domingo, 7 de junho de 2009
10 constatações cinematógráficas.
Os negros americanos acham Conduzindo Miss Dayse ultrajante, Morgan Freeman surge como alguém muito auto-condescendente.
Michael Bay nunca deveria ter existido, se houvesse um código de ética no cinema ele estaria longe dos portões de Hollywood. Bem, se existisse um código de ética para o cinema acho que não teríamos Hollywood.
As comédias românticas foram criadas para satisfazer as fraquezas emocionais de adolescentes gordas de 17 anos. As razões pelas quais tal produto caiu no gosto geral ainda não são inteiramente conhecidas.
O cinema americano é capaz de tudo: explosões, combates sangrentos ou anêmicos, canibalismos, insinuações sexuais das jovens lolitas, violência realista ou caricata, pelejas, patriotismo barato, redenção de vingadores, mercantilização dos corpos feminino e masculino. O cinema americano só não é capaz de lidar com a nudez masculina, nem por 10 segundos. Há que se pensar se Hollywood não terá, um dia, que deitar no divã.
A julgar pelo cinema, a América está rodeada de inimigos. Em ordem: alemães, japoneses, russos, chineses, mexicanos e árabes. Certamente, eis o fardo do homem branco (sic).
O cinema de terror/horror está em declínio, as possibilidades de assustar, incomodar e revoltar foram diluídas e adquiriram um novo formato mais palatável aos garotos espinhentos que escutam Red Hot Chili-peppers. Não se esquecer que as loiras peitudas de 18 anos continuam presentes nesse gênero: magrinhas, indefesas e com roupinhas bem insinuantes. Ai, que clichê o imaginário masculino...
A julgar pelo cinema, a América pode contar com poucos aliados. Os únicos confiáveis são os ingleses, uma vez que os franceses não passam de uns “flosôs” (sic).
Jason X nem é tão ruim, a relação fetichista entre o nerd semi-adolescente e sua dróid é bem anos oitenta.
O cinema americano deveria se circunscrever as suas especialidades e parar de biografar os devassos notários. Contos proibidos do Marquês de Sales foi constrangedor, reduziram um pensador iluminista à insanidade. O desaparecimento de Garcia Lorca nos convence do cristianismo e do “bom-moçismo” de um aguerrido dramaturgo anarquista. O Libertino faz desejarmos a monogamia e o sexo com camisinha. Por favor, que não se dediquem às vidas de Nietzsche ou de Marx!
A sala de projeção é mágica, o momento por excelência da realização cinematográfica. Também deve comportar algo de afrodisíaco, pois os casais de namorados frequentemente confundem Cineplex com motel.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Divã
Divã, 2009. Brasil. De José Alvarenga Jr.
“Repica Remi, repica!”
O cinema brasileiro vai bem, é o que dizem.
Como assim? Bem mal?
“Repica Remi, repica!”
Salas lotadas e público se identificando com as temáticas brasílicas. Viva! É a retomada do cinema nacional. Por exemplo, em Divã vemos as aventuras e os tropeços de uma respeitável senhora meia idade (sem ofensas), típica classe média. Professora particular, pintora amadora e dedicada esposa. Acompanhamos seus receios (que tédio), suas aflições (saco!) e seus desejos mais íntimos (ih…).
“Repica Remi, repica!”
Ela e seu marido, ela e seus filhos, ela e seus amantes (nossa, que escândalo), tudo naquela design “moderninho mas comportado”. Enquadramentos medíocres, cortes e diálogos característicos de uma telenovela. Narrativa previsível, encadeamento linear, personagens que amadurecem a partir das escolhas efetuadas e vivências experimentadas.
“Repica Remi, repica!”
A mulher adormecida em si mesma quer sentir novos prazeres, descobrir outros mundos. Mas e o cinema? Perguntam os desavisados. Onde está a Sétima Arte? A provocação? Quem se importa! Os diálogos são engraçados, carinhas bonitinhas na medida certa. As donas de casa recalcadas terão a oportunidade, nem que em um faz de conta bem vagabundo, de se imaginarem como transgressoras.
O ponto alto do filme: a dedicada Mercedes finalmente encontra um amante a altura. Chego a pensar (que roteiro mal feito!) que é uma de suas fantasias solitárias de 20 minutos. Nada, ela realmente traçou o bonitão do Theo, interpretado pelo Reynaldo Gianecchini, um gentil rapaz que deve visitar os sonhos de muitas quarentonas com alianças na mão esquerda. Consumado o affair, vemos na cena seguinte nossa Dona Ruanita* no salão – feliz como só as mulheres conseguem ser após uma noite de lua de mel – exclamando para seu cabeleireiro:
“Repica Remi, repica!”
