sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
O nevoeiro
O nevoeiro (The Mist), 2007. EUA. De Frank Darabont
Cláudio e eu nos conhecemos há muito tempo. De certa forma, acho que ambos somos durões. Mas enquanto ele perfaz o estilo do nice boy corajoso, me sobra o papel do cético-amargo-sarcástico.
É mesmo. Sabe aquele cara dos filmes de terror com um copo de whisky na mão que zomba do perigo? Bem, sou eu. Sim, o tipo de personagem arrogante que sempre morre no final. Já Cláudio pode se gabar: ele é o sujeitinho bacaninha que sobrevive com a linda mocinha loira.
Preâmbulo necessário, pois esse meu bom amigo veio até mim e confessou ter ficado apavorado com O nevoeiro. Bem, vindo de alguém que acho O chamado fastidioso e Dawn of the dead brega, achei promissor. Aluguei o dvd esperando encontrar o “fear”, mas o que eu vi foi uma dissertação sobre os neo-pentecostais... que a julgar por essa historieta até que não são tão descabidos...
Pois bem, logo após uma forte tempestade, em uma cidade interiorana americana (tinha que ser), surge um estranho nevoeiro, trazendo um clima de anormalidade à cidade. Algumas pessoas ficam presas em um supermercado e percebem que algo estranho está acontecendo lá fora. Não é necessário muito tempo para constatar a presença de criaturas dispostas a se banquetearem com a carne humana.
Entre os sobreviventes temos simpáticos idosos, pais exemplares de família (a propósito, pessoas como meu amigo Cláudio), funcionários do estabelecimento, advogados céticos-amargos-sarcásticos (olha eu aqui!) e uma neo-pentecostal fervorosa (queima eles Jesus). Pronto, o cenário perfeito para os embates com o “freak”, sejam as criaturas externas ou internas.
Na medida em que os ataques dos monstros se intensificam, as pessoas ficam mais desesperadas, portanto mais suscetíveis aos trôpegos discursos da beata Sra. Carmody. Na verdade, ela não é de todo mau, já que os demais não conseguem apresentar nenhuma estratégia de sobrevivência realmente válida.
Aliás, se um dos objetivos do filme era a crítica ao discurso neo-pentecostal, cabe dizer que ele falha, pois ao final, a música orquestrada e o clima fatalista gerado nos levam a crer que há momentos em que devemos ter fé e confiar plenamente em um “Deus vingativo e poderoso”, mesmo que no caso seja o exército americano.
É aqui que eu chego ao ponto que gerou essa crítica, pois ao contrário do meu lindo e másculo amigo Cláudio, não vi nada de assustador no filme. Eu já comentei isso antes: eu acredito que os monstros mais perigosos são os humanos, capazes de levar qualquer outra espécie à extinção. Se alguns se apressam e temem o Armagedon fazer o que...
Claro, quem assistir o filme vai entender aonde eu quero chegar.
A ironia! Há ironia! Ah... a ironia....
Como sou cético, amargo e sarcástico.
Cotação: regular
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Revelações
Revelações (The Human Stain), 2003. EUA. De Robert Benton
Pouca coisa pode ser dita sobre o filme, sob o risco de revelar a trama ao leitor. A narrativa tem um encadeamento não linear, permitindo que acompanhemos o passado e presente do reitor Coleman (Anthony Hopkins), demitido do seu cargo devido a uma acusação de racismo, alegada por dois estudantes.
Coleman acaba por se envolver com Faunia (Nicole Kidman), uma mulher bem mais jovem, faxineira da instituição na qual ele trabalhava. A relação com essa mulher e a amizade desenvolvida com um recluso escritor será o ato final de sua vida. A percepção de que seu fim não está muito distante (afinal ele já é um velho homem) o leva de volta ao passado, lugar em que está depositado seu segredo nunca revelado, uma mancha em sua memória.
O passado e o presente têm panos de fundo muito distintos, o atual é marcado pela onda do politicamente correto, no qual uma única palavra pode ser descontextualizada e interpretada como racista. O outro é um momento de racismo institucionalizado, no qual havia dois modos de vida bem diferentes, dos negros e dos brancos. Porém Coleman não vive plenamente nem no ontem nem no hoje, por isso ele compartilha algo com os heróis gregos (que ele mesmo cita), a inadequação perante a hipocrisia e ao moralismo.
Robert Benton é um diretor competente, conseguiu conduzir a história sem adentrar em recursos melodramáticos. Sucinto, escolhe o que dizer e não se delonga no desenvolvimento dos personagens. Parece que o cineasta deixou essa tarefa ao próprio espectador.
O filme é um contraponto a onda politicamente correta que ganhou vulto nos Estados Unidos durante a década de 1990. Um tempo em que a verdade é ocultada ou escamoteada para não ferir suscetibilidades. Nesse sentido o filme entra em contradição, ao expor com naturalidade a nudez de uma jovem atriz (Jacinda Barrett), mas não ter tanta ousadia para mostrar o corpo de Kidman.
De fato há uma névoa de moralismo, que impede que algumas coisas sejam mostradas ou faladas. Revelações trata desse contexto que a propósito ainda vivenciamos, no qual o silêncio e a alusão substituem o diálogo direto. É aquela conversa que é travada na cozinha, só com os íntimos, e nunca na sala, com as visitas.
Sem cotação
sábado, 13 de setembro de 2008
Ensaio sobre a cegueira
Ensaio sobre a cegueira (Blindness), 2008. Brasil/Canadá. De Fernando Meirelles
Mais uma vez a ausência do governo e do Estado é entendida como retorno à selvageria e ao caos. Uma epidemia de cegueira, que aparentemente alcança dimensões mundiais, escapa do controle da burocracia moderna e instaura uma situação insólita, com multidões a tatear em mar de luz branca (ao contrário da cegueira convencional) em procura das condições básicas de sobrevivência. Da incompetência das autoridades em lidar com o problema até as relações hierarquizadas entre os portadores do mal, não há nada diferente do que já tenhamos em diversas outras produções, que só têm em comum essa temática do homem lobo do homem.
Em Ensaio sobre a cegueira, essa situação soa quase absurda ao praticamente infantilizar o comportamento dos personagens. A representação que surge do homem é de uma criatura nada razoável, incapaz de deliberar e convencionar – o que não chega a ser uma difamação, mas tira muito da verossimilhança das argumentações defendidas. Nada de discussão filosófica sobre a condição ou natureza humana, mas sim uma atualização dos maniqueísmos entre mocinho e bandido.
Não há meio termo, simpatizamos com alguns e (o médico, sua esposa, a moça de óculos), em contraparte, nos antipatizamos com aqueles capazes de exigirem que as mulheres se prostituam para receber comida. Também prejudica a história o desenvolvimento do roteiro, resolvendo-se em arrancos, quando um determinado capítulo parece se esgotar um incidente surge para trazer os próximos novelos a serem desenrolados. Assim uma ferida provocada por um golpe de sapato terá ligação direta com a propagação da epidemia em níveis globais.
A fotografia lida apropriadamente com o tema, buscando tonalidades e focos adequados para tematizar esse tipo de cegueira. As imagens da cidade e dos homens que essa projeção revela em seus atos finais têm uma crueldade desnecessária, oposta ao tom esperançoso e humanista visto, por exemplo, no documentário Borboletas de Zagorsk (1992) – quero ressaltar que esse macaco falante tem grande facilidade para encontrar soluções para seus problemas... E aqui, deve-se se atribuir a culpa não à fonte original (o livro de José Saramago), mas ao roteiro e direção que não souberam dar as sutilezas necessárias a assunto de tal complexidade – aspecto explorado acertadamente na crítica de Carlos Alberto Mattos.
Enfim, não estou a defender a razoabilidade do homem em contextos extremos, Blindness convence ao mostrar que nossa civilização é menos estável do que se imagina. Mas o itinerário seguido nessa película é macetoso, colocando pessoas, perdidas em um tipo sui generis de escuridão (claridade tão forte que ofusca) para se chocarem umas as outras. Mais um filme para torcermos pelos personagens principais, se havia a intenção de propiciar reflexão mais profunda ela passou despercebida, perdida em meio a tanta luz.
Cotação: Regular
Sin City
Sin City – cidade do pecado (Sin City), 2005. EUA. De Robert Rodrigues, com co-direção de Quentin Tarantino e Frank Miller.
Sin City é arte. Também, hoje em dia tudo é arte. E, parece, que os clichês são os principais exemplares de um cinema-arte. Se Sin City é arte, não arriscaria em colocar os desenhos do Pernalonga nessa categoria.
Contemporaneamente, existe uma crescente esteticização da violência. Cenas de combates e massacres se transformam em oportunidades para experimentações artísticas, lances de câmeras ousados, fotografias criativas, tomadas surpreendentes. Enfim, cinema como espetáculo.
Mas, para além desses aspectos técnicos, no qual há inegável brilhantismo, resta pouco cinema em Sin City. O resto são as esperadas cenas de vinganças, ações de defensores implacáveis, da eterna luta do bem contra o mal. É certo que há personagens interessantes, como o amigo das prostitutas, com seu tênis providencialmente vermelho, ou então o gigante brutalizado, capaz de sentir, mas incapaz de entender.
De fato, há um pouco de Pernalonga no filme. Saltos, cortes, disparos e tudo mais. A violência paradoxalmente é amenizada para não chocar o público, se insinua mais do que mostra. A intenção é satisfazer nosso instinto sádico sem ferir nossas sensibilidades (sic).
O filme é uma adaptação dos quadrinhos e que, diga-se de passagem, também são considerados arte.
