Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park), 1993. De Steven Spielberg.
Antes
de tudo Jurassic Park precisa ser entendido como um filme, ou seja,
antes da superexploração por meio das franquias pasteurizadas tivemos uma
história que realmente valeu o ticket do cinema. Em retrospectiva, podemos ter
dificuldade em apreciar seu impacto à evolução do entretenimento, mas o apuro
técnico dos efeitos especiais abriu novas possibilidades para os filmmakers.
Jurassic Park foi a superação do Tubarão (também do Spielberg), e se há semelhanças eles – o confronto entre homem e natureza e a inversão da relação caça-caçador, por exemplo – a escala de cada uma dessa mitopéias é distinta.
O tubarão era um invasor individual, até interpretado como
resultado dos desequilíbrios ecológicos – algo presumível da história de Peter
Bencley, o autor do romance original. Já os dinossauros foram resultados do
poder da ciência maximizados pela caótica força motriz da vida. Ideia
concebida por Michael Crichton em seu best-seller, o próprio Jurassic Park.
Chrichton inova, pois não temos aqui um mundo perdido tal como nas histórias de
Conan Doyle ou Júlio Verne; as criaturas extintas voltaram à vida por meio do
desiderato de um show business vocacionado em ser um Walt Disney com
engenharia genética.
Jurassic Park finalizou um trabalho iniciado com King Kong, Godzilla e outros monstros gigantes (kaijins) mundo afora. O roteiro é um primor didático pela simplicidade de uma narrativa bem contada. A apresentação dos personagens e do cenário, as complicações da trama e o aparecimento do inimigo ensinam-nos como guiar a imaginação; e do espanto caímos para o mar do merchandising.
Eis a dita magia do cinema operada no convencimento do público quanto a realidade do que se passa na tela. Os efeitos especiais e visuais hoje parecem-nos banais, mas inauguraram uma expectativa de receber a fantasia realista em seus detalhes – cada vez o esforço da imaginação passa a ser menor. Ao refletir sobre o realismo de Jurassic Park não posso me esquivar de rememorar o non sense do quadro Dinosaurier auf der Autobahn (1980) do pintor suíço Giuseppe Reichmuth. É o monstro entrando naturalmente na ossatura do cotidiano.
Basta olhar para a tela, tudo está lá, mastigado e plastificado. No lançamento de Independence Day (1996) e Star Wars – Episode I (1999), para citar dois outros arrasa-quarteirões, o trabalho de educação das sensibilidades levado a cabo por Spielberg (e também por Georg Lucas) já estava concluído.
O
sucesso dos dinossauros gerou uma superexposição do tema com uma posterior
infantilização (as crianças adoraram), mas em certa medida eles foram apenas o
instrumento de conscientização do grande público. Pacotões de pipoca e pepsi-cola enquanto assistem seres irreais agindo da forma mais realista e verossímil
possível: eis o melhor programa da nova era de ouro do cinema.
Sucesso
total: todos abarrotados, amarrotados e arrotados.
Mas
e aí, o que viria depois disso?
- Ei, ali na frente, é um robô ou um carro fazendo uma conversão?
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