
Divã, 2009. Brasil. De José Alvarenga Jr.
“Repica Remi, repica!”
O cinema brasileiro vai bem, é o que dizem.
Como assim? Bem mal?
“Repica Remi, repica!”
Salas lotadas e público se identificando com as temáticas brasílicas. Viva! É a retomada do cinema nacional. Por exemplo, em Divã vemos as aventuras e os tropeços de uma respeitável senhora meia idade (sem ofensas), típica classe média. Professora particular, pintora amadora e dedicada esposa. Acompanhamos seus receios (que tédio), suas aflições (saco!) e seus desejos mais íntimos (ih…).
“Repica Remi, repica!”
Ela e seu marido, ela e seus filhos, ela e seus amantes (nossa, que escândalo), tudo naquela design “moderninho mas comportado”. Enquadramentos medíocres, cortes e diálogos característicos de uma telenovela. Narrativa previsível, encadeamento linear, personagens que amadurecem a partir das escolhas efetuadas e vivências experimentadas.
“Repica Remi, repica!”
A mulher adormecida em si mesma quer sentir novos prazeres, descobrir outros mundos. Mas e o cinema? Perguntam os desavisados. Onde está a Sétima Arte? A provocação? Quem se importa! Os diálogos são engraçados, carinhas bonitinhas na medida certa. As donas de casa recalcadas terão a oportunidade, nem que em um faz de conta bem vagabundo, de se imaginarem como transgressoras.
O ponto alto do filme: a dedicada Mercedes finalmente encontra um amante a altura. Chego a pensar (que roteiro mal feito!) que é uma de suas fantasias solitárias de 20 minutos. Nada, ela realmente traçou o bonitão do Theo, interpretado pelo Reynaldo Gianecchini, um gentil rapaz que deve visitar os sonhos de muitas quarentonas com alianças na mão esquerda. Consumado o affair, vemos na cena seguinte nossa Dona Ruanita* no salão – feliz como só as mulheres conseguem ser após uma noite de lua de mel – exclamando para seu cabeleireiro:
“Repica Remi, repica!”
Tão contentinha a ponto de querer um novo corte, mais coerente com sua condição de super-woman.
“Repica Remi, repica!”
Repica Remi, repica essa película e joga no lixo.
Ah, faz favor, repica.
* Dona Ruanita = Don Ruan
Cotação: péssimo