Evidencia-se que o conceito de arte é histórico, cada época tem sua definição. A nossa é a banalidade da violência, desvinculada de qualquer dimensão ética, política e psicológica mais avançada.
É o açougue.
É a cerveja.
Cotação: ☕☕
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Carnival of Souls
Carnival of souls, 1962. EUA. Harcourt Productions. De Herk Harvey
Série: filmes insólitos – n.1
Quando Parque Macabro (1998) chegou às locadoras, lembro de ter espreitado o vhs várias vezes para ler a sinopse no seu verso. Ao final, acabei por não assistir essa produção de Wes Craven intitulada Carnival of souls. Tratava-se, na verdade, do remake de um filme de 1962, dirigido por Herk Harvey e que nunca foi lançado no Brasil.
A década de noventa foi propícia para esse gênero, com exemplares de diferentes qualidades, tais como Pânico, Sexto Sentido, Bruxa de Blair e Eu sei o que vocês fizeram no verão passado – os sustos e a tensão propiciadas pelos macetosos roteiros garantiram sucesso entre os adolescente (eu, inclusive). Justamente em 1998 era lançado o fliperama CarnEvil, ligeiramente inspirado em Carnival of Souls (original e remake), com um visual interessante, onde o jogador deveria enfrentar palhaços assassinos alojados em um circo montado em um cemitério.
Muito “Filme B” pro meu gosto, embora Carnival of Souls (1962) possa até ser considerado um trabalho mediano. A história começa sem maiores preâmbulos, vemos um automóvel com três garotas despencando de uma ponte e submergindo em um rio lamacento. Os esforços para encontrar o veículo ou seus ocupantes são em vão, mas Mary Henry (Candace Hilligoss) aparece cambaleante nas margens do rio. Aparente sobrevivente do sinistro, ela parte para uma nova cidade, conseguindo o trabalho de organista em uma igreja.
Após o acidente, Mary Henry passa a ser acometida por uma sensação de estranhamento com o mundo. Naturalmente introspectiva, suas tendências anti-sociais se acentuam e a moça começa a ter visões de um homem com feições cadavéricas vindo em sua direção. Apesar dos seus esforços em levar uma vida normal, o mórbido gradualmente se apossa do seu cotidiano. Por vezes perdendo o contato por inteiro com as pessoas ao seu redor, ao ouvir uma melodia que quase a põe em transe. Recusando as superstições e mesmo a religião, Mary Henry busca solucionar seu desconforto por meio do intelecto, mas o pavor se revela mais forte e o medo da solidão faz até que ela suporte os assédios do repugnante Mr. Linder.
[Imagem acima: Mary Henry escapa da morte, mas não da influência do mundo dos mortos]
Há uma ruína nas proximidades da cidade que chama sua atenção, um parque de diversões abandonado. Seus delírios sempre a conduzem para aquele local, onde ela visualiza almas executando uma valsa ou então emergindo das profundezas de um lago. A dificuldade de se manter sintonizada com o mundo dos vivos é o elemento de maior interesse do filme, a narrativa tende a expor a subjetividade da personagem, escancarando seu crescente isolamento. No ato final, Mary desiste de solucionar seu problema no mundo dos viventes e parte em direção ao parque, completamente desiludida quanto à possibilidade de ser reintegrada à normalidade.
Trata-se de um filme menor, com todas as características de uma produção independente. A despretensão é sua maior qualidade, revelando uma direção e fotografia satisfatória as suas necessidades. A personagem, no entanto, tem um desenvolvimento rasteiro, dificultando uma melhor compreensão de seus anseios, pensamentos e decisões – prevalece, no entanto, uma sensação de absurdo e divórcio com a normalidade. Mary Hernry, por exemplo, se mostra indiferente ao acidente que matou duas de suas amigas. Seu descuido e crueldade para com as pessoas (e aqui talvez eu esteja extrapolando) me lembra a personagem principal de Lady Vingança, isso em função de sua frieza com relação a todos ao seu redor.
A idéia de um carnaval das almas é obviamente a referência ao baile de mortos entrevisto pela personagem. Trata-se de uma metáfora nada original sobre as dificuldades de driblar o inevitável, isto é, a extinção. Enquanto o cavaleiro em retorno das cruzadas ganha mais tempo de vida jogando xadrez com a morte, Mary Henry busca na luz diurna e nos fugazes relacionamentos sociais e afetivos um meio de não ser tragada pela extinção. Grande é a dificuldade para declinar um convite para a dança da morte.
[Imagens acima: Cartaz do filme (1962) e exibição do título do jogo da Midway (1998), uma diluída inspiração]
Ao que parece, o remake de 1998 introduziu o conceito de palhaços, provavelmente perdendo as sutilezas da versão original. Digo por palpite, já que não assisti a “contribuição” de Wes Craven. Resumidamente, o que pode ser ressaltado de Carnival of souls é sua atmosfera angustiante, em uma visualidade que quase se integra ao onírico. O resultado final é um terror comedido, cuja premissa e desfecho seriam copiados a exaustão nas décadas seguintes.
Cotação: regular
domingo, 31 de agosto de 2008
Andarilho
Andarilho, 2008. Brasil. Cinco em Ponto. De Cao Guimarães
O cinema e a literatura estão repletos de alusões e representações sobre os errantes. Quando pensamos na cultura norte-americana fica ainda mais fácil evidenciarmos a mística em torno desses eternos viajantes. Mark Twain, Henry Miller, Jack Kerouac e Jon Krakauer são alguns dos escritores que já abordaram o assunto. O fascino pela vida na estrada também rendeu excelentes filmes, especialmente na década de 1960, com os chamados road-movies.
Esses personagens, que decidem abandonar o conforto da vida sedentária e os valores e conformismos da “sociedade”, recebem uma caracterização romântica e heróica. São aventureiros, hippies, drogados ou desempregados, mas cientes da decadência da cidade e convencidos de que a verdadeira felicidade e paz interior só podem ser alcançadas em uma vivência do provisório.
O filme de Cao Guimarães traz uma outra identidade para esses marginalizados, em seu cru documentário o que sobressai é a solidão, provocada nem tanto pelo nomadismo, mas por uma condição de loucura. Parece que a imagem de um caminhante aventureiro e crítico não tem respaldo no imaginário coletivo brasileiro, a sugestão do louco andarilho parece mais convincente, expressões de uma cultura tão permeada pelo autoritarismo quanto a nossa. O pobre só é bem visto pelas autoridades quando indo ou regressando do trabalho, seus momentos de ócio devem ser cuidadosamente vigiados. As forças policiais estão sempre dispostas a te abordar e questionar de onde você vem e para onde vai. Restringe-se a pouca tolerância para com os andarilhos, tal opção de vida somente se justifica por se tratar de um demente, alguém que não responde pelos seus atos, merecedor de uma rápida condescendência ou esmola.
São três os andarilhos registrados no filme, e desses dois podem ser considerados pelo senso comum como loucos. O falar sozinho e o estranho gesticular comprovam suas poucas habilidades para o convívio rotineiro, portanto se vêem obrigados a procurar na estrada uma morada; difícil esta sobrevivência, marcada pela fugacidade, precariedade e sentimentos de alheamento. Por não negarem de todo o contato com outros homens eles não podem ser considerados eremitas, caminham pelas margens das rodovias, mas sem a procura por um refúgio definitivo.
O discurso estabelecido por Cao Guimarães é ambíguo, limitando-se a exibir fragmentos da vida desses caminhantes, não há o interesse pela análise ou pelo reconhecimento das identidades passadas e presentes desses homens. Nesse sentido, indiretamente, o que o diretor faz é corroborar com a imagem de pobres loucos trafegantes no norte de Minas Gerais. Vale inclusive questionar qual o direito tem o cineasta em filmar essas pessoas – em invadir seus universos particulares com uma câmera, indecorosa mas não inquiridora. Em fim, qual o compromisso do observador com o objeto observado? Às vezes parecer se limitar a um exercício de esteticização, criando planos belos e inteligentes, alegorias das subjetividades dos andarilhos. Vemos, por exemplo, a trajetória das luzes dos faróis dos automóveis se perdendo na escuridão da noite, quem as observa é um homem velho, cansado e deitado no chão de um bar perdido em lugar nenhum.
A cena final impressiona pela composição apresentada, as noções de tempo e espaço desafiam o expectador. Cenário quase infinito, capaz de engolir carros e homens, um ambiente extraterreno, inóspito e incivil. Conclui-se, portanto, que as estradas – locais de passagem – seriam abrigos somente para os anormais? Aqui está o perigo que circunda o Andarilho. Fica o risco de concluir que o lugar do louco é no hospício (ou então qualquer outro eufemismo em voga) para receber o cuidado e a vigilância necessários. Alguns se convencerão de que a vida sedentária estaria isenta de problemas e patologias, assim a via e a rua só têm como serventias a função de ligar um ponto a outro (dá casa ao shopping, por exemplo). Qualquer ato contra-hegemônico, qualquer indisposição contra as convenções da “sociedade” devem ser relevadas já que são puerilidades e excentricidades de homens que não dominam sua razão por inteiro.
O homem racional sabe de onde vem e para onde vai, traz consigo as carteiras de identidade e trabalho. Tem patrão, tem cartão de crédito, tem celular. As únicas coisas que lhe faltam são as liberdades de decidir e vislumbrar seu cativeiro cotidiano. Mas, como consolo, aos olhos dos demais, ele não é um louco que erra sem rumo ou prumo. Nesse contexto, Andarilho nos convida a pensar as relações e os limites entre a loucura e o bom senso.
