A Filha do General. The General's Daughter. De Simon West, 1999.
Um thriller policial com ação e
todos os elementos característicos do cinema dos anos 1990. Conhecido por seus
filmes de ação, Simon West aposta novamente em personagens durões e outsiders.
Aqui, temos John Travolta como um investigador da polícia militar, designado
para elucidar o assassinato de uma oficial do exército: a capitã Elizabeth
Campbell, encontrada amarrada e, possivelmente, estuprada.
Elizabeth é filha de um general
prestigiado e em ascensão política, cotado inclusive para a presidência dos
Estados Unidos, adicionando, assim, mais tensão e urgência à narrativa. A
partir desse ponto, a misoginia das Forças Armadas americanas começa a se
revelar.
Se a premissa é promissora, seu
desenvolvimento deixa a desejar. O filme até funciona, mas exige boa vontade do
espectador. Travolta, com seu estilo canastrão hipertrofiado, encarna bem o
papel: um sargento e investigador que não segue as regras. A condição de
investigador militar parece lhe conferir certa liberdade para burlar a
hierarquia, mas isso nem sempre soa verossímil – como na cena em que prende um
coronel sem grandes consequências. É um exagero típico do gênero, mas que
enfraquece a credibilidade da trama.
Essa liberdade narrativa em torno
do herói determinado a se contrapor ao sistema não é muito realista.
Investigadores militares, especialmente de baixa patente, não teriam tanto
autonomia para interrogar ou prender oficiais superiores. O filme conta com a
suspensão de descrença da audiência média. Esse tipo de personagem não é
exatamente os anti-heróis que vemos hoje, mas é o mais próximo que se tinha na
época; eram frequentes no gênero policial (vide Máquina Mortífera).
O filme busca criar um clima de
tensão crescente. A pressão sobre os investigadores e o receio de que o caso
escape da jurisdição militar para cair nas mãos do FBI são bem traduzidos pela
fotografia: com baixa saturação e textura granulada, a imagem transmite a
atmosfera insuportável em que vivem os personagens. Estão sempre transpirando e
seus rostos molhados e ofegantes reforçam a sensação de calor opressivo, como
se a própria instituição estivesse febril diante da possibilidade de escândalo.
Porém, as cenas de ação são
insuficientes para um público apreciador de embates mais diretos. As rotinas de
investigação não convencem plenamente e, para contornar isso, o roteiro recorre
a situações forçadas – como a presença de uma investigadora civil desguarnecida
em um cenário hostil, exposta aos militares. O médio oficialato também é
representado de forma apequenada, sem se manifestar como contraponto adequado
ao sargento durão de Travolta.
A temática é relevante,
especialmente por abordar a posição delicada das mulheres no ambiente militar.
Mas, como era comum nos anos 1990, elas aparecem pouco e quase sempre como
coadjuvantes ou vítimas. Não são totalmente passivas, mas continuam presas a
estruturas que não controlam. Toda a agência cabe ao personagem de Travolta,
que sai metendo o pé em todas as portas até encontrar, meio ao acaso, os
verdadeiros culpados.
Para o espectador atual, o filme
tem valor limitado, mas serve como peça de época. É um exemplar de um momento
em que o “cinemão” buscava narrativas mais adultas, ainda distante da era dos
super-heróis e do predomínio dos efeitos visuais. De certo modo, o filme
oferece um mergulho no universo militar norte-americano, com tintas políticas,
mas termina mirando na denúncia institucional e acertando numa ferida mais
íntima: a figura paterna ausente e a solidão traumática da filha do general. O
desfecho é triste, pouco redentor, mas coerente com esse cenário em que as
Forças Armadas dos Estados Unidos tentavam tornar-se mais inclusivas.
Cotação: ☕☕☕
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