximidades um assassino e quando o horror eclode, os “privilegiados” se revelam impotentes.

Paul e Peter, os intrusos, são os que detêm o controle da narrativa cinematográfica e o poder de decidir quem vive ou morre. Mas “Todos devem morrer”, concluem sadicamente. A metalinguagem constante é o verdadeiro desafio ao telespectador, reiteradamente o cineasta nos engana, o resultado do filme já está colocado desde o início. Mas por que torcer pela família aprisionada? Realmente há como se identificar com aquele cenário de classe média alta? Será que eles são tão inocentes assim? Não sei, Caché (outro trabalho de Haneke) nos mostrou a dificuldade de determinar quem é algoz e vítima.

Ao final, esse filme surge como um Bicho Papão para adultos ricos, mostrando que a narrativa pode se desprender por completo da verossimilhança, até mesmo porque o espectador insiste em se enganar que a projeção da tela é o próprio real. Cabe, portanto, uma correção ao preâmbulo desta crítica, o filme assusta ao travesti, a prostituta e ao detetive na mesma medida em que amedronta o burguês, isso porque o cinema é manipulação e nos faz assumir papéis que nos são estranhos.

O faz de conta convence exatamente por ser inverídico.

Cotação: Bom

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Foi apenas um sonho


Foi apenas um sonho (Revolutionary Road), 2008. EUA/Inglaterra. De Sam Mendes

O desejo existe. Mas nem sempre podemos consumá-lo. Isso era verdade nos anos cinqüenta e ainda continua sendo.

Casais infelizes existem, seja no auge do American Way of Life, na Rússia Bolchevique ou na “eterna” Paris.

A grande confusão de Foi apenas um sonho é justamente determinar as causas da desarmonia de Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) e April Wheeler (Kate Winslet); ele, um funcionário medíocre em uma empresa medíocre, ela uma Infeliz (sim, com i maiúsculo) dona de casa. Nesse sentido o filme se mostra menos como uma crítica à sociedade de consumo (um perfeito tema para ser destrinchado em uma mesa de bar) do que como um trabalho intimista que, em alguns momentos, atinge ápices similares a Quem tem medo de Virgínia Woolf? ou um daqueles dramas familiares bergmamnianos.

Mas a verdade é que o resultado funciona e agrada, de forma muito conveniente e eficiente. Isto justamente porque o casal insiste em determinar a própria infelicidade conjugal como resultado direto da asfixiante vida de um subúrbio americano da década de cinqüenta. Eles se mostram incapazes de perceber que nem mesmo Paris salvaria seus relacionamentos – seus planos de mudança para França não deixam de ser um mero escapismo. Em vários momentos o cenário exuberante do condomínio Revolutionary Road se projeta sobre a janela da casa dos Wheeler, mas por trás da vidraça vemos o olhar angustiado de Kate Winslet. Uma expressão similar se expressa no semblante atormentado de DiCaprio, também acometido pelo “peso do vazio”, retornar para a casa e fitar seu palacete, parado em seu verdejante gramado, lhe trás uma sensação indizível de desconforto.

Os personagens revelam uma incapacidade de desejar, não conseguem amar nem a si próprios, que dirá a terceiros, mesmos os “atos de infidelidades” são entremeados mais pelos sentimentos de culpa do que os de prazer. Eles falham até nos momentos de transgressão, pois são péssimos atores, despreparados para interpretarem os papéis que lhes foram destinados – não conseguem ser o casal moderno, mas tampouco o casal tradicional. Não resta nem o consolo da revelação de um sentimento sublime depois de terminada a farsa e retirada as máscaras de atuação, pois o ódio parece acompanhá-los por todos os momentos. Prevalece o sentimento auto-destrutivo em lugar da percepção crítica ou mesmo autocrítica.

Nesse sentido, o “louco” (um matemático excêntrico) é o único que se impacienta com a comediazinha suburbana apresentada. Ele deseja gritar: “vocês são infelizes porque se odeiam, não culpem essa merda de lugar”. No entanto prefere dizer que ele se sentia feliz por não ter o triste desígnio de ser a criança crescendo no ventre de Winslet, gerada em um ambiente de tamanha hostilidade e insanidade. Bem feito. A figura do louco está aí na cultura ocidental por alguma razão, isto é, escancarar o que os “normais” temem revelar.

Difícil compreender o que realmente queria esse “casalzinho moderno”. Não há necessariamente problema nenhum em cometer adultério, em gostar de ter um trabalho maçante, em interromper uma gravidez ou então até em se entediar com os trabalhos domésticos. Só não ponham culpa no sistema, é fácil demais. Os espíritos livres se expressam em qualquer lugar, pelos meios mais criativos possíveis (incluído aí, o sexo com o vizinho ou o teatro amador).

O que não pode ser é justificar as falhas individuais nos problemas coletivos. O filme parece ir nesse sentido, mas é só impressão, ele diz justamente o oposto. Brilhante.

As convenções sociais nos impõem normas, cabe a nós encontrar os meios de flexibilizá-las, coincidindo a felicidade individual com a coletiva. Isso era verdade Antigüidade Clássica e ainda continua sendo.

Cotação: Bom

Velozes e Mortais


Velozes e Mortais (Highwaymen), 2003. EUA. De Robert Harmom

Antes de criticar o filme tenho que criticar a mim mesmo. Estava na locadora e o rapaz me sugeriu "Velozes e mortais". Eu perguntei se era bom e ele na maior cara lavada disse que sim. Eu sabia que ele estava me enganando, mas porque sempre me deixo ser enganado? O filme é uma história idiota (psicopata que usa um carro para matar pessoas) cheio de clichês e furos no roteiro.

Vou citar só alguns exemplos, pois não quero perder mais tempo com essa lástima...

1) Filme de carros envenenados (que conceito interessante!)

2) O relacionamento entre os protagonistas é totalmente forçado. Há um momento em que o personagem principal se vira para deixar que a "mocinha" se troque (que clichê)!

3) O filme é uma história de vingança que, como já foi assinalado por diversos críticos, marca o cinema americano pós 11 de setembro.

4) Só para constar, o personagem principal força a moça a acompanhá-lo, o que é rapto. Mas ela aceita ser subjugada e troca olhares sugestivos com seu protetor... Que lixo!

Sem cotação

Pós-escrito: essa foi uma das primeiras críticas da antiga versão desse blog. Muita ingenuidade esperar algo de bom desse filme. O marketing se baseava no ator James Caviezel, que havia interpretado A Paixão de Cristo. Também se aproveitava do recente lançamento de Velozes e Furiosos. De um lado, Jesus, do outro, carrões envenenados. Bons tempos.

Aproveito a ocasião para revelar (por que agora além de filmes aqui vai ter depoimentos pessoais sobre as fraquezas masculinas...) que finalmente virei homem e vou tirar carteira de motorista. Espero utilizar minhas novas habilidades para arrebatar moçoilas tão prendadas... ou não... ou não...