Cotação: Bom
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Zohan - Um Agente Bom de Corte
Zohan - Um Agente Bom de Corte (You Don't Mess with the Zohan), 2008. EUA. Happy Madison Productions / Relativity Media. De Dennis Dugan
“Hollywood sempre me surpreende, mas a surpresa dessa vez é positiva”
Já no início a performance de Adam Sandler dá o tom do filme, o puro deboche situado na fronteira entre as paródias de James Bond e o humor negro. Integrante do exército israelense, o agente contra-terrorista Zohan Dvir é um sujeito durão, viril, que adora dar uns sopapos nos opositores de Israel, isto é, qualquer um que tenha aparência árabe.
Pavor dos seus inimigos, herói nacional, objeto de desejo das mulheres. Sim, este é Zohan, com seu cabelo encaracolado e suas roupas dos anos noventa – que agora, de acordo com a “Lei de Laver” é o novo ridículo da vez –, o braço duro do Estado contra as facções e os guerrilheiros.
No entanto, o engodo já se antecipa, por trás dessa versão translocada de 007 encontra-se um homem comum, cujo sonho é ser cabeleireiro. Impedido de exercer seu direito de escolha em uma sociedade que demanda guerreiros (pois todos devem servir ao exército) o personagem simula sua morte e parte para terra da liberdade (precisa dizer onde fica?), lá ele se prepara para começar outra vida, com um novo corte de cabelo tãooooooo anos noventa...
Chama-se agora Scrappy Coco, um imigrante em busca de uma oportunidade... ele segue o sonho americano... o sonho de ter um emprego subalterno. No entanto, sua antiga vida de agente secreto não está superada. Na terra do Tio Sam há vários palestinos que, mesmo vivendo em harmonia com a comunidade israelense local, devem ser vigiados, afinal, o quesito um para ser terrorista é não ser judeu. Além da busca pela profissionalização como cabeleireiro, Zohan deve se preparar para as invectivas de seu arqui-rival Phanton (John Turturro).
Está exposto o quadro, dentro desses argumentos se desenvolverão situações hilárias, caracterizadas pelo desempenho escrachado de Sandler. É o humor do insano, objetivando a ridicularização de tudo e todos. Os “extremistas” dos dois lados são os alvos preferenciais da chacota, os estereótipos vêm à tona e em seguida são ressignificados. Os sotaques, frases e trejeitos dos palestinos e israelenses, ao final das contas, assemelham-se e, para os americanos “típicos”, ambos podem ser ameaças. Em dado momento um personagem revela que a barba do outro constituía em atestado inequívoco de terrorismo: “se eu te visse sentado no avião eu desembarcaria”. Aquele a quem foi direcionado essa declaração escuta, reflete e em seguida concorda com seu conteúdo.
É engraçado porque verdadeiro, diria a velha escola de humoristas de palco.
Eis o grande mérito do filme, trata-se de um trabalho de humor, ignorem a previsível lição de moral, pedagógica e inócua, sobre a tolerância e o diálogo. Em certo sentido teríamos um filme quase político, caso entendamos a zombaria como um esboço de posicionamento crítico. Quando uma discussão sobre a contribuição de Bush para a geopolítica é insinuada, o assunto degringola para uma série de referências sexuais, como, por exemplo, as cochas (pernas) de Hillary Clinton. Explicita-se algo que muitas vezes é esquecido, a comédia não precisa assumir a condição de propaganda, basta ser engraçada.
As próprias cenas de ação soam irreais porque assim o querem, a masculinidade inconteste de Zohan se contrapõe à nova profissão por ele escolhida e tão estigmatizada como afazer afeminado. Os recursos à violência são quase redundantes, pois as questões se resolvem por sua sexualidade, antes de ser uma gente secreto Zohan Dvir é um “bond cama”. Aí está! Paródia das paródias de James Bond.
Não tenhamos ilusões, You Don't Mess with the Zohan é piada, e não discurso sobre a igualdade humana, mas ainda sim destoa do neo-conservadorismo reinante. Em épocas de trevas densas a luz de uma lamparina é quase um farol.
Cotação: Bom
Lutero
Lutero (Luther), 2003. EUA/ Alemanha. NFP teleart / Eikon Film / Thrivent Financial for Lutherans. De Eric Till
Lutero é um bom filme, a direção de fotografia e os cenários se revelam satisfatórios. Há momentos em que a câmera gira em torno do personagem e captura o cenário, de tal forma que vemos a paisagem a partir de sua perspectiva. É o caso, por exemplo, da primeira vez que ele se depara com Roma, ao ver um Arco do Triunfo.
Contudo há um ou dois anacronismos que deve ser registrados. Em primeiro lugar (isso é só implicância) uma das personagens utiliza a expressão "inércia" com um sentido contemporâneo. Não é preciso dizer que essa palavra não estava difundida na primeira metade do século XVI.
Em seus sermões, Lutero mais parece um Seinfield do que um religioso quinhentista. Acho pouco provável que um padre tivesse aquela forma de discursar. O humor utilizado em seus sermões parecem estar descolados daquele momento histórico.
Outra coisa, o comportamento da esposa de Lutero é totalmente descontextualizado. Essa foi difícil de engolir. Imaginem: ela jogando travesseiros na cara de Lutero, nervosa por ver suas núpcias interrompidas.
Ai, ai.
Sem cotação
P.S.: Republicação de uma das minhas primeiras críticas. O engraçado é que, na época, um leitor postou um comentário criticando meu texto e mandou-me ir estudar história. Como eu havia acabado de me formar nesse curso, todos acharam quem fui eu que inventei aquela frase para criar falsa polêmica.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Abismo do Medo
Abismo do medo (The descent), 2005. Inglaterra. Pathé / Celador Films. De Neil Marshall.
"Abismo do medo ou quando Sex and the city vai à caverna"
O filme tem um final feliz.
Só quem assistiu ao filme vai entender o que eu quero dizer...
Seis mulheres acostumadas a fazer tours de eco-aventura decidem explorar uma caverna. Porém após um desabamento acabam por ficar presas em seu interior.
A premissa inicial é promissora. Uma das estratégias clássicas para nos conduzir ao medo é nos confrontar com o desconhecido. Funciona tanto para estruturar a trama quanto manter o telespectador interessado. A maior parte das pessoas diria: “nunca entraria em uma caverna como essa”. Mas, a verdade é que no momento em que assistimos à projeção nos comportamos como se fossemos as vítimas.
Imaginem: 3 km sob a terra, passando por lugares estreitos, a escuridão reina, as lanternas falham, o grupo está tenso (isso é um clichê, mas é verossímil e sempre funciona). Temos todos os ingredientes para construirmos uma história assustadora. Certo?
Errado. Infelizmente o que eu descrevi são apenas os primeiros atos do filme. Uma vez presas, a trama começa a se degringolar por um itinerário não muito original. Passamos de uma história de sobreviventes para um trilher de horror. No interior das cavernas elas percebem que não estão sós, que lá embaixo há estranhos hominídeos, verdadeiros canibais.
O tema da aparente normalidade é interessante. O que parece ser algo normal – somente mais uma caverna – esconde criaturas aterradoras. Esse conceito está presente em vários filmes de qualidades duvidosa como o clássico O massacre da serra elétrica, Pânico na floresta e Plataforma do medo. Uma casa no Texas interiorano esconde uma família de canibais; em uma floresta, uma outra família de canibais, geneticamente deformados, ataca viajantes na auto-estrada; dentro do túnel de um metrô uma estranha criatura perambula, vitimando trabalhadores e mendigos.
Esse tipo de horror está sustentado justamente nessa dualidade, a normalidade aparente esconde o covil do monstro. Se você seguir o caminho normal tudo estará bem, mas um simples atalho poderá conduzi-lo até o bestial.
Assim, assim. No caso de Abismo do medo, não funciona.
No momento em que as exploradoras ficaram presas e se depararam com seus habitantes, deveriam ter dito: “Olha, nós viemos lá de cima, estamos dizimando as formas de vida da superfície – na verdade estamos pondo fim no próprio bios – não se metam conosco por que somos humanas”.
E não estariam mentindo, pois, no decorrer do filme, as moças revelam uma grande facilidade para dizimar as criaturas da caverna. Lógico que as donzelas estavam salvando a própria pele e ao seu redor só havia carnívoros. Mas, bem, nesse sentido o filme, indiretamente, revela um pouco da banalidade do eco-turismo, o quão indesejável e predatória é a presença do homem.
Podemos perceber que havia um antigo equilíbrio biológico entre aquelas criaturas e a natureza ao seu redor. O azar das moçoilas foi se depara com esse ambiente no qual, definitivamente, não eram bem vindas.
Claramente essa é uma extrapolação um tanto maldosa, porém ela pode ser sentida dentro do filme. As rápidas aparições das criaturas assustam as girls e o telespectador, muito mais do que quando suas presenças passam a ser constante. Na medida em que o desconhecido vai se revelando como mais uma criação (mesmo que aberrante) da natureza, as senhoritas invectivam contra seu algozes com muito mais ferocidade. Houve um momento em que, rodeadas por seus inimigos, em uma postura de defesa tão cenográfica que eu gritei: “Mate esse maldito orc Legolas!”
Contudo há pontos positivos no filme, não há porque culpar o roteiro ou a direção. Não há, por exemplo, aquelas típicas personagens histéricas (que a gente ajoelha e reza para o assassino matá-las logo), as aventureiras também não cometem erros típicos, embora desesperadas conseguem reagir à altura dos acontecimentos. Mulheres modernas, arrojadas, independentes, que não ficam dando gritinhos, mas que conseguem um tempinho para discutir seus relacionamentos: Sex and the ciy and cave.
