Mostrando postagens com marcador Emile Hirsch. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Emile Hirsch. Mostrar todas as postagens
sábado, 31 de maio de 2008
Speed Racer
Speed Racer (Speed Racer), 2008. EUA. De Andy Wachowski e Larry Wachowski
Peguei o ônibus e fui ao cinema assistir Speed Racer. No caminho o trânsito estava engarrafado, como sempre, nas Mach 5 enfileiradas percebia-se a impaciência e o stress dos motoristas não tão indômitos quanto o personagem que dá título ao filme. Sem dúvida, se há alguma beleza ou grandeza no automobilismo sabe-se que são restritas a tela de projeção, pois, no mundo concreto (ou seria “de concreto”?), o que nos aguarda não são as manobras mirabolantes, mas sim o caos urbano.
Noventa por cento do filme pode ser jogado fora, incluídos as já citadas manobras mirabolantes (não há nada ali que nunca tenhamos visto) e aquele bla bla bla da importância da família e da defesa dos entes queridos. Visualmente, o produto final é arrojado, nos convence pela sua beleza, seu design, mas e daí? Não há como esquecer as gafes (que ninguém percebeu porque ninguém se importa) de se colocar uma criança para dirigir um automóvel ou o maravilhamento do público em observar veículos correndo em círculos e a queimar o tão escasso Sangue Negro.
Porém Speed Racer nem almeja um diálogo com o mundo real, ele pertence à fábula, lugar de imaginários e atributos bem definidos. O pequeno empresário e o destemido aventureiro (heróis da mitologia capitalista clássica) que se antepõem à corrupta corporação e aos monopólios (vilões da mitologia capitalista moderna). Enfim a dicotomia está traçada e não podemos esperar mais do que isso.
No entanto, aqui há a surpresa positiva, que faz o ingresso valer a pena, explorando as ambigüidades de alguns personagens o que presenciamos são as novas atualizações do confronto entre Davi e Golias. Destaque para o personagem Speed Racer e seus imprevisíveis aliados, o Corredor X e Taejo.
Emile Hirsch abandonou as terras selvagens do Alasca (e sua revolução espiritual) para desempenhar um novo papel, novamente épico. Speed Racer é um exímio (sim! Eu já usei essa palavra antes), há algo que ele pode fazer como ninguém, pilotar Mach 5 é mais do que um esporte. O volante se converte em suas mãos em um pincel, no qual ele descreve inusitadas curvas e singulares rotações e revoluções. Ele almeja ser o melhor, movido por um código de conduta que tende ao arcaico: sua intenção é provar a viabilidade do self made man e da iniciativa individual em um universo marcado por corporações e embustes. Ele corre para se aproximar do seu irmão, que já não está mais entre os vivos, pois faleceu em empreitada semelhante. Na grande corrida, transparece em suas feições a agonia do processo criativo, ao final, seu semblante não traz a expressão da vitória, mas sim os sinais de exaustão física e mental.
Já Matthew Fox desistiu de ser um exemplo moral na Ilha da Fantasia e se mascarou para uma nova missão, dessa vez desempenhar a função do anti-herói, o liberal desiludido que decide enfrentar o sistema com táticas quase de guerrilhas. Misterioso, desafiador, mas confiável, Corredor X trás a imprevisibilidade às pistas, mas também revelas as diferentes manifestações da justiça, conseguindo cooptar o não menos ambíguo Taejo em sua Missão.
Cena emblemática do filme: momentos finais, o grande duelo se aproxima. Um novo carro sai das oficinas do Papai Racer, resultado dos esforços de toda a família. O jovem Speed se encontra no cock-pit, no seu belo automóvel branco e vermelho. Seu clã está em segundo plano, cansados e felizes, com macacões azuis e blusas vermelhas.
Ao fim e ao cabo somente mais uma atualização da família americana, da bandeira pátria e das motivações individualistas que regem essa maravilhosa sociedade do ocidente. Os automóveis correm, mas nenhum piloto sabe ao certo o que o motiva, não faz mal, do lado de fora do cinema, no exterior do shopping, todos correm também, e, igualmente, desconhecem-se suas motivações.
Acima, vemos a bela bandeira americana
Cotação: Regular
sábado, 29 de março de 2008
Na natureza Selvagem
Na natureza selvagem (Into the wild), 2007. EUA. De Sean Penn
Por trás desse filme há um homem que quase morreu no Everest.
Portanto essa história tem uma poesia que nem todos podem compreender. Na natureza selvagem se baseia no livro homônimo do aventureiro Jon Krakauer que também é autor de No ar rarefeito (no qual ele relata sua escalada ao Everest em uma das expedições mais trágicas da história do alpinismo daquela montanha).
Já o filme, tem direção e roteiro de Sean Penn e, de forma bem eficiente, consegue transmitir o fascínio que os lugares inóspitos exercem sobre algumas pessoas. O enredo, a propósito, é muito mais do que isso, uma vez que relata a trajetória de um rapaz que, ao sair da universidade, decide se tornar um viajante, tendo como objetivo acampar no Alasca.
Trata-se de uma viagem pelos Estados Unidos, bem ao estilo de Jack Kerourac, que mais parece se assimilar a um percurso introspectivo. Nessa caminhada o jovem Christopher McCandless se torna Alex Supertranp, o andarilho. O que vemos, na verdade, é a recusa ao padrão de vida materialista americano.
Em cada parada, em cada quilômetro andado, Alex conhece novas pessoas, que, assim como ele, aspiram escapar desse sonho consumista ocidental. O jovem rapaz se mostra resoluto em sua disposição de cruzar a fronteira e encontrar o wilderness. Como Supertranp insinua, seu interesse é a fuga da civilização e opressão, representadas no hipócrita e destrutivo modo de vida dos seus pais.
A direção de Sean Penn se revela bem sucedida ao criar composições que metaforizam o entendimento do jovem aventureiro. As paisagens naturais aparecem como um plano geral e os embates com a natureza assumem a alegoria de obstáculos que esse jovem coloca a si mesmo.
Entre outros autores, Christopher McCandless é leitor de Tolstoi, o que explicaria sua ânsia por uma vivência simples na natureza que se contrapõe aos vícios da cidade. Em uma cena bem emblemática, o rapaz percorre por uma cidade, enquanto se questiona se deve buscar, ao menos por algum tempo, um pouso mais fixo. Contudo as mazelas da cidade, as desigualdades e a sociedade das aparências o empurram novamente em direção àquela estrada que vai para o Alasca.
Mas ninguém pode negar suas origens de todo. Supertramp nunca deixará de ser McCandless – conforme várias vezes será lembrado em sua trajetória. Ele não é um caçador, ele não é um nativo do Alasca, ele é simplesmente o belo e jovem branco de classe média alta. Cabe questionar sua prontidão para um desafio dessa envergadura proposta. Até onde ela é verdadeira? Mesmo Tolstoi teve que retornar à civilização; por que seria diferente com Supertramp?
Mas não nos esqueçamos que por trás desse filme (contribuindo com o roteiro de Sean Penn) está Jon Krakauer, alguém que quase morreu nas montanhas. Estamos falando de homens para os quais a vida ou a morte se coloca como questão secundária: superar o obstáculo, sentir a fragilidade da vida em seus ínfimos é o que importa.
Aventureiros, simplesmente isso.
Cotação: Bom
Assinar:
Postagens (Atom)