✈ Crítica a jato
As
pessoas ficariam surpresas se parassem para assistir filmes do período do cinema
silencioso, a linguagem cinematográfica é bem potente para transmitir as
mensagens por meio das imagens dessincronizados do som.
Um
excelente exemplo é o filme O Homem que ri de 1928, uma adaptação melodramática
do romance de Victor Hugo. O início do filme expressa potência com o cenário claustrofóbico e com a apresentação de personagens marginais, introduzindo, inclusive, temas macabros, tais como os ciganos comprachicos. A história, no entanto, é um romance cujo arco geral centra-se na redenção por meio do amor incondicional. Os temas do terror são tangentes e talvez até não intencionais.
A trama se passa no final do século XVII e o personagem principal, o palhaço Gwynplaine (interpretado por Conrad Veidt), foi deformado com um sorriso abjeto a mando do rei James II quando ainda era criança - vingança do monarca contra o filho de um nobre revoltoso. Consta, inclusive, que o vilão Coringa do Batman foi inspirado nessa figura. A imagem trágica de Gwyn, no entanto, não traz o germe da loucura, a autopercepção da não aceitação traduz-se simplesmente na busca da dignidade diante da monstruosidade.
Adotado por um circo itinerante, o artista Gwyplanine ao lado de sua amada Dea (uma moça cega que ele salvara na infância) se torna uma atração nas feiras populares, conhecido como “o homem que ri”. Porém, as origens nobres do palhaço, quando descobertas, envolvem-no em uma trama palaciana da rainha Ana, incluindo as heranças, os casamentos arranjados e os raptos de donzelas por malvadões de capa...
A
construção do cenário, com muita influência do expressionismo alemão, o desempenho
de Veidt (sustentando uma carranca impressionante) e a trama rocambolesca de inspiração
romântica registram a fase final do cinema silencioso. Inclusive a sonoplastia
já avançava para a introdução do som sincronizado com falas na tessitura fílmica.
Destaque para a capacidade didática do roteiro em explicar longos desdobramentos sem o excesso de intertítulos, isto é, as placas informativas e os diálogos em texto. Quer
dizer, temos um filme maduro capaz de organizar uma história banal dentro de uma ambiência sombria, prenúncio da era dos filmes de terror da
Universal.
O
homem que ri tem ainda hoje elementos capazes de entreter uma plateia adulta, com
exceção daqueles que apreciam vídeos de trinta segundos de uma plataforma
bastante popular entre os jovens.