No ato final do filme, a premissa inicial da normalidade versus anormalidade é retomada, em uma seqüência intensa, na qual vemos uma das personagens vislumbrando sua escapatória. Não é um filme de horror, é um filme ecológico, me convenceu de que há nichos dos quais nunca deveríamos entrar...
Que ultraje. Mas o final é feliz, isso vocês vão ter que concordar.
Cotação: regular
P.s: Esse filme não é de todo mal, eu o reassisti e até vi algumas boas idéias, mas a cotação permanece. Observem também o formato diferenciado do cartaz, verticalizado.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
O Grande Dave
O Grande Dave (Meet Dave), 2008. EUA. 20th Century Fox Film Corporation. De Brian Robbins
As roupas de Eddie Murphy não enganam, essa comédia está fora do seu tempo, de sua década. Embora os trajes de Dave sejam dos anos 70, o filme nos remete às comédias dos anos 80 saborosamente inverossímeis. Quando criança, lembro de ter assistido a história de um príncipe africano que decide partir do seu país e rumar para a América em busca do verdadeiro amor. Cavaleiro em reino distante e que acaba por encontrar sua princesa em uma selva de concreto. Contos de fadas contemporâneos...
Dessa vez temos uma nave com formato humano, pilotada por pequenos alienígenas, que decide aterrizar no solo nova-iorquino para encontrar a solução para a ameaça que paira sobre seu planeta de origem. A nave em questão é Eddie Murphy, andróide totalmente interativo, controlado por uma disciplinada tripulação sob a batuta do Capitão, interpretado por esse mesmo ator.
O filme só funciona por causa do protagonista que com suas gesticulações e caretas dão o tom a essa comediazinha familiar. A sugestão é sentar na frente da telona com um balde de pipoca e se deixar enredar por uma história previsível, mas com bons momentos de fantasia e humor, além daquela nostalgia dos anos perdidos.
Esses minúsculos visitantes, vindos do planeta Nilly, buscam um equipamento extraviado que porá um fim as suas angústias, mas o contato com as emoções humanas os influencia, colocando em risco a hierarquia interna e o sucesso da missão. O filme rende bons momentos, oportunidade para Eddie Murphy se mostrar em forma e lembrar que esse gênero ainda vive, mesmo que agonizante. O roteiro fica no convencional, martelando a importância da individualidade humana, da criatividade e da beatitude da família, com “críticas” tão inexpressíveis que soam gratuitas (bem ao gosto de vinte e tantos anos atrás).
Piadas tendendo a escatologia e referências pops (algumas de difícil identificação para nós brasileiros) marcam a presença do humor contemporâneo. O desenlace não resolve os problemas levantados ao longo da projeção, mas finalizam com um efeito sentimentalóide, que pode até agradar o telespectador, mas em contrapartida revela as fraquezas do roteiro.
O Grande Dave não é de todo mal, quando chegar à telinha há de ser valorizado e até apreciado. Uma boa opção para depois da novela das oito, incluindo aí os intervalos comerciais.
Cotação: regular
Vôo Noturno
Vôo Noturno (Red Eye), 2005. EUA. DreamWorks SKG / Craven-Maddalena Films / Bender-Spink Inc. De Wes Craven
De um lado um alto político americano da Era Bush, que vem a público e defende a necessidade da força bruta para a política internacional.
Do outro lado um mercenário bonitão (Cillian Murphy), disposto a assassinar esse político.
Quem é o vilão? Bem, infelizmente este último.
De fato, o substrato ideológico do filme Vôo Noturno é a guerra contra o terrorismo, dissolvido em um roteiro bobo sobre a ameaça de assassinato à família (linda, branca, loura, indefesa) de um figurão republicano.
A história gira em torno da funcionária de um hotel, chamada Lisa Reisert (Rahcel McAdams), que, em alto vôo, é ameaçada pelo mercenário Jackson Rippner (Murphy). Esse pouco patriótico homem está ciente que Keef, o político, está para hospedar no hotel no qual ela trabalha.
O plano, portanto, é obrigar Lisa a usar seus contatos para transferir o hóspede para um determinado quarto, mais exposto, o que facilitaria o atentado. Em solo, um comparsa de Jack está pronto para matar o pai de Reisert caso ela decida não cooperar.
A partir daí passamos a acompanhar as tentativas de Lisa em ludibriar seu adversário, na perspectiva de salvar seu pai e a família Keef. O cenário principal do filme é o interior do próprio avião, toda a tensão é desenvolvida nesse restrito espaço.
O argumento principal já não é promissor, a direção de Wes Craven também deixa a desejar – não conseguindo escapar dos seus conhecidos macetes. A atuação de Rachel McAdans é fria, a moça, que já não é muito talentosa, interpreta o papel da nice girl da pior forma possível. Sempre resistindo, relutando, complicando; a típica mocinha que decide sobreviver e preservar os bons valores. A mulher americana trabalhadora, que suporta o stress e sabe encontrar a via adequada para resolver todos os conflitos, até mesmo um atentado terrorista...
Já seu antagonista, embora bonito, inteligente e misterioso comete tantos erros que eu acabei desistindo de torcer por ele... Se estes são os inimigos da América, não há razão para Bush dormir preocupado.
Ponto positivo para o filme: documento indireto do medo de voar que acometeu os americanos nos últimos anos, um receio sutilmente explicitado. Outro aspecto interessante é a apresentação dos inconvenientes de voar, como a espera nos terminais e as grosserias dos funcionários e demais passageiros. Um tema que, a nós tupiniquins, soa bem contemporâneo.
Embora o filme se estruture em um suspense, ele nos lembra aqueles trilhers de ação, como O Chacal , uma produção de 1997, protagonizada por Buce Willis e Richard Gere. História na qual um detento deve impedir o assassinato de um membro da família presidencial. Novamente temos civis se arriscando para a proteção de políticos.
Claro, o filme faz sentido para o público americano, que irá torcer para que a família Keef se safe. Porém, por aqui, na terra do Oba-Oba, não estamos dispostos a arriscar nossos pescoços pelos nossos políticos.
Se ao invés de Lisa Reisert tivéssemos um brasileiro, certamente que o político e seus belos familiares se mudariam para a cidade dos Sete Palmos.
Sorte do Keef que a América ainda é a América...
Cotação: fraco
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Esses homens maravilhosos e suas máquinas voadoras
Esses homens maravilhosos e suas fantásticas máquinas voadoras (Those Magnificent Men in Their Flying Machines), 1965. 20th Century Fox. Inglaterra. De Ken Annakin
Ingleses, franceses, italianos, americanos, alemães, japoneses. Todos juntos. Uma disputa nos céus. Os aviões partindo da Inglaterra rumo à França, ao vencedor o prêmio em dinheiro e a glória internacional (para sua máquina, para si próprio e para seu país). O ano é 1910, o que torna o filme irresistível, pois vemos vários países disputando cavalheiristicamente um prêmio internacional. Os estereótipos de cada nação e personagens são formidáveis, pessoalmente prefiro os italianos.
Esse filme soube, de forma singular, captar o contexto da Belle Èpoque com sua despreocupação burguesa e aristocrática. Quatro anos depois desse evento, todos esses países estariam se digladiando na horrenda Guerra, por isso a ironia e melancolia de um período supostamente inocente, mas extremamente nacionalista. Alguns personagens, como o jovem e afetado piloto inglês, personificam as contradições da “paz armada”.
Um filme longo, que resgata velhas piadas, algumas do cinema mudo, pouco engraçadas até, mas que nos lembram uma época em que alguns homens definitivamente acreditaram na paz como regra geral, e não como exceção.
Sem cotação
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Arquivo X – Eu quero acreditar
Arquivo X – Eu quero acreditar (The X-Files: I Want to Believe), 2002. EUA. 20h Century Fox Film Corporation / Ten Thirteen Productions / Crying Box Productions. De Chris Carter
Esse filme é a picaretagem do ano. Merece toda a galeria de troféus framboesas, o roteiro não tem um pingo de seriedade, desrespeita por completo a inteligência do leitor. E eu que achei que o pior filme visto essa semana fosse Batman... Hollywood sempre me surpreende.
Na série Arquivo X havia dois padrões para os episódios, aqueles mais elaborados e relacionados ao enredo principal – envolvendo uma conspiração alienígena – e os capítulos independentes. Estes últimos eram bastante desiguais, havia os bons, os ótimos e os péssimos, infelizmente este filme se encaixa nessa última categoria.
Fox Mulder está à margem do mundo (supostamente se escondendo do FBI) e Dana Scully trabalha em um hospital filantrópico, até serem contatados pela agência federal, da qual faziam parte, para resolver o desaparecimento de uma agente – o que, aliás, é só um pretexto para colocar esse casalzinho junto novamente.
Scully decepciona, e decepciona muito. Logo no começo, somos introduzido a sua sub-trama, a tentativa da médica em salvar um garoto de uma doença incurável. O padre dirigente do hospital parece ter uma incomum vocação em “deixar o garoto morrer em paz” (sim, ele diz isso), dificultando o máximo o trabalho da ex-funcionária do FBI. No entanto, a racionalista e pragmática doutora se recusa a largar o caso; de forma resoluta ela se posiciona diante da junta médica e argumenta ter encontrado uma solução.
Na cena seguinte ela está digitando no Google “terapia células troncos”. É... pelo jeito ficou muito fácil ser um pesquisador de ponta... E ainda a médica se ressente com os embargos apresentados pela família para continuar o tratamento... depois de tanta pesquisa...
