Crepúsculo (Twilight), 2008. EUA. De Catherine Hardwicke
Ou Faz dodói no meu pescoço.
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O público está em pavorosa, passei no shopping essa semana e vi uma longa fila, fazendo ângulo de 90º. Titanic ressurgiu das profundezas do oceano, mas sem o Leonardo Dicaprio. O bonitão da vez é Robert Pattinson.
Nada contra, não cabe ao crítico ditar as tendências do momento. Mas vale a pena compreender. Esses filmes nem mereceriam maiores elucubrações. Adolescentes precisam de ídolos fugazes: garotas idealizam o rapaz perfeito e os rapazes aprendem os maneirismos do rapaz perfeito.
Tudo muito simples. O que me assusta é a quantidade de adultos enfrentando horas de fila para ver algo previsível e maçante.
Bem, antes que a Lua Nova aparecesse nos céus do consumismo, tive a oportunidade de testemunhar o crepuscular do bom senso, quando o acaso me colocou diante dessa obra prima do universo teen.
Estamos no século XXI:
Fim do sábado. Calor insuportável. Estou sentado na porta da sala com uma lata de cerveja e sem camisa (a cena não é sexy, pois sou gordo e careca). Toco as moscas com a camiseta amarrada em minha mão como se fosse um chicote.
Minha sobrinha se aproxima toda saltitante dizendo “Tchau Tio”. Eu pergunto se ela vai à padaria e peço para trazer uma cerveja na volta. “Não, tipo, eu vou assistir Lua Nova tio” (frase dita ao som de Trident sendo mascado).
Só então reparo em suas roupas mui curtitas, sua maquiagem estilo “Cresci mamãe” e aquele cheiro de perfume Avon. Vejam, não que eu seja um cara mau, mas eu estava sozinho em casa e não queria ter a responsabilidade de liberá-la para esse mundo afora, tão fugidio e perigoso.
Inicia-se um debate entrecortado por cenas de choro, nas quais ela tenta me convencer que “todo mundo” vai assistir ao filme! Que é injusto. Que ela quer morrer. Que ninguém mereeeeeece. Eu abro os braços e digo, “Veja, eu não tenho a autoridade para te liberar”.
Ele corre para o quarto chorando. Digo que ela pode fazer qualquer coisa, salvo por os pés na rua. Motivado por remorsos pego um DVD pirata jogado em um canto da casa (federais, não fui eu quem comprei!) e, como forma de fazer as pazes, insiro-o no aparelho. Funciona! Assim como os marinheiros são atraídos pelo som das sereias, as adolescentes são atraídas pelo som de:
Crepúsculo:
Já vi. A mesma história. Batidíssima.
Uma garotinha com estilo pós-emo abandona seu amado Arizona para morar com o pai em uma enevoada e chuvosa cidade nos cafundós da América (Forks). Lá vemos a mesma balelice de sempre: as dificuldades de adaptação ao colégio, a dinâmica das paqueras, as amizades e os profundos dilemas existências próprios daquela parte da vida na qual sua única preocupação é ter que arrumar preocupações.
Essa garota, Isabella, percebe que em seu colégio existe um grupo de anti-sociais (uau! Que original!), distantes e blasés. Mas entre eles há um cara tão bonito, tão fofucho, tão misterioso, tão gatoso e, que perfeito, tão solteiroso!
Esse rapaz, com malhas grossas e cabelo arrepiado, tem um segredo todo especial... ele é um... [suspense] vampiro! Sim, mas um vampiro do bem, porque ele não ataca pessoas, sobrevive apenas abatendo animais – WWF, olha a contra-propaganda do inimigo...
O romance entre eles custa engrenar, até porque – temendo por sua natureza vampiresca – o jovem evita a companhia da bela Isabella. Mas o amor é irresistível, apesar das proibições e interdições, os dois jovens se apaixonam e se preparam para um grande romance.
Er... jovens não, pois Edward Cullen já tem, mais ou menos, uns cem anos, não obstante ter uma cabecinha de 15, cabecinha essa responsáveis por frases do tipo: “Não quero te machucar” ou “Se encostar nela eu te mato”.
Eduward é um dos integrantes da família Cullen, conhecida entre os índios da região pelo estranho comportamento. De fato! Vampiros que saem à luz do sol? Muito estranho! Muito estranho mesmo! De qualquer forma, durante o desenvolvimento da história fica patente o antagonismo entre os draculosos e os “apalaches”.
O romance entre os adolescentes (sic) vai bem até um novo grupo de sanguessugas chegar à cidade e, por uma razão bem pouco plausível (salvo se você tiver 17 anos e muito testosterona nas veias), decidirem perseguir a bela Isabella.
Bem, que venham os clichês: a moça fraca e burrinha que sempre se mete em perigos, salva no último instante pelo intrépido galã. Vampiros do bem, guiados providencialmente por um sábio mestre.
Ao término da projeção, minha sobrinha era só lágrimas – e olha que ela deve ter assistido essa fita pirata (que feio!) umas dez vezes. O filme não é nem de todo ruim, apenas um produto que já foi vendido nos mais variados formatos, embalados em distintos papéis de presentes.
Há que se questionar a razão para o sucesso de uma película tão choca. O fascínio por essa triologia em específico será motivo para um próximo post. Para não parecer preconceituoso assistirei Lua Nova primeiro. Irei sozinho, pois minha sobrinha não quis ir comigo, não entendi as razões, mas ouvi ela resmungar algo como “queima filme”.
Estou ansioso. Vampiros “vegetarianos” e fosforescentes. Adolescentes perdidamente apaixonadas, ressentimentos pelo baile da formatura. Habilidade de ler mentes e prever futuro, nativo-americanos com carinhas de mau. De fato, promissor.
O que virá em seguida, isto é, além dos dilemas sentimentais e baldões de pipocas?
Só faltam aparecer bruxas ou lobisomens... eh, eh, eh... lobisomens.
Cotação: fraco
22 de novembro de 2009