Bobby (Bobby), 2006. De Emilio Estevez.
Enfim um filme que é tanto um posicionamento político quanto uma irrefutável obra cinematográfica. Uma produção que conseguiu reunir nomes importantes do estrelato hollywoodiano, porém mantendo um compromisso com o ideário progressista e democrático.
Bobby toma como ponto de partida – e eixo condutor de toda narrativa – a presença de Robert Kennedy no Hotel Ambassador, em meio às prévias para a disputa presidencial. A trama abarca distintas pessoas que tiveram alguma relação com o hotel no dia do assassinato desse político.
A história é feita de possibilidades, e o que essa produção tenta nos convencer é que “Bobby” representava a possibilidade de uns Estados Unidos não militarista, não segregacionista, preocupado com os interesses dos próprios cidadãos, intencionado na busca e ampliação dos direitos civis e sociais.
O contraponto é óbvio: uma América possível (Utópica) e uma América Realmente Existente. O desaparecimento precoce de Robert Kennedy implicou em um era belicosa vivenciada pelos Estados Unidos, que se estende até o presente, representada por um líder que muito se distancia dos pressupostos do liberalismo americano clássico. Com efeito, ao menos no nível imaginário, o atual presidente norte-americano seria o oposto do amigável “Bobby”.
A narrativa faz questão em mostrar a presença do candidato nas diferentes camadas sociais, abarcando os negros, os imigrantes em geral e até mesmo uma representante de um regime socialista. Esse filme segue a contramão da xenofobia e do patriotismo provinciano e chauvinista. A intenção é rememorar uma era quase mítica, na qual havia uns Estados Unidos que não discriminava as pessoas por sua origem racial, condição econômica ou crença política.
Contudo, para além desse imaginário democrata que impregna toda a tessitura do filme, há também de convir que estamos lidando com cinema. Um trabalho forte, sucinto – com alguns exageros dramáticos é verdade (um excesso descartável) –, mas ainda assim um filme bem dirigido e bem decidido.
O individual se liga ao público. O ato final, no qual presenciamos o desfecho da história de Robert Kennedy, percebemos como as historietas se ligam – diversos personagens cujas trajetórias se cruzam ao final. Uma das melhores cenas do filme é aquela em que a euforia da vitória é rapidamente substituída pelo pânico da notícia do atentado a vida de “Bobby”.
Bobby é um réquiem para uma América que não foi, mas que poderia ser. Aquele sonho um tanto ingênuo e pueril dos anos sessenta, mas que, se comparado com o cinismo da realpolitk contemporânea, parece coerente e consistente e, antes de tudo, desejável.
Cotação: Bom
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