E não é só isso, sua postura é completamente démodé. Scully se revela uma daquelas médicas cujo objetivo consiste em vencer, a qualquer custo, a doença, mesmo que o tratamento seja doloroso. Eu sou leigo no assunto, mas me parece que a tanatologia e a própria eutanásia trouxeram um novo entendimento para a medicina sobre a morte. O profissional da saúde não é um paladino em luta constante contra a finitude, sua função consistiria em permitir um bom viver ou um bom morrer. Claro que essa reflexão é muito específica, mas serve para enfatizar o retrato simplista feito da Scully.
Já Mulder está mais interessante, de um modo geral convincente. Quando eu era estudante secundarista, costumava falar (para causar frisson na comunidade máscula) que David Duchovny (o ator) era o homem mais bonito do mundo. Dez anos depois, acho que perdi minha habilidade de avaliar a beleza masculina, mas estou disposto a insinuar que ele está na lista dos mais decadentes de Hollywood. Com mestrado e quase doutorado em Literatura, Duchovny esnobou seu personagem, dizendo que havia abandonado a série para não ficar estigmatizado por esse papel (a síndrome do Capitão Kirk), mas vejam só o retorno do filho pródigo...
Após abandonar a série participou de excelentes produçoes como Feitiços do Coração (eca), Evolução (eca!!) e Zoolander (eca!!!). Enfim, sempre haverá um lugar para Fox em nossos corações, isto é, se você for um fã... Mas não vamos tocar no assunto dos atores, ou teremos que lembrar a atuação de Xzibit (que faz um programa na MTV americana), com um personagem completamente descartável e unilateral – sua função é ficar mal humorado, e só.
Arquivo X – eu quero acreditar é uma grande gafe, história completamente inverossímil, mesmo para uma ficção científica. Quando você se intera da trama não há como não ficar constrangido. Uma lógica aplicável a desenhos animados; a propósito, tem um episódio de halloween dos Simpsons que aborda justamente esse tema. O desenvolvimento do enredo se mostra tão capenga que os eventos vão se sucedendo sem muito nexo, mas com as convencionais pitadas de xenofobia (malditos russos!!). Além de frustrante, o desfecho nada elucida, mas escancara a fraqueza deste projeto.
A discussão fé versus religião fica solta, sobretudo nos momentos finais com a irreversível a crise da identidade da Scully. A própria dinâmica entre os dois personagens fica aquém do esperado, ainda que vez ou outra possa resultar bons momentos. Como o retorno dos dois ao FBI, eles param diante de um quadro do presidente americano George. W. Bush, fixam em sua foto e depois olham um para o outro. O semblante deles anuncia a distância de tempo entre os dois momentos (a época em que eram investigadores e a atual), sugere inclusive um constrangimento de Fox e Dana.
Incômodo dos ex-agentes com as mudanças ocorridas no FBI (o novo olho panóptico do governo) ou talvez constrangimento de Gillian Anderson e David Duchovny, por terem sido convencidos a entrar nessa furada.
Cotação: péssimo
terça-feira, 29 de julho de 2008
Batman – o cavaleiro das trevas
Batman – o cavaleiro das trevas (The Dark Knight), 2008. EUA. Warner Bros. Pictures / Legendary Pictures / DC Comics / Syncopy. De Christopher Nolan
“Homem de preto, qual é sua missão? Encher a sala do cinema, arrecadar mais de milhão!”
Um filme bruto, parece ter sido roteirizado, dirigido e produzido por uma cúpula militar, não há qualquer sutileza, inteligência ou meias palavras. Tudo tem que ser explícito. A mais pura pirotecnia.
Documento importantíssimo para entendermos o pensamento reacionário contemporâneo, pois Batman nada mais é do que o Capitão Nascimento com um cartão de crédito ilimitado. Um genuíno cidadão americano (típico, diria), isso com certeza. Como todo os mocinhos deste filme, o homem morcego se acha no direito de quebrar as leis, seja buscando criminosos em outros países, torturando suspeitos ou disseminando escutas telefônicas.
[Imagens acima: O sagrado direito de tortura. Em Gothan, o insano agride o insano | Em Abughribnv o terrorista tortura o “terrorista”]
Alguns espertinhos ainda podem tentar justificar através do argumento de que Batman representa o “lado negro da América”. Mentira, representa só o lado patético, autoritário e medíocre. Não há qualquer dimensão humana no filme, os dois principais personagens – o menino de capa preta e o menino de maquiagem – não são humanos, mas simplesmente máquinas de destruição, a diferença é que um acredita na lei e na ordem (pela segurança tudo vale a pena!) e outro ama o caos (esse pelo menos resvala em certa sinceridade do militarismo americano).
Uma cidade que precisa de um justiceiro com roupas de estilo duvidoso não merece ser levada a sério – convenhamos Sr. Bruce Wayne, nos anos 80 o modelito preto era cool, agora só cai bem se você tiver 16 anos e uma tendência suicida. A armadura que esconde o milionário é quase alegórica, pois ela cria uma nova estética, que protege e defende, mas desumaniza e elimina a flexibilidade e capacidade de interagir com o mundo. Conserta-se a sociedade com repressão extrema a criminalidade e é só – o fato dos trânsfugas serem estrangeiros auxilia muito, diga-se de passagem...
A república romana nos legou o direito e a convicção de que não se é sensato torturar um prisioneiro. Mas parece que a nova (que na verdade é bem velha) geração de Rambos não foi informada sobre esses protocolos legalistas. O discurso gira em torno das balelas usuais, o bem coletivo se sobrepõe aos individuais, e quem decide isso é um mega-magnata que nas horas livres brinca de consertar o mundo através de sopapos.
A estética do filme tende para um realismo doentio, um esforço para nos persuadir de que a ficção e a realidade se equiparam. Nesse sentido a fotografia é eficiente, as explosões, as feridas no rosto do promotor (aliás, nosso Cícero contemporâneo) são convincentes e geram uma tensão permanente no público.
[Imagens acima: Qual imagem é real? Qual é ficcional? O nascimento do Duas Caras e a vitima dos Batmen contemporâneos]
Infelizmente Heath Ledger será lembrado por sua última atuação como o Coringa, e por causa da sua morte alguns querem ver genialidade em sua atuação. Que os mortos descansem em paz, mas histrionismo não é razão para destaque notório, e da representação pura da maldade o cinema americano está cheio. Aliás, o Coringa de Ledger é bem menos elegante que o de Jack Nicholson, pois este último ainda tinha uns arroubos poéticos.
Mas entre Tim Burton e Christopher Nolan há um mundo de diferenças. Enquanto um tende para o film o outro tende para o movie – embora, em última instância, ambos tenham sido bem acolhidos nos cinemas da América e do restante do mundo.
Enquanto Batman (des) protege Gothan, incentivando o aparecimento de uma variada fauna de insanos, o restante do globo ressente o excesso de justiceiros, que estão por aí a solta, levando uma ordem bem sui generis para rincões do mundo não branco...
Pois que Capitão Nascimento pode subir a favela e matar os crioulos.
Pois que Batman pode flanar pelos ares em busca dos chinas criminosos.
Pois que the american civilization white pode capturar o Coringa Hussein ou sair às caças do Duas Caras Laden.
Há uma coerência... cabe decidir se ela é implícita ou tácita.
Observação: imagens de torturas a prisioneiros retiradas de http://antidireitaportuguesa.blogspot.com/
Cotação: péssimo
10
10 (Ten), 2002. Irã/França. Abbas Kiarostami Productions. De Abbas Kiarostami
1ª Observação
Um dia, os americanos descobrirão o cinema iraniano. Esse será um bom dia para nós ocidentais, que teremos um novo fluxo de originalidade no cinema comercial. Claro que será uma adaptação, algo similar com o que vem ocorrendo com o cinema japonês. Mas indubitavelmente as produções iranianas possuem uma vitalidade que nos fazem falta.
2ª Observação
Ver filmes de países pouco conhecidos por nós, é uma oportunidade para confrontar nossos preconceitos e estereótipos com as auto-representações contidas nessas produções.
Em 10, percebemos que o cotidiano da sociedade iraniana não é muita diferente da nossa. Claro que eu não estou considerando esse filme como a revelação de uma verdade até então desconhecida. Mas não deixa de ser surpreendente vemos uma mulher iraniana falando de adultério, direito das mulheres, vida afetiva e problemas com os filhos.
A questão não é se estamos tendo acesso a uma verdade, mas sim que esse filme permite reconhecer em povos – que julgamos distantes – vidas e cotidianos muito próximos ao nosso. O cinema criando identidades culturais que transcende ao local.
3ª Observação
O filme se passa dentro de um carro, acompanhamos uma motorista que, ao longo da projeção, dá carona para várias pessoas. A partir do diálogo entabulado entre elas, vamos conhecendo algumas práticas e aspectos da sociedade iraniana.
Essa estrutura, embora original e bem trabalhada, é cansativa e acaba dispersando a atenção do espectador. A ausência de uma trama definida impede que o “efeito de realidade” seja maior, isto é, não embarcamos completamente na história.
Um filme dirigido não para a emoção ou o alheamento da realidade, mas sim para a reflexão e a ponderação.
Sem cotação
Um toque de rosa
Um toque de rosa, (Touch of Pink), 2004. Canadá. Sienna Films Inc. / Martin Pope Productions. De Ian Iqbal Rachid
Filme inteligente, embora resvale nos lugares comuns de filmes sobre homossexuais e casamentos “arranjados”.