Tão contentinha a ponto de querer um novo corte, mais coerente com sua condição de super-woman.
“Repica Remi, repica!”
Repica Remi, repica essa película e joga no lixo.
Ah, faz favor, repica.
* Dona Ruanita = Don Ruan
Cotação: péssimo
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Ele não está tão a fim de você
Ele não está tão a fim de você (He's Just Not That Into You), 2009. EUA. De Ken Kwapis
Faz tempo que não escrevo sobre bons filmes, nos últimos posts tenho favorecido essas produções mais insossas, a razão para isso não é o interesse em criar polêmicas ou provocar o espectador médio, mas, confesso, são as nulidades que mais me despertam o fascínio.
O que alguém busca em um filme como esse? Quais os conteúdos ocultos existentes nessas películas?
Parece que estamos falando do amor, mas uma interpretação desse sentimento muito específica, baseada em preceitos próprios de uma sociedade conservadora e de consumo. O velho e desgastado modelo da comédia romântica, com algumas incrustações que iludem o desavisado, a falsa promessa de uma dinâmica mais modernosa.
É um mundo no qual inexiste a pobreza, as únicas preocupações são os beijinhos na boca e o sexo apaixonado. Mulheres buscam o par perfeito, objetivam casar, faz parte da essência feminina; uma das personagens, inclusive, evoca essa lei, ao falar para seu parceiro que o matrimônio é uma etapa obrigatória da vida a dois. Trata-se da naturalização de um modo de vida e da eleição de uma série de valores potencialmente machistas (há a esposa, o marido e as obrigações/funções decorrentes), mas legitimados por um discurso idílico e romântico.
Já os homens estão relutantes em aceitar essa “lei da natureza”, pois são garanhões natos, conquistadores – querem a quantidade e não a qualidade. Quanto mais mulheres passarem pelos seus leitos, melhor. Esforçam para se manterem livres da monotonia do sexo monogâmico, no fim das contas são um presente de Deus para as gentis donzelas.
Na grande batalha dos sexos cabe a mulher um papel fundamental: vencer a áurea cafajeste masculina e impor o desejo de uma vida sob a égide do “... até que a morte os separe”. Jogo da vida, alguns vencem e outros perdem, estes últimos ineptos para os prazeres dos atos conjugais.
Dentro desse universo previsível agem os personagens, que mais parecem autômatos, desde o início condicionados em buscar a “cara metade”, o “par perfeito”, a “alma gêmea”. As personagens femininas são tão estúpidas que realmente merecem a solidão, presas às mentiras masculinas, revelam-se incapazes de escapar do desejo de construir e viver em uma casinha de bonecas. Despendem um bom tempo construindo suas casas (real ou figurativamente), a cenografia diz tudo: “Estamos brincando de The Sims, onde coloco essa cadeira? Qual o ladrilho devo escolher?”.
Os homens são adoráveis vagabundos – com exceção dos pobres coitados que padecem da falta de virilidade e assim não arrebatam as gatinhas mais prendadas, tal como a Scarlett Johansson. Riem da paixão e do casamento até a descoberta do grande amor, nessa ocasião se atirarão encantados em direção aos braços de suas Dulcinéias ou Clementinas. Pelo grau de imaturidade e incapacidade de uma relação responsável com o mundo, todos eles mereceriam câncer de próstata e calvície avançada.
A fórmula do filme segue abaixo.
Ele não está a fim de você. Por quê? É um babaca, um imaturo, não está pronto para o amor, só quer sexo, não quer ter filhos, recusa compromissos, não acredita nos verdadeiros sentimentos. Ele finalmente ficou a fim de você! E aí, o que acontece? Vocês se casam, têm filhos, mudam-se para o subúrbio, andam abraçadinhos e viverão um para o outro.
É um discurso convincente, há sempre um público para acreditar nessas promessas. Mas do ponto de vista da narrativa fílmica percebe-se a previsibilidade e os lugares comuns repletos de moralismos, com implícitos chauvinismos e as homofobias de sempre (mesmo que diluídas em um grau de aceitação social).
Já disse, é a naturalização de um modo de vida, a hipertrofia da esfera privada, o deleite extremo do intimismo. Me fascina a idéia de que tais banalidades tem público cativo, todos os problemas do mundo, dentro de tal perspectiva, findam-se no altar.
Conveniente. Mas para quem? Essa é a pergunta.
Cotação: péssimo
Assinar:
Postagens (Atom)