Jogos de Apocalipse (After the Dark), 2013. De John Huddles
Este
filme tem um título alternativo, The Philosophers, empregado na distribuição
para outros lugares fora dos Estados Unidos. Os norte-americanos não gostam muito desse lance de filosofia e pensamento,
portanto faz sentido ficarem com um título genérico: After the Dark.
Valeu
a pena? Bem, podemos dizer que o filme é um esforço de abordar as temáticas
filosóficas na forma de autoconhecimento. Adolescentes multiculturais estudando
em Jacarta e oriundos de elites cosmopolitas enfrentam a prova final de um professor de filosofia cujo intuito é analisar as suas respostas individuais
diante do fim do mundo. Porém a filosofia apresentada em classe mostra-se restrita a um
exercício individualista e narcisista.
No
último dia de aula o sr. Eric Zimit impõe um exame surpresa aos seus
estudantes. Eles precisam decidir quem vive e morre com base em ocupações
fictícias atribuídas pelo professor. Os eleitos deverão ocupar um bunker no
decorrer de um ano com o propósito de salvar a raça humana. Nessas especulações os estudantes precisam tomar decisões e arcar com as consequências
de suas escolhas. Tudo no faz de conta, claro.
Ao perseguir com ameaças e ridicularizações um aluno chamado James, o sr. Zimit revela-se como o antagonista. Ele mostra-se irritado com o jovem, aparentando ter sentimentos de rivalidade e de ciúmes. Segundo o professor, James é privilegiado e por isso a pressão na disciplina é merecida. Interpondo-se entre os dois está Petra, namorada de James, mas com uma posição ambígua em relação ao Zimit. Detrás dos esforços argumentativos do professor se escondem as dificuldades diante da perda, revelando uma visão bem oposta a uma moralidade estoica que eventualmente ele poderia emular.
E em
meio a esse triângulo amoroso (ops.) somos agraciados com uma verborragia vazia sustentada
por um suposto pensamento criativo de um curso de Iniciação à Filosofia
Ocidental (ou algo do gênero). Partindo da proposta de imaginar realidades
possíveis, a narrativa se complica com a inevitável constatação do elitismo
sugerido: a salvação do mundo estaria nas mãos de uma dezena de jovens ricos.
O
filme se organiza a partir da dramatização de três cenários apocalípticos com resultados distintos. No entanto, ao enfatizar o caráter pedagógico das realidades
imaginadas a imersão em cada uma das histórias perde força. Talvez fosse
necessário enfatizar linhas de tempo possíveis ao invés de um tipo de RPG
educativo. Assim, nos importamos pouco com o destino dos personagens, pois
sabemos que nada daquilo é real.
O
filme também soa piegas ao defender com muito bom-mocismo as artes como o melhor
antídoto para a destruição do mundo. Afinal, depois da escuridão só restariam
os filósofos mirins na obrigação de decidirem entre a lógica ou a ética. Mas
parece que nesse exercício a questão do sexo e da sexualidade ganha maior
destaque do que a reflexão sobre a miséria e a finitude humana.
Mesmo com uma proposta bem intencionada o filme acaba nos entregando apenas um professor babão e uma garotada narcisista. Pensando bem, acho que o título After the Dark foi a melhor escolha mesmo.
P.s.: Por dever do ofício docente filme assistido muitas e muitas vezes; a última delas em 29/07/2024.