Nesse filme temos a história do indiano Alim, um homossexual que tem como amigo imaginário ninguém menos que o espírito de Cary Crant. Alim, embora criado no Canadá, vive na Inglaterra, com seu namorado, Giles
A mãe de Alim, interpretada pela bela Suleka Mathew, sem saber da opção sexual do filho, quer que ele se case a qualquer custo. É dentro desse contexto para lá de batido que a história se desenvolve. Lembrei inclusive de Banquete de Casamento, dirigido por Ang Lee, que tem uma temática similar.
Um toque de rosa não é uma produção americana, mas sim canadense e inglesa, o que talvez tenha contribuído para umas cenas mais ousadas (se usarmos como parâmetros as produções hollywoodianas).
Os clichês estão presentes. Alguns estereótipos (não ofensivos, é importante frisar) sobre os gays, porém o que chega a ser incômodo é o lugar comum de contrapor culturas tradicionalistas (no caso os indianos) versus mundo moderno (ocidente, Inglaterra etc). A família de Alim se preocupa muito com as tradições, esquecendo o que seus membros realmente desejam. Solidariedade orgânica? Talvez.
Mas o filme é agradável, pouco humor, interpretações simples mais comedidas. Noru, mãe de Alim, é sem dúvida o segundo maior atrativo do filme.
O primeiro atrativo fica, sem pestanejar, para o fantasma de Cary Grant (interpretado por Kyle MacLachlan), vaidoso, convencido, levemente arrogante, seguro de si. Na verdade Alim projeta tudo o que deseja ser em seu amigo imaginário.
Alim é inseguro, sendo inclusive um pouco chato com suas indecisões. Falta a ele o arrojo de seu mentor imaginário, que vai a uma festa indiana vestido de Livingstone.
Sem cotação
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Kung Fu Panda
Kung Fu Panda, 2008. EUA. DreamWorks Animation / Pacific Data Images. De Mark Osborne e John Stevenson
Dizia-se, antigamente, das normalistas de 16 anos que, quando introduzidas na arte da culinária, faziam uma comida bem feitinha, mas sem sal, sem sabor. Faltava a elas o segredo daquelas cozinheiras que passaram a vida toda no fogão.
Isso é o que pode ser dito sobre Kung Fu Panda, filme tecnicamente bem feitinho, mas sem sabor. Tudo nele parecer ser resultado de técnicas computacionais, não só as imagens, mas também o roteiro e a direção. Talvez já haja um software capaz criar um filme, do argumento ao produto final, você digita as palavras chaves, tais como:
urso | kung fu | aceitação social | superar desafios | derrotar vilão
E o resultado seria Kung Fu Panda...
O urso gordo que sonha ser um grande lutador, por um acaso ele é selecionado para um rigoroso treinamento, sendo recusado por todos e tido como alvo preferencial de deboches. Porém ele acaba por descobrir seu valor e suas supostas fraquezas se revelam o grande trunfo, o único capaz de derrotar o vilão arrogante em busca do poder supremo, mas desabilitado a perceber as pequenas belezas e sutilezas da vida.
No decorrer do filme todos nós aprendemos uma lição, tal como “seja você mesmo” ou “não desista dos seus sonhos”. Porém, tal qual o urso do filme eu sou preguiçoso e sempre esqueço esses brilhantes ensinamentos; aliás, por isso mesmo eu retorno às salas de projeção para assistir essas animações.
Uma historinha engraçada, mas sem ousadia, as próprias cenas de combate são reduzidas, isso porque a censura tem que ser livre. Quanto aos personagens, o destaque fica para a tartaruga, guerreiro supremo e detentor de segredos milenares, mas que, como em todo filme de kung fu que se preze, por alguma razão não toma partido na luta final.
Assim como no filme há um ensinamento secreto para se tornar um grande mestre ou o ingrediente secreto para se tornar o grande cozinheiro, talvez haja o macete secreto para se fazer um grande filme. Aliás, não é nem tão secreto assim, todas aquelas animações insanas dos anos 30 e 40 o conheciam.
É só não acreditar que o software resolve tudo, que a animação 3D é a resposta infalível. A subjetividade e a inteligência ainda têm um papel no cinema, pequenino, mas existente. As cozinheiras velhas sabem disso.
Cotação: fraco
As Damas de Ferro
As Damas de Ferro (Satree lek), 2000. Tailândia. Tai Entertainment. De Youngyooth Thongkonthun
Definitivamente torcemos pelos mais fracos, pelas minorias. Por isso Jerry sempre ganha, enquanto Tom leva a breca. Frajola coitado, já cansou de perder para Piu-piu e Ligeirinho. Assim por diante...
Por isso um filme que fala sobre jogadores de vôlei talentosos que não podem entrar em times pelo fato de serem homossexuais tem tudo para conquistar nossa simpatia. Falo do filme tailandês As Damas de Ferro, que inclusive é baseado em "fatos reais".
A história narra a trajetória de um time de homossexuais e travestis no campeonato nacional da Tailândia. Possuem vários personagens interessantes, como "búfalo gay", um integrante do exército e Pia, uma belíssima drag queen, que consegue chamar atenção até mesmo dos homens. Porém o destaque são para os personagens Mong e Jung, dois talentosos jogadores. Também há a treinadora Bee (lésbica) e um único jogador hetero do time, que se por um lado tenta aceitar os outros integrantes, sente-se incomodado com as suas futilidades (como o excesso de maquiagem nos jogos).
O filme até que é engraçadinho, sem falar que, em termos éticos, é um filme sobre tolerância. Em outras palavras, até que gostei, embora haja uma série de problemas. O que eu vou falar agora dói... mas esse é um filme que deveria ser produzido por Hollywood (como sou vendido!).
Faltou um roteiro e uma trilha musical hollywoodiana para uma maior empatia com os personagens. Pois esse é o principal problema do filme, é espontâneo demais. Vejam bem, há um momento, mais do que previsível, que um dos dirigentes do campeonato nacional - um machista homófobo que folheia revistas com fotos de mulheres nuas - tenta impedir o time de jogar. Sua afirmação de que o time era composto de doentes é ouvido pela platéia inteira (na qual se encontravam presentes vários homossexuais e drag queens). O público incomodado com a declaração começa a gritar o nome do time. Se fosse um filme americano ouviríamos uma música lacrimejante, enquanto a câmera focalizaria o rosto enternecido dos jogadores e o apoio incondicional do público. Não resistiríamos e diríamos: "deixem as garotas em paz, elas só querem jogar".
Mas nada disso acontece... que pena...
O roteiro é muito simples, assim como a trilha sonora e a fotografia. Há algumas referências ao cinema americano mais do que gratuitas.
Cinema é manipulação. Ao assistir um filme nossos sentimentos devem ser manipulados (vide a última produção de Michael Moore), devemos ser conduzidos ao choro ou ao riso. Isso As Damas de Ferro não consegue. Naturalmente resultado de uma cinematografia incipiente, porém promissora.
Sem cotação
Observação: com esse texto começo a republicar as minhas mais antigas críticas, na medida do possível assistirei novamente aos filmes para ver se minha opinião mudou.
domingo, 13 de julho de 2008
Hancock
Hancock (Hancock), 2008. EUA. De Peter Berg.
Sexta-feira, região metropolitana de Belo Horizonte, estou em um Grande Shopping, na fila eu e mais uns tantos gatos pingados.
- Esqueci minha carterinha de estudante dona, digo temerosamente.
- Não tem problema, entra aí...
De fato, pensa a funcionária, antes meia-entrada do que nada... parece que o risco de falência flexibilizou critérios antes severamente cobrados. Há até uma poesia em um cinema que passa cópias dubladas de Hancock e cujas cadeiras são ocupadas por pequenos grupinhos de adolescentes em burburinhos que, no ápice dramático da projeção, pronunciam emocionadamente: “Pô véi, ele tá pedindo disculpa na humildade”...
Sim, John Hancock, interpretado por Will Smith, é alguém para os six-teen years se identificarem. Um herói bêbado que ameaça seus antagonistas com a frase: “Vou enfiar sua cabeça na bunda dele”; para o delírio do público, é claro.
Hancock é o Casablanca dos tempos atuais. Imaginem se Humprhey Bogart, ao invés de possuir um bar, tivesse poderes e saísse pela França desocupada executando ações mal-direcionadas de heroísmo. Durão, mas no fundo um sentimental. Novamente um triângulo amoroso mal resolvido e no qual a mulher – não importando a sua intrepidez – deixa as derradeiras decisões nas mãos dos homens.
Em suma, filme indeciso quanto ao seu gênero, pois, na primeira metade se apresenta como uma comédia, e nesse propósito até que é eficiente, mas nos atos finais passa a se levar a sério ressaltando algumas nuances dramáticas na pretensão de reviver as trajetórias dos heróis gregos. Falhas de roteiro a parte, a dificuldade de optar pela fábula ou pelo realismo fantástico se revela como o grande empecilho para a efetivação da proposta inicial (seja lá qual for!). O trabalho até que tem bons momentos, com atuação satisfatória de Smith que consegue transitar entre o burlesco e o trágico.
[Imagem acima: Humprhey Bogart e Ingrid Bergman, Will Smith e Charlize Theron - amores impossíveis. Caberá à figura masculina a decisão correta, pautada por uma ética sui generis]
Com desfecho conformista e chauvinista – viva a decisão masculina, a contenção das paixões, e o modelo convencional de família – os momentos finais eliminam toda e qualquer analogia com o drama ou a tragédia. O que resta é um otimismo meio bobo.
Mas para um filme dublado em um Shopping vazio e repleto de adolescentes, Hancock cumpre sua função: provoca as risadas, umedece as pálpebras e desperta nas novas gerações o reconhecimento da supremacia masculina e as benesses da fidelidade conjugal. Will Smith ensina que os brutos também amam.
