domingo, 30 de dezembro de 2007

O homem que não estava lá

O homem que não estava lá (The Man Who Wasn’T There), 2001. EUA. De Joel Coen

Está claro que o diálogo é com o cinema Noir. A fumaça, os cigarros e a fotografia em preto e branco nos sugerem o universo ao qual os irmãos Coen pretende nos conduzir.

Porém, o cinema feito em 2001 nunca será o cinema dos anos trinta ou quarenta. O amoralismo do movimento Noir não pode ser recriado com tanta facilidade, e embora o personagem principal, Ed Crane (interpretado por Billy Bob Thorton), não tenha remorso por suas ações, ele está condenado, de alguma forma, a pagar por seus crimes. Assim, uma referência plausível é Crime e Castigo, pois cabe ao desajustado purgar pelo seus erros.

Entretanto o roteiro é bem construído e, embora a trama esteja em constante mudança, não nos deixa de surpreender que, em um filme sobre assassinatos, haja momentos em que discos voadores, de uma forma um tanto inusitada, entrem na história.

O filme é sobre um homem que, embora com uma vida insípida, não deixa de experimentar arroubos de otimismos, justamente o que o conduz a situações catastróficas. Dentro do universo dos irmãos Coen, ele seria uma outra versão daquele incompetente vendedor de carros, que trama o seqüestro da própria esposa em Fargo.

A narrativa é um tanto “esticada”, o que acaba por provocar uma impaciência, principalmente no ato final, quando o remate se torna previsível. Assim como em Fargo a situação inicial é simples, mas aos poucos as complicações aparecem, com amplitudes imprevisíveis.

Eu um momento do filme, alguém fala que Ed Crane é um homem moderno: solitário, sem um lugar definido no mundo, um tipo comum e inofensivo. Dificilmente ele poderia ser tomado como um homem comum, pois seu estoicismo é admirável, não o vemos sorrindo ou chorando, sua feição é sempre a mesma.

Em O homem que não estava lá não existe espaço para o livre arbítrio, pois uma ação longínqua pode o afetar sem que você perceba. A possibilidade de felicidade está vedada. Um carro na contramão, uma nave alienígena, a lavagem a seco, tudo está interligado, denunciando o absurdo da vida e a confirmação do Princípio de Incerteza: quanto mais se procura menos se acha.

Assim, a mentira é preferível, pois ela simplifica a realidade, assim, a morte é preferível, pois ela simplifica a vida.

Cotação: Bom

Nenhum comentário: