quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ele não está tão a fim de você


Ele não está tão a fim de você (He's Just Not That Into You), 2009. EUA. De Ken Kwapis

Faz tempo que não escrevo sobre bons filmes, nos últimos posts tenho favorecido essas produções mais insossas, a razão para isso não é o interesse em criar polêmicas ou provocar o espectador médio, mas, confesso, são as nulidades que mais me despertam o fascínio.

O que alguém busca em um filme como esse? Quais os conteúdos ocultos existentes nessas películas?

Parece que estamos falando do amor, mas uma interpretação desse sentimento muito específica, baseada em preceitos próprios de uma sociedade conservadora e de consumo. O velho e desgastado modelo da comédia romântica, com algumas incrustações que iludem o desavisado, a falsa promessa de uma dinâmica mais modernosa.

É um mundo no qual inexiste a pobreza, as únicas preocupações são os beijinhos na boca e o sexo apaixonado. Mulheres buscam o par perfeito, objetivam casar, faz parte da essência feminina; uma das personagens, inclusive, evoca essa lei, ao falar para seu parceiro que o matrimônio é uma etapa obrigatória da vida a dois. Trata-se da naturalização de um modo de vida e da eleição de uma série de valores potencialmente machistas (há a esposa, o marido e as obrigações/funções decorrentes), mas legitimados por um discurso idílico e romântico.

Já os homens estão relutantes em aceitar essa “lei da natureza”, pois são garanhões natos, conquistadores – querem a quantidade e não a qualidade. Quanto mais mulheres passarem pelos seus leitos, melhor. Esforçam para se manterem livres da monotonia do sexo monogâmico, no fim das contas são um presente de Deus para as gentis donzelas.

Na grande batalha dos sexos cabe a mulher um papel fundamental: vencer a áurea cafajeste masculina e impor o desejo de uma vida sob a égide do “... até que a morte os separe”. Jogo da vida, alguns vencem e outros perdem, estes últimos ineptos para os prazeres dos atos conjugais.

Dentro desse universo previsível agem os personagens, que mais parecem autômatos, desde o início condicionados em buscar a “cara metade”, o “par perfeito”, a “alma gêmea”. As personagens femininas são tão estúpidas que realmente merecem a solidão, presas às mentiras masculinas, revelam-se incapazes de escapar do desejo de construir e viver em uma casinha de bonecas. Despendem um bom tempo construindo suas casas (real ou figurativamente), a cenografia diz tudo: “Estamos brincando de The Sims, onde coloco essa cadeira? Qual o ladrilho devo escolher?”.

Os homens são adoráveis vagabundos – com exceção dos pobres coitados que padecem da falta de virilidade e assim não arrebatam as gatinhas mais prendadas, tal como a Scarlett Johansson. Riem da paixão e do casamento até a descoberta do grande amor, nessa ocasião se atirarão encantados em direção aos braços de suas Dulcinéias ou Clementinas. Pelo grau de imaturidade e incapacidade de uma relação responsável com o mundo, todos eles mereceriam câncer de próstata e calvície avançada.

A fórmula do filme segue abaixo.

Ele não está a fim de você. Por quê? É um babaca, um imaturo, não está pronto para o amor, só quer sexo, não quer ter filhos, recusa compromissos, não acredita nos verdadeiros sentimentos. Ele finalmente ficou a fim de você! E aí, o que acontece? Vocês se casam, têm filhos, mudam-se para o subúrbio, andam abraçadinhos e viverão um para o outro.

É um discurso convincente, há sempre um público para acreditar nessas promessas. Mas do ponto de vista da narrativa fílmica percebe-se a previsibilidade e os lugares comuns repletos de moralismos, com implícitos chauvinismos e as homofobias de sempre (mesmo que diluídas em um grau de aceitação social).

Já disse, é a naturalização de um modo de vida, a hipertrofia da esfera privada, o deleite extremo do intimismo. Me fascina a idéia de que tais banalidades tem público cativo, todos os problemas do mundo, dentro de tal perspectiva, findam-se no altar.

Conveniente. Mas para quem? Essa é a pergunta.

Cotação: péssimo

Um comentário:

Márcio Bustamante disse...

"...todos os problemas do mundo, dentro de tal perspectiva, findam-se no altar." Hahaha...muito bom...