Pedagogia cristã, a preços módicos e ao alcance de todos.
Cotação: Fraco
Procura-se Amy
Procura-se Amy (Chasing Amy), 1997. EUA. De Kevin Smith
Os três filmes de Kevin Smith que assisti – Dogma, O Império (do Besteirol) Contra Ataca e Menina dos Olhos – não foram muito animadores. Tanto que nunca me interessei em conhecer outros trabalhos desse diretor.
Porém Procura-se Amy é uma comédia romântica consistente o suficiente para redimir todas as suas nulidades anteriores e posteriores.
Comecemos pelo final. Não há o happy end costumeiro, Smith encontra uma forma inteligente de quebrar os clichês do gênero. Não vale a pena contar o final, mas posso adiantar que as comédias românticas iludem o espectador com desfechos irrealistas. Paixões e suspiros correspondidos só funcionam na tela do cinema, A Rosa Púrpura do Cairo está aí, para não nos deixar esquecer essa lição de Woody Allen.
Porém, neste caso específico, o final é uma premissa coerente da história. O enredo consegue trabalhar muito bem com a tensão entre uma forma moralista e outra mais “esclarecida” de compreender os relacionamentos humanos.
Procura-se Amy não é um filme sobre declarações de amor, mas sim sobre o fracasso dessas declarações. Falar a verdade, confessar, explanar suas emoções, ao contrário da estrutura clássica do gênero, não conduz a uma situação de concórdia ou amor. A confissão implica em se expor ao trágico e ridículo, ao isolamento e a vergonha.
Um cinema muito pessoal, pois o diretor – que assim como Tarantino, não consegue ir muito além das referências pops – faz poesia a partir de motivos escatológicos. O tema é o esdrúxulo, uma desvinculação definitiva entre amor e sexo. Um ataque frontal a ideologia reacionária do gênero, com suas eternas Megs Ryans e Sandras Bullocks, renovadas a cada década.
Prefiro não comentar nada sobre o filme e deixar as surpresas – que aparecem de forma gradual – para o expectador desavisado. Mas que fique o lembrete de que não são pelas nossas expectativas que o filme se resolve. É um filme sobre procura, mas só sobre a procura.
Cotação: Bom
sábado, 14 de junho de 2008
Fim dos Tempos
Fim dos Tempos (The happening), 2008. EUA. De Nigth Shyamalan
Shyamalan decidiu mostrar que ele não é Steven Spielberg e que seu cinema passa muito longe da assepsia inaugurada pelos “filmes famílias”. Em seus atos iniciais Fim dos Tempos causa incômodo ao expectador, mostrando cenas de violência de um modo que o público médio está desacostumado. Em determinado momento um personagem liga um cortador de grama e deita ao chão, esperando ser dilacerado, achamos que a cena será subentendida, mas o cineasta faz questão de mostrar o trucido.
O enredo discorre sobre ondas de suicídio que estão varrendo as grandes e pequenas cidades do leste americano. Sem explicações aparentes, as pessoas assumem um estado de transe e passam a buscar formas violentas de se matarem. Em meio ao caos provocado por esses impulsos auto-destrutivos da sociedade, uma família genuinamente americana busca a segurança nas áreas não afetadas. Um itinerário batido, que em alguns momentos chega a nos lembrar o decepcionante Guerra dos Mundos (2005) ao revelar a impotência dos personagens em um contexto que lhes é hostil.
O pano de fundo aborda a questão da preservação do ambiente, os próprios protagonistas percebem as possíveis correlações entre a ação humana e a resposta da natureza. Raciocínio simplista e mecanicista, típico de um professor de ciências de uma High School, aliás, personagem principal do filme, interpretado por Mark Wahlberg. De qualquer forma cumpre o objetivo de fornecer uma pseudo explicação para o evento.
A principal debilidade do filme reside nas limitações das premissas, pois a narrativa se resigna a mostrar a fuga das multidões, focando em um grupo específico e, providencialmente, eliminando aqueles pobres personagens que só entraram na história para receberem uma morte violenta...
No ato final, surge uma nova personagem, acrescentando uma sub-trama completamente desnecessária que, inclusive, assemelha-se ao lunático de Guerra dos Mundos, interpretado por Tim Robbins. Trata-se da senhora Jones, uma eremita que dá abrigo aos fugitivos, relevando um comportamento imprevisível e ameaçador – aliás, por um momento receei que ela pudesse ser um fantasma (vide Sexto Sentido) ou então uma super-vilã (vide Corpo Fechado)... mas ela só aparece na história para dar uns sustos extras no público (a essa altura, já maçado pela ausência de novos happenings).
O desfecho tem o sabor de um anticlímax, sem apresentar um desafio final interessante e com uma resposta muito absurda para os problemas levantados ao longo da projeção. Depois de 70 minutos focados em um único grupo, parece coerente (para o expectador) aceitar que, se eles se safarem, o final pode ser considerado feliz, isto é, cai o pano sem maiores preocupações. A macro questão insinuada durante toda a narrativa – o alerta de Gaia contra o homem – se perde em meio a notícia final de uma gravidez. Temos um filme para a família e sobre a família, importa a preservação de alguns, o resto é desculpa, contextualização básica para as desventuras americanas.
Guerra dos Mundos, mas com um pitadinha de Shyamalan. Nada de mais, nada de menos.
Cotação: regular
O céu de Suely
O céu de Suely, 2006. Brasil. De Karim Aïnouz
Novamente somos levados ao interior do nordeste para presenciarmos uma história universal. Claro está que é nessa estrutura que reside o problema principal de O céu de Suely. O filme não consegue se decidir entre um viés etnográfico e uma perspectiva mais intimista.
O filme enfoca a personagem Hermila, que deixou seu marido em São Paulo para regressar à terra natal. Ela volta para a cidadezinha de Iguatu trazendo seu filho. Embora satisfeita com o retorno, Hermila desiste de suas perspectivas otimistas ao perceber que seu marido a abandonou. O sentimento de perda e a precariedade material de sua vida a conduz a um estado de depressão e um vazio muito grande.
Embora o filme consiga desenvolver essa premissa inicial, a direção muito rebuscada acabou por submergir os méritos dessa produção. A começar pela própria direção musical e efeitos sonoros.
No afã de criar um registro etnográfico do interior cearense, o filme captou todo o som ambiente; as personagens conversam e, ao fundo, escutamos o barulho da moto, dos vendedores, do rádio de música evangélica. Porém esse recurso acaba se revelando redundante, é uma persistência documental, que não contribui com o desenvolvimento do enredo. Parece que nesse momento o filme esquece de se colocar como ficção, tornando-se relato de um viajante – no caso o diretor Karim Aïnouz.
Se os efeitos sonoros acompanham o ambiente, a trilha musical já está mais próxima dos sentimentos de Hermila. Há inclusive uma música eletrônica tocada no filme que registra seu ritmo interno. Aliás, o mesmo pode ser dito sobre a direção de arte, que compôs interiores com tantos detalhes que serviram menos a trama e mais a essa tentação documentalista.
Regional ou universal? É um registro da vida no nordeste ou uma discussão sobre os conflitantes sentimentos de uma mulher? Algum espertinho pode argumentar que são as duas coisas, que essas opções não são excludentes e que exigir da produção uma opção como essa é simplesmente non sense. Mas se fosse assim – ao menos nesse caso – o filme seria mais consistente, com um enredo menos desinteressante para o expectador.
Hermila decide mais uma vez abandonar Iguatu, querendo ir para o lugar mais longe possível – um reflexo do seu distanciamento para com seu próprio mundo. Naquela realidade social representada no filme não há nenhum elemento que explicaria essa decisão, por isso o recurso aos “recônditos do coração” da personagem. A única maneira dela conseguir essa fuga é através de uma forma mais branda da prostituição. Ela decide rifar seu corpo, o vencedor teria “uma noite no paraíso” – aqui vemos uma caracterização regionalista de uma cidade pobre, sem muitas possibilidades de trabalho. Justamente o conectivo entre essas duas situações – o documentário e a ficção – que não é convincente.
Hermila, que em sua rifa adota o nome de Suely, passa a abordar os homens tentando vender seus bilhetes. No mais, o filme percorre itinerários com certa previsibilidade, as discussões com a avó, a vivência com a amiga e o conflito com o novo namorado.
Porém há momentos em que o filme sintetiza muito bem essas duas tendências (regional e universal). Como no momento em que ela percorre um estacionamento de caminhoneiro, a fugacidade da vida daqueles homens reflete seus sentimentos, momento no qual se inicia também sua exibição.
A personagem, em si, é interessante, uma deslocada que aplaca suas tristezas na fuga, sua esperança é encontrar um lugar vazio – sem referências do passado e expectativas para o futuro. Por isso em suas vestimentas sempre há algo em azul, a chuchuquinha do cabelo, o anel, o brinco, a blusa, o brinquedo do bebê. Azul por que remete ao celeste e, nas seqüências finais do filme, quando vemos o céu, compreendemos finalmente o que ele significa para a personagem. Em plano geral a vegetação típica local, um quase nada se comparado ao azul que se estende logo acima das mirradas árvores e vai ao infinito.
Assim novamente o universal e o regional se encontram, a conclusão se revela satisfatória e coerente, porém não consegue redimir o todo. Assim, O céu de Suely pode ser colocado em uma estante bem ao lado de Eu, tu, eles, na frente de Abril despedaçado, mas bem atrás de Central do Brasil, bem atrás.
