sábado, 17 de novembro de 2007

A loja mágica de brinquedos

A loja mágica de brinquedos (Mr. Magorium’s Wonder Emporium ), 2007. E.U.A. De Zach helm

Assistir um filme como este nos impõem vários desafios. A começar pelo problema das dublagens, pois, supõe-se, que nossas crianças não sabem ler. O primeiro filme com legendas que assisti foi Lua-de-mel assombrada (com Gene Wilder, lembram?) e eu só tinha sete anos. Claro, eu não era prodígio nenhum, a indústria cultural é que não havia desenvolvido essas novas táticas de massificação.

Eu aprecio muito os filmes (e a (boa) literatura) direcionada para o público infanto-juvenil, pois é importante fornecê-los experiências estéticas válidas e compatíveis com seus níveis cognitivos. Porém, as crianças estão mais preocupadas com a pipoca, comendo porções cada vez maiores (regadas a coca-cola) e não raro engasgando. É difícil se concentrar no filme, pois, além da dublagem há o problema dos mastigados dos garotos. Contudo, o silêncio dura enquanto durar a pipoca, terminado o consumo, eles começam a se remexer nos bancos, a conversar com as mães, a andar pelos corredores. Enfim, é um inferno. Deveriam fazer um balde de pipoca que durasse durante toda a projeção. Um pote gigantesco, no qual as crianças cairiam e se afogariam.

Mas, em parte, a culpa também é do filme, que não consegue desenvolver um bom diálogo com seu público alvo. Não que Natalie Portman não tente, já que sua atuação é completamente infantilizada (e não é a personagem, mas a atuação da atriz). Até confesso que ela está uma gracinha, mesmo num papel tão limitado. Porém, há algumas cenas constrangedoras, na qual a bonitinha Molly Mahoney (sacaram as sutilezas do nome?) demonstra uma dificuldade de escapar do mundo infantil e se integrar ao universo dos adultos. Um erro em que nem o próprio Magorium (Dustin Hoffman), o mágico criador da loja, resvala, já que, apesar de sua excentricidade ele parece ter uma percepção bem definida dos elementos da vida. Suas frases, ainda que piegas, denunciam uma sincera interpretação da realidade, abordando questões complexas, como a morte, por exemplo.

Uma das principais deficiências do filme é que a questão da mágica tem um papel diminuto, optando por enfatizar os dilemas e as dificuldades dos personagens. Questões desinteressantes como o garoto que não conseguia fazer amigos, o contador incapaz de usar a imaginação e as dificuldades de Mahoney em “encontrar seu caminho” é que dão o tom da história. O próprio cenário da loja, com seus brinquedos sui generis, raramente desperta o espanto e a admiração do expectador, acostumados a composições mais grandiosas, a exemplo da franquia Harry Potter.

O mais destacável é a sinceridade do roteiro, não extrapolando seus objetivos ao abordar a dicotomia loja mágica-mundo real de forma convincente. Só vêem o maravilhoso aqueles que querem, o resto, os adultos, desapercebem as coisas ao redor. Nas cenas em que Mahoney e Magorium dançam na rua ou pulam nos colchões de uma loja de estofados, vemos o desinteresses dos demais, que andam eretos e rápidos, incapazes de se integrar àquele universo mágico.

A trama se encerra didaticamente, cada personagem aprende uma lição, o que não equivale, necessariamente, ao crescimento. O desfecho também é limitado, não gerando um deslumbramento final no público.

Aliás, um público difícil. Que fala demais, que come demais, que conversa demais. Poucos conseguem se integrar plenamente na dinâmica mágica do enredo. Ainda há que se discutir a necessidade de um cinema próprio para as crianças, a sala escura talvez não seja a melhor estratégia. Nesse sentido, não é que as crianças são travessas e nem que o filme falhe completamente. É muito mais o mal humor do crítico perante o risco de massificação do público jovem. Os meninos até querem o cinema, porém é crucial que as narrativas fílmicas, o espaço físico da exibição e o posicionamento dos pais ensinem – sem ser pedagógicos – as formas mais proveitosas de interagir com a sétima arte.

Porque correr no cinema e se engasgar com a pipoca não dá. Simplesmente não dá.

Cotação: Fraco

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