quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Abismo do Medo


Abismo do medo (The descent), 2005. Inglaterra. Pathé / Celador Films. De Neil Marshall.

"Abismo do medo ou quando Sex and the city vai à caverna"

O filme tem um final feliz.

Só quem assistiu ao filme vai entender o que eu quero dizer...

Seis mulheres acostumadas a fazer tours de eco-aventura decidem explorar uma caverna. Porém após um desabamento acabam por ficar presas em seu interior.

A premissa inicial é promissora. Uma das estratégias clássicas para nos conduzir ao medo é nos confrontar com o desconhecido. Funciona tanto para estruturar a trama quanto manter o telespectador interessado. A maior parte das pessoas diria: “nunca entraria em uma caverna como essa”. Mas, a verdade é que no momento em que assistimos à projeção nos comportamos como se fossemos as vítimas.

Imaginem: 3 km sob a terra, passando por lugares estreitos, a escuridão reina, as lanternas falham, o grupo está tenso (isso é um clichê, mas é verossímil e sempre funciona). Temos todos os ingredientes para construirmos uma história assustadora. Certo?

Errado. Infelizmente o que eu descrevi são apenas os primeiros atos do filme. Uma vez presas, a trama começa a se degringolar por um itinerário não muito original. Passamos de uma história de sobreviventes para um trilher de horror. No interior das cavernas elas percebem que não estão sós, que lá embaixo há estranhos hominídeos, verdadeiros canibais.

O tema da aparente normalidade é interessante. O que parece ser algo normal – somente mais uma caverna – esconde criaturas aterradoras. Esse conceito está presente em vários filmes de qualidades duvidosa como o clássico O massacre da serra elétrica, Pânico na floresta e Plataforma do medo. Uma casa no Texas interiorano esconde uma família de canibais; em uma floresta, uma outra família de canibais, geneticamente deformados, ataca viajantes na auto-estrada; dentro do túnel de um metrô uma estranha criatura perambula, vitimando trabalhadores e mendigos.

Esse tipo de horror está sustentado justamente nessa dualidade, a normalidade aparente esconde o covil do monstro. Se você seguir o caminho normal tudo estará bem, mas um simples atalho poderá conduzi-lo até o bestial.

Assim, assim. No caso de Abismo do medo, não funciona.

No momento em que as exploradoras ficaram presas e se depararam com seus habitantes, deveriam ter dito: “Olha, nós viemos lá de cima, estamos dizimando as formas de vida da superfície – na verdade estamos pondo fim no próprio bios – não se metam conosco por que somos humanas”.

E não estariam mentindo, pois, no decorrer do filme, as moças revelam uma grande facilidade para dizimar as criaturas da caverna. Lógico que as donzelas estavam salvando a própria pele e ao seu redor só havia carnívoros. Mas, bem, nesse sentido o filme, indiretamente, revela um pouco da banalidade do eco-turismo, o quão indesejável e predatória é a presença do homem.

Podemos perceber que havia um antigo equilíbrio biológico entre aquelas criaturas e a natureza ao seu redor. O azar das moçoilas foi se depara com esse ambiente no qual, definitivamente, não eram bem vindas.

Claramente essa é uma extrapolação um tanto maldosa, porém ela pode ser sentida dentro do filme. As rápidas aparições das criaturas assustam as girls e o telespectador, muito mais do que quando suas presenças passam a ser constante. Na medida em que o desconhecido vai se revelando como mais uma criação (mesmo que aberrante) da natureza, as senhoritas invectivam contra seu algozes com muito mais ferocidade. Houve um momento em que, rodeadas por seus inimigos, em uma postura de defesa tão cenográfica que eu gritei: “Mate esse maldito orc Legolas!”

Contudo há pontos positivos no filme, não há porque culpar o roteiro ou a direção. Não há, por exemplo, aquelas típicas personagens histéricas (que a gente ajoelha e reza para o assassino matá-las logo), as aventureiras também não cometem erros típicos, embora desesperadas conseguem reagir à altura dos acontecimentos. Mulheres modernas, arrojadas, independentes, que não ficam dando gritinhos, mas que conseguem um tempinho para discutir seus relacionamentos: Sex and the ciy and cave.

No ato final do filme, a premissa inicial da normalidade versus anormalidade é retomada, em uma seqüência intensa, na qual vemos uma das personagens vislumbrando sua escapatória. Não é um filme de horror, é um filme ecológico, me convenceu de que há nichos dos quais nunca deveríamos entrar...

Que ultraje. Mas o final é feliz, isso vocês vão ter que concordar.

Cotação: regular

P.s: Esse filme não é de todo mal, eu o reassisti e até vi algumas boas idéias, mas a cotação permanece. Observem também o formato diferenciado do cartaz, verticalizado.

3 comentários:

Observer Pereira disse...

Obviamente, outra republicação.

Amana disse...

O final é o melhor do filme.
Quando eu já estava dessensibilizada pelos monstros, que não me assustavam mais, o final foi um soco no estômago.
gostei.

Anônimo disse...

Não tem final!! É um sonho! Ela não saiu! O q são as criaturas? Ua familia que se perdeu a 200 anos se reproduziram entre eles gerando aberrações e como esstão no escuro não precisam de visão (Darwin explica). Esperemos o 3