terça-feira, 18 de dezembro de 2007

MeninaMá.com

MeninaMá.com (Hard Candy), 2005. EUA. De David Slade

Em um dos clipes que a tornariam conhecida, aquela garota de uns 15 anos, apareceria dançando em uma escola, com um uniforme escolar bem sui generis, saia acima do joelho, posições insinuantes e requebrados profissionais. Falo de Britney Spears e sua precoce aparição na mídia televisiva, realimentando o imaginário da Lolita.

Uma constatação interessante é observar como nossa sociedade preza a juventude e a beleza noviça, em outras palavras, não há como negar o potencial pedófilo de nossa cultura. A todo momentos lindas jovens são mostradas na televisão, a sexualização das adolescentes é recorrente e não requer que citemos maiores exemplos.

Se adoramos a pedofilia, por outro lado, odiamos o pedófilo. Aquele ser asqueroso e viscoso, que contraria as leis de Deus, da Sociedade e da Sacrossanta família. Trata-se de um verme que age sorrateiramente, corrompendo nossos filhos e filhas. A grande questão é entender a contradição entre nosso desejo pela juventude ilimitada e a condenação daqueles que, de fato, a procuram. O pedófilo nada mais faz do que seguir a risca os conselhos disseminados pela poderosa publicidade de cosmético: lindas jovens que comparecem perante o público vendendo produtos contra envelhecimento.

Seguindo as tendências sádicas da nossa sociedade, o que temos é a promessa do super-orgasmo nunca atingido. A relação entre a juventude e o prazer pode ser utilizada para vender uma gama de supérfluos, mas jamais deve ser buscada verdadeiramente.

Todas essas reflexões me conduzem a apreciação do moralista MeninaMá.com, um filme sobre o qual, definitivamente, devemos desejar o mais rápido esquecimento. A narrativa se estrutura no embate entre uma misteriosa garota que surge na vida de um homem solitário, supostamente um pedófilo. Hayley, de 14 anos, decide punir Jeff, 32 anos, para isso ela o submete a condições degradantes, se valendo de drogas e torturas físicas e psicológicas.

Jeff supostamente é um agressor sexual, mas eis que surge, como um anjo justiceiro, uma menina de 14 anos, disposta a vingar todas as mulheres feridas. Em um mundo no qual crianças estão aptas a torturar um ser humano (independente dos crimes cometidos), o pedófilo será o menor dos nossos problemas.

O que percebemos é o impulso do puritanismo sexual. Uma criminalização absurda dos desvios sexuais, inserida em uma perspectiva moralista, na qual possuir uma patologia (ou desvio social) equivale a possibilidade de sujeição à tortura ou à pena de morte. Não se acredita na possibilidade da regeneração, da recuperação. O intento é eliminar o dissonante, em proveito da unidade, da totalidade.

Sabemos que estupradores ou, em alguns casos mais isolados, homossexuais quando caem nas mãos da população terminam linchados, é assim que se resolve o problema dos desviantes, com intolerância e violência extrema. O Estado de Direito e a direito a ampla defesa soam como fábulas...

Para avaliar a controvérsia da repercussão desse filme no universo dos críticos sugiro duas leituras, a primeira é a inteligente apreciação de Luiz Fernando Gallego que, reconhecendo os méritos técnicos da produção, escancara o potencial totalitário do enredo. A outra sugestão é de um crítico, cujos textos têm grande apreciação entre os internautas, divulgados no pop-site Cinema em Cena.

Em última instância, permanece a questão da adesão a escalas de valores. Moral de aldeia (fascista e hipócrita) ou crença no Estado como mediador de conflitos e na necessidade de compreensão (e correção) do comportamento humano?

Enquanto isso Britney, que agora já é adulta, rebola, rebola sem parar.

Cotação: Fraco

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