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domingo, 20 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal


Atividade paranormal (Paranormal Activity), 2009. EUA. De Oren Peli

Ou Marmelada!

Um dos casos em que não existe filme, mas tão somente o marketing do filme.

É o faz de conta. Faz de conta que existe um filme. Faz de conta que atrás da porta tem um fantasma. Faz de conta que o filme dá medo.

Chega de câmera subjetiva e enganações baratas! Não se sabe mais fazer terror, a picaretagem é o carro chefe absoluto.

Em, A filosofia do horror, Noël Carroll mostra que o aparecimento gradual do sobrenatural é um dos enredos mais característicos do gênero, O exorcista seria o exemplo mais completo. Atividade Paranormal se baseia em uma versão simplificada dessa proposta.

Um casal desconfia que há uma entidade perambulando seus aposentos, para entender o que está acontecendo eles decidem deixar uma câmera ligada. O resultado é assustador, desde que você seja filho de um gato escaldado...

Michael, quase sempre com a câmera em suas mãos, tem uma atitude desafiadora, desconfia da existência de seu hóspede e o provoca durante vários momentos. Katie sabe que ele é real, pois desde sua infância sente-se perseguida por tal criatura.

Durante o desenvolvimento da história, entendemos que a assombração não é um espírito humano, mas um demônio. Provavelmente há uma razão para sua perseguição a Katie, talvez ela saiba o porquê, porém isso não é mostrado, apenas vemos seus prantos após ter revelado o suposto segredo ao seu companheiro.

Dentro de uma outra linha e proposta, mas com pontos em comum, Arraste-me para o inferno de Sam Raimi seria infinitamente superior, uma forma mais burlesca e muito menos cara-de-pau de representar as diatribes do maligno. Atividade paranormal não passa de uma embalagem vazia.

Embora eu não seja um psíquico, vou me arriscar em uma previsão, este tão propalado “terror da década” está destinado a um rápido esquecimento. Digamos, no momento em que escrevo a crítica, ninguém mais se lembra dele.

Assustador.

Cotação: péssimo

20 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Noite dos Mortos Vivos


A Noite dos Mortos Vivos (Night of Livind Dead), 1968. EUA. De George Romero

Você já leu Max Weber?

Eu nunca li, ao menos não de todo. Alguns trechos, capítulos, excertos. Tudo bem, ninguém é obrigado a ler Max Weber. No entanto, não parece ser intelectualmente honesto citar um autor sem conhecê-lo: sem dúvida, muitos comentam seus textos, mas poucos, de fato, já o estudaram.

Nunca havia assistido a “obra prima” de George Romero, não obstante meu interesse pelos filmes do gênero – confesso que várias vezes citei seu estilo e sua contribuição, um tanto inadvertidamente agora reconheço. Mas parece que não estou só, há tantos equívocos já ditos sobre A Noite dos Mortos Vivos... há mesmo certa supervalorização, e quando vamos a película não há como esconder um desapontamento.

As linhas gerais permanecem (eu já havia assistido o remake da década de 1990), Barba e seu irmão vão ao cemitério visitar o túmulo do pai, mas lá são atacados por um cadavérico, o rapaz morre e a jovem se vê sozinha. Ela caminha até uma casa erma, onde irá encontrar outros sobreviventes.

O primeiro aspecto que chama a atenção é a propalada idéia de que George Romero não dá uma explicação para o aparecimento dos zumbis. Wrong! Ele dá sim, inclusive insiste nisso, não de forma clara e evidente. Mas a chave do problema está lá, comenta-se acerca de uma radiação ou poeira vinda do espaço que seria responsável por trazer a vida aos corpos recém-falecidos. Algo que Ed Wood já havia falado em Plan Nine from Outer Sapce... As barreiras entre o trash e o Cult são tênues Mr. Spock, muito tênues...

O desenvolvimento dos personagens é mais rasteiro do que se pensa, Barba fica em estado de choque e não percebe os conflitos estruturados em torno da casa – sua contribuição ao desenvolvimento da narrativa é pífia. Outro conceito difundido é o de que George Romero mostra que o perigo não só ronda o lado de fora, porém isso é feito com muito menos habilidade do que em outros trabalhos que abordaram esse tema.

As constantes transmissões televisivas (os personagens presos na casa ligam um aparelho) diminuem a sensação de caos e isolamento. A sensação de um Estado capaz de administrar o levante dos mortos é mantida, algo que enfraquece o impacto dramático. Os filmes mais recentes desenvolveram essa premissa de forma muito mais intensa, vide Extermínio ou Madrugada dos Mortos, para ficar nos exemplos mais fáceis.

Não que a intenção seja desmerecer a triologia de Romero (Despertar dos Mortos ainda não assisti), mas o culto aos seus filmes se mostra mais importante para o gênero mortos-vivos do que seus próprios filmes. Além do que suas produções recentes são constrangedoras, isso para não dizer medíocre.

