Happy Feet – o Pingüim (Happy Feet), 2006. EUA. De George Miller
Um filme sobre os pingüins imperadores, exímios cantadores. Para o acasalamento, eles formam seus pares a partir de cantos. Porém, um deles, chamado Mano, tem uma peculiaridade: é incapaz de cantar, ele só consegue expressar seus sentimentos através da dança.
Essa sua habilidade o indispôs perante seu grupo, sobretudo os mais velhos. Mano é um desolado, inapto a seguir os antigos rituais de corte e acasalamento da espécie. A impressão inicial é estarmos diante de mais uma das tantas atualizações do patinho feio. Um novo exemplar das fábulas de aceitação social, bem ao gosto da Disney ou da DreanWork. O exemplo mais recente que me vem a mente é sobre um ogro que se diz misantropo, mas cujo anseio mais íntimo é justamente a inclusão nos padrões da maioria.
Na verdade, um dos paradoxos das sociedades ocidentais contemporâneas é o culto ao individualismo ser complementar às medidas de massificação e homogeneização dos gostos e sensibilidades. O cinema americano tem uma predileção por aquele modelo de herói que se diz diferente, mas que, ao final, mesmo que implementando alguma mudança, acabará por aceitar uma reordenação conservadora do sistema (lembrem-se do desfecho de FormiguinhaZ). Aula de sociologia funcionalista no mais elementar grau... Sem dúvida que esses problemas perpassam Happy Feet do início ao fim, e durante os primeiros atos eu tinha a convicção de que estava a desperdiçar uns 90 minutos do meu tempo.
Contudo, na metade da projeção o enredo adquire uma nova conotação, a meta do personagem (de conquistar a amada e ser aceito pelo seu bando) é substituída por uma nova missão, a de compreender a razão do desaparecimento dos peixes. Esta atípica ave decide realizar uma jornada em direção a seres desconhecidos (os ETs) que, supostamente seriam responsáveis pela carestia dos víveres.
Com esse incremento, a narrativa acaba por tomar um fôlego, trazendo um sutil pensamento ecológico que é até inofensivo, mas, ao menos, não se resvalando na pieguice.
O jovem Mano descobre nos ETs criaturas indiferentes, incapazes de perceber o sofrimento dos demais. Gigantescos e poderosos, eles eliminam todas as formas de vida, dos peixes às baleias, não há criatura capaz de fazer frente à voracidade desses insaciáveis alienígenas. Caberá ao pingüim encontrar meios para se comunicar com tais seres, dissuadindo-os da predação irracional dos peixes.
No Pólo Sul há muitos animais que ameaçam a vida dos pingüins, como as gaivotas, os leões marinhos e as baleias. Porém, no desenvolvimento do filme, evidencia-se que o maior perigo reside nas inexplicáveis ações daqueles estranhos alíens que, por onde passam, deixam um rastro de destruição e sujeira. Sem dúvida, o perigo vem do espaço.
Cotação: Bom