segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Ultimato Bourne

O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum), 2007. De Paul Greengrass.

Mesmo com o declínio dos filmes de espionagem - que tem relação com o fim da Guerra Fria - o interesse nas histórias de agentes secretos e intrigas internacionais não desapareceu. No entanto, a perda de qualidade da franquia de James Bond (que se tornou mais um ianque contra o terrorismo) gerou um vazio no gênero difícil e ser preenchido. A propósito, é curioso um paralelo entre James Bond e Jason Bourne (reparem que as iniciais dos nomes são as mesmas).

Portanto a "triologia" Bourne tem uma razão de ser. Nessa terceira parte, o filme se apresenta maduro e ambíguo, conseguindo superar as polarizações usuais entre mocinhos e bandidos. Bourne é um ex-agente da Cia que perdeu sua memória. Seu principal interesse é desvendar sua identidade civil, reconhecer quem ele era antes de entrar na Agência de Inteligência. Bourne é perfeito no que faz, isto é, Bourne é perfeito em matar e agredir pessoas, entrar e sair de lugares vigiados, executar tarefas complexas e se recuperar rapidamente de imprevistos.

Bourne é um assassino, para isso ele foi programado, contudo, ao perder a memória ele não sabe a que fins ele servia. Aos poucos, ao agrupar uma série de indícios, foi se evidenciando que sua finalidade era servir ao jogo sujo da Cia, uma agência de inteligência que parece pouco preocupada com os civis, muito embora seu discurso seja o de "defender os americanos".

Há uma cena em que os agentes realizam uma operação em uma estação de trem em Londres, pouco se importando com a população que perambulava no local. Um momento em que nos remete à morte do brasileiro Jean Charles, que foi alvejado na estação de metrô londrina por policiais anti-terroristas.

O que O Ultimato Bourne evidencia é o quão espúrio são os serviços de inteligência. Os culpados podem até ser os corruptos, mas eles nada mais são do que criações de uma estrutura viciada e totalitária.

Trata-se de um filme global, com locações em várias partes do mundo. Virgína, Londres, Marrocos, Rússia. Enfim, o filme faz questão de enfatizar as conexões mundiais das inteligências. Há uma cena interessante, em que a câmera acompanha Bourne, no momento em que ele entra em uma sacada. A câmera inicia um movimento rápido e começa a expor um cenário da favela do Terceiro Mundo. Porém o plano geral não ocorre, o que é uma pena, mas é perceptível o interesse em mostrar o mundo de uma forma não exótica. Pois, se o argumento é que vivemos em um mundo globalização, o centro e periferia estão mais próximos do que imaginamos.

Aliás, o principal mérito do filme é a câmera, que se move com intensidade, ela transmite ao telespectador a própria impressão de Jason Bourne do que ocorre ao seu redor. A imagem é tremida e rápida: fragmentos de visões, coerentes com um homem mentalmente machucado.
Quando ele está em confronto, a câmera balança, avança, recua, treme. Porém quando Bourne se acalma, a câmera volta a ser estática. É uma sincronia entre a respiração do personagem e a objetiva, o que revela a competência já conhecida de Paul Greengrass.

Por fim, cabe lembrar a própria constituição do personagem, Bourne é solitário, ele não se dá o direito de conviver por muito tempo com as pessoas. Ele visita rapidamente o irmão de sua ex-namorada (que foi assassinada pela Cia) e novamente desaparece no mundo. Quando achamos que haverá um afair entre ele e Nick Parsons (interpretada por Julie Stiles) somos surpreendidos com a cena na qual ele a coloca em um ônibus, abandonando-a em algum lugar remoto da África.

O que Jason Bourne parece expressar é que todos os exímios são solitários, sobretudo se a arte que eles dominam seja a de agredir.

Cotação: Regular

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