Cotação: regular
terça-feira, 10 de junho de 2008
O diabo feito mulher
O diabo feito mulher (Rancho Notorious), 1952. EUA. De Fritz Lang
O diretor austríaco nos trás um filme original, bem ao gosto dos anos de ouro de Hollywood. Trata-se de um western amargo, com alguns momentos de humor e um ar de tragédia anunciada desde o primeiro momento.
Poucos dias antes de seu casamento, o honesto vaqueiro Verns Heskel recebe a notícia de que sua noiva foi assassinada por um bandido ao resistir aos seus assédios. Após perceber o desinteresse das autoridades pelo caso ele parte em busca da vingança, tendo como única pista a informação de que seu inimigo poderia estar em algum lugar chamado “Chuck-a-Luck”. Após meses de procura ele vem a saber que o local era uma fazenda destinada ao abrigo de foras da lei, comandada por Altar Keane (Marlene Dietrich).
O filme se envolve em um enredo marcado por um triângulo amoroso (entre Vern, Keane e o galante French), dissimulações, intrigas e muito rancor. As falas de Keane são as mais cruéis, embora o olhar frio e vingativo de Verns Heskel denuncie sua decisão inabalável em eliminar o assassino de sua amada, afastando-o da composição “ideal” do mocinho. Em alguns momentos é um western com pretensões a um drama shakespeareano, onde um mal entendido pode conduzir um inocente à morte. Aliás, nem tanto, já que todos os hóspedes da fazenda Chuk-a-Luck são criminosos notáveis.
Interessante que não há uma dicotomia clara entre os homens da lei e os vilões, tanto que o espectador pode se identificar com esses últimos. De qualquer forma o mundo da ordem ainda é a referência e na medida em que vemos Vern se afastar de sua antiga vida de fazendeiro, tornando-se um pistoleiro, percebemos que uma triste trajetória está a se concluir.
A personagem mais interessante, sem dúvida, é Altar Keane, uma mulher austera e vaidosa, ciente do seu declínio e decadência de sua beleza, mas mantendo sua feição orgulhosa. Não há lugar no western para as mulheres e, se ela sobrevive em tal meio, o preço a se pagar é alto. Antes uma dançarina de boate, agora uma fora da lei. Em sua face se percebe a tristeza, a resignação, mas a capacidade de resistir aos tempos, não importam quão difíceis sejam.
Um filme simples, mas inteligente, que surpreende pela ambigüidade moral dos personagens – os vilões possuem uma ética de grupo enquanto o herói usa de todos os meios para atingir seus objetivos. Contribuição de Fritz Lang ao gênero, conseguindo extrair do western uma narrativa mais melancólica do que o usual.
Cotação: bom
sábado, 7 de junho de 2008
O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford
O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James for the Coward Robert Ford), 2007. EUA. De Andrew Dominik.
Pertencemos à história, mas nosso indício no imenso caudal do tempo se apagará rapidamente. Nenhuma crônica será escrita sobre nós e, com o passar de poucas gerações, não haverá quem faça idéia de que um dia existimos; enfim, condenados ao esquecimento. Mas, alguns demonstram capacidade de deixar rastros e lembranças de suas ações, outros vão além, e abandonam os anais da história para ingressar na narrativa mítica.
Jesse James era um ladrão e assassino, mas, ainda em vida, já havia aedos interessados em perenizar seus feitos. Homem temido, odiado e amado por seus comparsas e pelo público médio, interessado nos foras da lei. Esse herói moderno padece da constante sensação de que seu fim se aproxima, pois quanto mais afamado, mais perseguido – não há lugar para o mito entre os vivos. Por isso, perscruta com singular sadismo os atos, intenções e até pensamentos daqueles que o rodeiam
Brad Pitt desempenha com maestria esse papel, dando um verossímil estoicismo ao seu personagem, que parece antever, desde o primeiro momento, sua extinção. Lembramos de Aquiles (interpretado pelo mesmo ator) que, em Tróia, espera pela sua derrocada com igual coragem e resignação. A intrepidez e ousadia de Jesse James se revelam incongruentes com uma época na qual a imprensa cria figuras mais fantásticas que suas inspirações reais. Em um determinado momento, o criminoso lembra a um dos seus admiradores a falsidade daquelas bravuras descritas nos livretos.
O oposto de Jesse James é Robert Ford (Bob), jovem de inteligência mediana, leitor de textos populares e que se enveredou pela admiração de um personagem cujo desempenho parece mítico. Quando Ford diz que “Ele é só um humano”, sua frase entoa um auto-descrédito. A dramaticidade do filme reside na lembrança da missão que caberá a esse simplório. Não há martírio maior do que a necessidade ou dever de assassinar seu próprio Deus. A vitória não é uma vitória, pois se Jesse James se revela um mortal, nada mais faz sentido, não há mais lugar para o maravilhoso no mundo.
Em The Man Who Shot Liberty Vance, o idealista advogado (James Stewart) vive de uma glória que não a sua, foi seu rival quem abateu o temível bandido. Ao relatar (no final de sua trajetória) a verdade para um jornalista, este prefere manter a fábula, por ser mais poética e didática. Vemos aqui o mesmo desencantamento do mundo provocado pelo reconhecimento de que o herói pode morrer. Que Bob atirou em Jesse James todos sabem, porém, haveria algo de notável nessa execução? Poucos os que reconheceram a nobreza daquele tiro disparado pelas costas. Seu próprio autor acabou mergulhado na introspecção, obrigado a repetir indefinidamente (através de apresentações teatrais) aquele ato infame.
Punido com o esquecimento, pois Robert Ford não se eternizou nas memórias populares, nem recebeu, por muito tempo, o apreço da população, vezes ou outro lembrado, mas como o covarde, o covarde que matou Jesse James.
Cotação: ótimo
sábado, 31 de maio de 2008
Speed Racer
Speed Racer (Speed Racer), 2008. EUA. De Andy Wachowski e Larry Wachowski
Peguei o ônibus e fui ao cinema assistir Speed Racer. No caminho o trânsito estava engarrafado, como sempre, nas Mach 5 enfileiradas percebia-se a impaciência e o stress dos motoristas não tão indômitos quanto o personagem que dá título ao filme. Sem dúvida, se há alguma beleza ou grandeza no automobilismo sabe-se que são restritas a tela de projeção, pois, no mundo concreto (ou seria “de concreto”?), o que nos aguarda não são as manobras mirabolantes, mas sim o caos urbano.
Noventa por cento do filme pode ser jogado fora, incluídos as já citadas manobras mirabolantes (não há nada ali que nunca tenhamos visto) e aquele bla bla bla da importância da família e da defesa dos entes queridos. Visualmente, o produto final é arrojado, nos convence pela sua beleza, seu design, mas e daí? Não há como esquecer as gafes (que ninguém percebeu porque ninguém se importa) de se colocar uma criança para dirigir um automóvel ou o maravilhamento do público em observar veículos correndo em círculos e a queimar o tão escasso Sangue Negro.
Porém Speed Racer nem almeja um diálogo com o mundo real, ele pertence à fábula, lugar de imaginários e atributos bem definidos. O pequeno empresário e o destemido aventureiro (heróis da mitologia capitalista clássica) que se antepõem à corrupta corporação e aos monopólios (vilões da mitologia capitalista moderna). Enfim a dicotomia está traçada e não podemos esperar mais do que isso.
No entanto, aqui há a surpresa positiva, que faz o ingresso valer a pena, explorando as ambigüidades de alguns personagens o que presenciamos são as novas atualizações do confronto entre Davi e Golias. Destaque para o personagem Speed Racer e seus imprevisíveis aliados, o Corredor X e Taejo.
Emile Hirsch abandonou as terras selvagens do Alasca (e sua revolução espiritual) para desempenhar um novo papel, novamente épico. Speed Racer é um exímio (sim! Eu já usei essa palavra antes), há algo que ele pode fazer como ninguém, pilotar Mach 5 é mais do que um esporte. O volante se converte em suas mãos em um pincel, no qual ele descreve inusitadas curvas e singulares rotações e revoluções. Ele almeja ser o melhor, movido por um código de conduta que tende ao arcaico: sua intenção é provar a viabilidade do self made man e da iniciativa individual em um universo marcado por corporações e embustes. Ele corre para se aproximar do seu irmão, que já não está mais entre os vivos, pois faleceu em empreitada semelhante. Na grande corrida, transparece em suas feições a agonia do processo criativo, ao final, seu semblante não traz a expressão da vitória, mas sim os sinais de exaustão física e mental.
Já Matthew Fox desistiu de ser um exemplo moral na Ilha da Fantasia e se mascarou para uma nova missão, dessa vez desempenhar a função do anti-herói, o liberal desiludido que decide enfrentar o sistema com táticas quase de guerrilhas. Misterioso, desafiador, mas confiável, Corredor X trás a imprevisibilidade às pistas, mas também revelas as diferentes manifestações da justiça, conseguindo cooptar o não menos ambíguo Taejo em sua Missão.
Cena emblemática do filme: momentos finais, o grande duelo se aproxima. Um novo carro sai das oficinas do Papai Racer, resultado dos esforços de toda a família. O jovem Speed se encontra no cock-pit, no seu belo automóvel branco e vermelho. Seu clã está em segundo plano, cansados e felizes, com macacões azuis e blusas vermelhas.
Ao fim e ao cabo somente mais uma atualização da família americana, da bandeira pátria e das motivações individualistas que regem essa maravilhosa sociedade do ocidente. Os automóveis correm, mas nenhum piloto sabe ao certo o que o motiva, não faz mal, do lado de fora do cinema, no exterior do shopping, todos correm também, e, igualmente, desconhecem-se suas motivações.
Acima, vemos a bela bandeira americana
Cotação: Regular
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