Mas, há muitas boas idéias em A Noite dos Mortos Vivos, o argumento de um conflito civil está presente. Um dos protagonistas é um negro, personagem ambíguo, cujo relacionamento com Barba pode dar a entender o delineamento de um desejo sexual. Estamos falando de um ano que nos Estados Unidos ficou marcado pelas lutas raciais. Muitos cinéfilos e críticos já interpretaram as patrulhas de caçadores zumbis que aparecem nos atos finais como os equivalentes aos grupos de perseguição aos negros no sul dos Estados Unidos. Essa parece uma associação legítima, o que confere a chamada “crítica social” tipicamente presente no gênero.

O desfecho não é otimista, mas também não apocalíptico. Não há uma conclusão, mas permanece em aberto a sensação de anormalidade, de incidente.

Certamente, não é o melhor filme de zumbis já feito, mas a contribuição de A Noite dos Mortos Vivos é inegável. Exerceu influência no cinema trash americano e, curiosamente no italiano, consolidou uma concepção de filme de horror que ainda prepondera.

Com seus altos e baixos, temos um clássico, não absoluto ou indefectível, mas capaz de exercer fascínio ao espectador de hoje.

Bem, acho que já está na hora de ler Max Weber.

Cotação: Regular

30 de novembro de 2009

sábado, 4 de abril de 2009

Fome animal


Fome Animal (Dead Alive), 1992. Nova Zelândia. De Peter Jackson

Tem filme que foi feito por cinéfilo e para cinéfilo, o público usual simplesmente não entende qual o fascínio uma produção ao estilo de Fome Animal é capaz de exercer.

Posso dizer que estamos diante de um clássico dos filmes de zumbis, possível e ironicamente o melhor trabalho de Peter Jackson, infelizmente mais conhecido por ter contado uma história sobre garotos descalços, anéis e elfas peitudas...

Um filme cheio de citações divertidíssimas: vemos um rapaz filho de uma mulher castradora, eles moram em uma casa no alto da colina (Psicose). Também vemos um carrinho de bebê meio sinistro, em seu interior esconde-se uma assustadora criatura (O bebê de Rosemary), isso sem falar do diálogo – se voluntário ou ao acaso, isso não importa – com o excelente A morte do demônio de Sam Raimi.

Lionel é um bom rapaz, porém facilmente dominado pelas pessoas, sobretudo se forem mulheres. Além de ser tiranizado pela sua mãe ainda há os encantos da jovem Paquita – cujo nome, carinha e atuação parecem lembrar os atributos de uma atriz pornô.

Entretanto, um raro macaco da Sumatra (!) mordisca o braço da mãe de Lionel, a Senhora Cosgrove, que se transforma em um... isso mesmo, não precisa nem continuar...

Essa grotesca velha desenvolve uma apetência bem incomum, atacando várias pessoas ao seu redor e, naturalmente, infectando-as. Enquanto isso, a versão neozelandesa de Norman Bates (personagem de Psicose) esforça-se para conter sua genitora e as pessoas por ela agredida, mas sua inépcia faz com que os problemas assumam dimensões cada vez mais desastrosas.

Vale lembrar que Peter Jackson se preocupa em fornecer todos os detalhes para o espectador. Um navio negreiro parou em uma Ilha da Sumatra, ratos gigantescos desceram e estupraram as macacas nativas, desse cruzamento surgiu uma rara espécie capaz de transmitir a peste dos mortos vivos. Quando um desses animais é capturado e levado ao zoológico da Nova Zelândia, os problemas começam. A história se passa em 1957, o que acresce um ar especial ao cenário, ao retratar um modo de vida bem ao estilo do American Way of Life.

Os personagens são muito bem desenvolvidos, mesmo aqueles que aparecem em uma única cena cumprem seu papel, ao exemplo do veterinário nazista. Mas bacana mesmo é o padre que decide “Dar porradas nos zumbis em nome de Deus” ou algo do gênero.

Podemos dizer que Lionel Cosgrave é o oposto de Ash Willians, o personagem do já citado A morte do demônio, um conquistador de mulheres que não tem pejos em mandar os possuídos para o outro mundo. O protagonista de Peter Jackson, no entanto, só se aproxima do seu contra-exemplo nos momentos finais quando, de posse de um cortador de gramas, passa a proferir frases de efeito ao estilo do nosso querido Ash.

O confronto final fica por conta de Lionel com sua mama, que tenta devolvê-lo ao seu ventre, de um jeito ou de outro. Mas até chegar nesse momento, todos os exageros do gore terão sido mostrados... dando enjôos nos estômagos mais fraquinhos e desavisados.

Um filme primoroso, mas que infelizmente tende a agradar somente os fãs do gênero ou os cinéfilos de carteirinha.

