quarta-feira, 17 de abril de 2024

O Chamado 4: Samara Ressurge

O Chamado 4: Samara Ressurge (Sadako DX), 2022. De Hisashi Kimura

Durante muitos anos, nenhum filme remetia-me tanto ao medo como O Chamado (The Ring, 2002). A ambientação (da floresta, do poço e do farol) e as regras da maldição da garotinha de cabelo escorrido vingativa eram um exemplo perfeito do medo privado. Quero dizer, os terrores que você passa solitariamente, justamente ao contrário dos filmes zumbis nos quais os terrores são coletivos. Inclusive tenho um texto comparando Madrugada dos Mortos com O chamado.

Eu assisti algumas das versões japonesas, a franquia é numerosa, porém, sempre achei a americana mais consistente. E eis que nos chega esse intempestivo O chamado 4: Samara ressurge que não tem nenhuma relação com a sequência norte-americana (daí esse título ser muito apelativo).

O filme é até divertido, mas se você suprimir a expressão patacoada do seu vocabulário. A ideia original da versão japonesa continua: quem assiste a película amaldiçoada, amaldiçoado será. A fita VHS é o vetor de um vírus intrapsíquico. O vírus/maldição se tornou mais letal porque se dispersa em uma velocidade maior (pós-modernidade!). Os elementos básicos continuam, porém em um clima de terrir. Os personagens principais são estudantes com comportamentos estereotipados, um roteiro bem irregular com clima de Todo mundo em pânico.

Ayaka Ichijo é uma secundarista com QI 200 (sei, vai vendo) que precisa derrotar a maldição recaída sobre a irmã, para tal  propósito conta com a ajuda do inútil Oji Maeda, um aprendiz de paranormal que aprecia pagar de galã no jeitinho sul-coreano de ser. Ayaka o gênio passa toda a projeção a se contradizer, correndo de um lado para o outro e usando as redes sociais do celular para buscar uma pista.

A pobre Samara (na verdade, Sadako) encontra-se tão despersonalizada que muda de rosto a todo instante, uma de suas estratégias para confundir as vítimas (nesta versão ela não sai da televisão). Sua manifestação lembra a criatura de Corrente do mal (It follows, 2014), mas neste último caso temos um monstro que quanto mais se aproximava mais amedrontador ficava. Nesta versão Sadako está mais para timer do que para um fantasma incompreendido e raivoso.

Com um desfecho pastelão, “O chamado 4” é um ótimo ensejo para refletirmos que alguns dos medos do passado precisam ficar por lá, caso contrário você se dará conta que as noites de sono mal dormidas foram causadas por um canastrão com peruca espalhafatosa.

Cotação☕☕

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