sábado, 17 de outubro de 2009

A Vida Secreta das Abelhas


A Vida Secreta das Abelhas (The Secret Life of Bees), 2008. EUA. De Gina Prince-Bythewood

A nossa relação com o cinema é engraçada. O que nos estimula a pensar sobre o cinema? Em que momento a crítica nasce? De onde vem a cinefilia? Há algum tempo que não escrevo, na verdade, minha ligação com a sétima diminuiu. Trabalho excessivo, incumbências e dissabores da vida cotidiana resultaram em idas rareadas ao cinema e, mesmo em casa, a disposição em assistir filmes se tornou menor.

Trabalhos consistentes, ou ao menos provocadores, como Watchmen, A Onda, Bastardos Inglórios e Adeus Solo não me motivaram ao exercício da escrita. Acho que ainda não era a hora do retorno ao “pensar o cinema”. Mas essa nulidade, The Secret Life of Bees, relembrou-me a importância de uma leitura do filme mais adensada.

Nada que mereça destaque nessa película: melodramas esquemáticos, aquelas histórias de teor feminista um tanto esquisitinhas. Mulheres (no geral negras) contra um mundo cruel e masculinizado, trata-se da busca de um lugar, onde as tessituras do segundo sexo possam se desenvolver em segredo.

O texto parece ter sido redigido por um estudante de psicanálise, os personagens apresentam uma estranha compulsão para a auto-análise. Buscam solucionar seus conflitos, sejam sociais, internos (da própria subjetividade) ou de relacionamentos por meio de insights inverossímeis, típicos diálogos que nunca vemos na vida real.

A obviedade dá o tom do filme, a começar pelo paralelo entre as abelhas, insetos laboriosos com comportamentos que nem os próprios apicultores entendem, e as irmãs Boatwright, negras trabalhadoras e instruídas, proprietárias de uma indústria caseira de mel na machista sociedade sulista. Pobres abelhinhas contra um mundo adverso, mas resistentes, devotas da Maria Negra, uma imagem que apareceu miraculosamente para dar esperanças aos oprimidos e às oprimidas (ênfase nessas últimas, por favor), além de ser o logotipo da fábrica.

No mais, tudo transcorre sem grandes surpresas, cada personagem tem uma função, a abelha rainha, August Boatwright (interpretada por Queen Latifah), June, uma orgulhosa zangão e a tolinha May, nas vezes de uma mera abelha operária. Destaque para a atriz Dakota Fanning, que interpreta a adolescente de 14 anos Lily Owens, uma jovem moça iniciada na milenar arte de “como os homens brancos são maus”.

É o cinema unidimensional, sem qual qualquer profundidade, com certa propensão para o dramazinho barato. Cinema feito para um nicho muito específico, fala-se do feminino, mais não da feminilidade, as próprias mulheres se definem em função do homem – odiá-los ou amá-los? E, se amá-los, como não ser desonradas por algo tão bruto e incompreensível? Para June, a grande vitória da sua trajetória foi romper com sua masculinidade, aceitando seu lugar de mulher no mundo – o que no caso significou um casamento... contradições Simone de Beauvoir, contradições...

Questões de gênero fazem mais sentido para aquele pensamento binário americano, mas no caso dos brasileiros, híbridos a todo instante, A Vida Secreta das Abelhas é enjoativo demais. Não digo “água com açúcar”, acho que “água com mel” seria uma definição mais apropriada.

E o blog retorna.

Cotação: Fraco

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