Ainda bem que não sou nenhum desses dois...

Cotação: Ótimo

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Extermínio 2

Extermínio 2 (28 weeks later), 2007. Inglaterra. De Juan Carlos Fresnadillo


Da ordem ao caos, do caos a ordem e, da ordem, novamente ao caos.

A frase acima ilustra muito bem o sentido de Extermínio 2, uma excelente continuação do trabalho inicial de Danny Boyle. Nesse filme são abordadas as tentativas da reconstrução de Londres, 28 semanas após o incidente inicial da propagação do vírus.

O exército americano invadiu a Inglaterra, cabendo a si a responsabilidade de reconstrução. Os nossos bons ianques dão como certo a extirpação da doença e a eliminação dos infectados. Portanto são criadas zonas de segurança para o retorno dos refugiados.

Infelizmente, para os sobreviventes ingleses, os americanos são uma péssima tropa de ocupação (vide Vietnã, Afeganistão e Iraque). Como metáfora sócio-política, o filme alcançou seus objetivos, ao mostrar a inépcia dos americanos em administrarem uma zona pós-guera e como seu descuido e truculência atingiram resultados inversos aos esperados.

Quando a reinfestação começa, vemos a disposição do exército em eliminar todos, os infectados e os sãos (em uma atitude que seria congratulada pelo secretário de segurança do Rio...). Mas, é importante frisar que o filme não é maniqueísta, os americanos são bem intencionados, mas, ao se deparem com o caos, o desespero é inevitável.

Inclusive, é curioso pensarmos que neste filme temos uma novidade: o deflagrar de uma nova onda de contaminações era uma possibilidade prevista, daí a existência do esquema de segurança “Código Vermelho” – nos filmes tradicionais, a irrupção dos zumbis era uma imprevisibilidade, dificultando a organização de sistemas defensivos. Caberia entendermos como militares com armas e em prontidão puderam ser derrotados, mesmo com um planejamento prévio. O que temos é uma representação da falência do estado e de sua incapacidade para gerir o conflito civil.

Extermínio 2: uma continuação ou um recomeço?

De fato eu não esperava que a segunda versão tivessem muitas relações com o trabalho original, sobretudo ao saber que os atores e o diretor seriam trocados. Eu já estava esperando a carnificina sem sentido, ao ritmo de Resident Evil. Mas há uma unidade muito grande entre esses dois filmes: os planos gerais da cidade (revelando a desolação ou o recomeço), a fotografia azulada e melancólica (lembrando uma triste manhã de inverno) e o enfoque no desespero dos personagens. Além disso, como um eixo transversal, nos dois casos, teríamos uma trilha sonora similar, alucinada, mas não frenética.

Há algumas falhas no roteiro, entretanto, no próprio Extermínio 1 (28 days later), também existiam problemas, sobretudo na segunda metade, a ponto de alguns falarem em cada metade ser um filme diferente. Já na continuação, a coesão entre os capítulos é bem maior, ainda que o clímax deixe a desejar, resultando em um desfecho abrupto, que quase trai a premissa original. O confronto final, se é que podemos usar esse termo, não é marcado pela proliferação dos “zumbis”, mas sim por um único infectado que é a peça chave da trama.

Personagens: vítimas do caos

Além da crítica a ineficácia militar, a reflexão mais evidente se relaciona a sacralidade da família: ela é uma instância capaz de resistir às pressões da barbárie? Mais de uma leitura pode ser detectada. O enredo se desenvolve justamente a partir de uma cena em que um marido não hesita em abandonar sua esposa a horda de canibais. Arrependido e torturado por sua fraqueza, mais completamente ciente de que no momento do caos e horror a auto-preservação prevalece. Sua consciência é outra peça chave para o desenvolvimento do argumento central.

A principal falha de 28 weeks later reside na quantidade de personagens que dividem os atos. Inicialmente, é difícil sabermos quais serão os eleitos para a sobrevivência e só no meio da narrativa entendemos qual é a escolha feita. Chega a ser decepcionante vermos personagens mais interessantes serem abandonados em proveito de dois adolescentes. Talvez a última tentativa de defender a possibilidade de uma inocência e regeneração.

A globalização do desespero

O final de Extermínio 2 é o encontro com o prólogo de Madrugada dos Mortos. O que é uma pena, pois a singularidade desse trabalho era justamente enfocar na univocidade da experiência inglesa. A possibilidade do vírus sair da ilha, abre um novo caminho a ser explorado, derrubando as certezas de um porto seguro para a civilização. Mas é esperar para ver, por hora, cabe refletir porque as temáticas dos zumbi retornaram com força no cinema hegemônico e mesmo em produções semi-independentes.

Interesse pela crítica social? Ou simplesmente um sentimento de desolação e abandono causado pelas perversidades da globalização?

Cotação: Bom