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domingo, 6 de abril de 2008
Sangue Negro
Sangue Negro (There Will Be Blood), 2007. EUA. De Paul Thomas Anderson.
O Atual contexto justifica as representações negativas do petróleo e posso adiantar que em vários momentos o filme é assustador. A música de fundo soa como um prenúncio fúnebre, mesmo nos momentos em que os personagens revelam uma comedida felicidade.
O protagonista parece saído de um conto de fadas, mas não é um cavaleiro ou príncipe, trata-se de um ogro que, no desenrolar da história, acaba por revelar suas sinistras facetas. Daniel Planiwiel é um perscrutador de petróleo que em finais do século XIX e começos do XX anda pelas terras da Califórnia, em companhia de seu filho, a procura de lugares para furar novos poços.
A princípio ele se apresenta como um empreendedor, ganancioso e ambicioso, mas humano. Na medida em que seu corpo passa a ser coberto pelo negro óleo e sangue (esses dois fluidos, afinal, não seriam a mesma coisa?) a sua malícia e desdém pela humanidade vêm à tona. Por vezes, ele surge como um Mefistófeles, disposto a comprar não só a terra, mas também a alma daqueles que cruzam seu caminho.
Sua aparência rústica e burlesca esconde uma vocação arrivista insuperável. O personagem, na verdade, revela-se como uma profecia das futuras companhias petrolíferas que passariam todo o século XX a fender profundamente o solo, na incansável busca por esse sangue da terra.
O filme, no entanto, não se limita a esse personagem, ele traz uma série de seqüências e coadjuvantes que beiram o insólito. O jovem pastor Eli Sunday se expõe como o contraponto àqueles que buscam o petróleo. Ele é o elemento pré-moderno da sociedade que tenta hostilizar a racionalidade e indiferença das técnicas contemporâneas. Como todo passadista o que ele mais ressente é a perda do controle sobre a comunidade tradicional, o que, no filme, pode ser lido como a chegada de Planiwiel.
Os diversos embates entre Sunday e Paliniwiel marcam claramente o que cada um está disposto a ceder para conquistar os objetivos. Trata-se do confronto entre a alienação religiosa pentecostal e a ganância ensandecida do capitalismo moderno.
Uma das cenas mais fortes é aquela seqüência na qual Daniel Planiwiel corre com seu filho ferido no colo, atrás si está um poço a expelir um denso jacto negro. A música no fundo (mecânica, impessoal, sinistra) confirma o evidente: algo começou a dar muito errado. Em poucos segundos, as chamas se ascendem e se propagam, com elas se incinera o restante da alma desse homem do petróleo.
Os cenários, o acompanhamento musical e os personagens sugerem, de forma inequívoca, que a busca daqueles homens é pela poção infernal. Bebida do Demo.
Do Demo.
Cotação: Ótimo
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