O curioso caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button), 2008. EUA. De David Fincher
Hum... é uma picaretagem erudita, se você tiver imaginação e gostar dos dramas Hollywoodianos certamente sairá satisfeito com esse trabalho – muito bem produzido – de David Fincher. No entanto, Jack (1996) de Copolla, com muito menos recursos já nos havia contado uma história similar, mesmo que abusando do ingrediente “água e açúcar”. Tratava-se da história de um garoto que envelhecia mais rápido que o normal, e embora sua mente fosse de uma criança, o corpo era de um adulto.
Em O curioso caso de Benjamin Button temos o inverso, a história de uma criança que nasce velha e, no decorrer dos anos, vai rejuvenescendo, seu relógio biológico encontra-se invertido, empurrando-a da senilidade para a fase lactante. Porém sua mente segue o “ritmo natural”, isto é, sua idade mental sempre está em contradição com a idade física.
De fato, um caso curioso: o motor do filme, se é que assim se pode se expressar, e que dará o fio da meada para acompanharmos a trajetória de Benjamim Button (Brad Pitt) e a sua delicada relação com Daisy (Cate Blanchet). A história é contada do ponto de vista do protagonista, mas a narradora é a neta de Daisy que lê o diário de Benjamim para sua avó moribunda. Hollywood tem uma predisposição toda especial para colocar velhinhas no leito de um hospital (principalmente se forem sulistas), vide o “feminista” Telma & Louise e o constrangedor Ao entardecer (2007, de Lajos Koltai).
O curioso caso de Benjamin Button é consistente, tecnicamente primoroso, vide as ambientações e as próprias maquiagens. No entanto o desenvolvimento do roteiro não consegue escapar dos rocambolismos do gênero. Sofrendo da síndrome de “Forrest Gump”, o protagonista vivencia importantes lugares e eventos, tendo inclusive a chance de participar de um combate contra um submarino nazista, ocasião em que um reles barco rebocador de terceira categoria consegue derrotar (com alguns sacrifícios é claro) uma dessas poderosas máquinas de guerra dos malignos alemães.
Gump, digo Button, desde seu nascimento, quando é quase atirado em um rio, logo em seguida adotado por uma simpática funcionária de um asilo, tem como principal desafio conjugar sua idade física com a mental, na tentativa de alcançar um equilíbrio. Digamos, mentalidade de 17 anos e físico de 67 não é uma situação muito confortável, mas a decrepitude física não o impede de se relacionar com o mundo através da percepção própria de um jovem.
Pode se dizer que o filme seja a crônica de uma morte anunciada, com todos os elementos típicos desses melodramas refinados. As tragédias, os desencontros amorosos, os perecimentos e nascimentos, o “aprendizado de vida” e toda essa parafernália de lugares-comuns chics. Há no meu entender algumas falhas no roteiro, mas que não merecem ser citadas, para não dar ensejo ao previsível (mas não justificável) argumento de que se trata de uma fábula, no entanto, garanto que não vi unicórnios, salvo um ou dois beija-flores. A possível explicação para a singularidade de Button é desconexa e não liga nada com nada – antes tivesse sido descartada.
Curioso é que Button (ou Brad Pitt, sei lá) passa por um processo de “marlombrandomização”, com o decorrer das décadas (trazendo seu inevitável rejuvenescimento) suas aparências e trejeitos parecem sofrer a influência dos anos sessenta. Já nos atos finais temos um indômito motoqueiro (ei James Dean, adorei sua boina!), com algumas angústias existenciais possivelmente pertencentes a um rapaz de 24 anos ou a um respeitável senhor de 65 anos. Tanto faz, os homens nunca crescem mesmo...
Vítima de uma maldição ou talvez gratificado com uma benção, Benjamin tem dúvidas se cabe a ele a possibilidade de uma “vida normal”. Receia que, às vésperas de seu término, sua especificidade possa conduzi-lo a um final de reclusão e solidão. Mas apesar de toda a sabedoria adquirida, ele parece não entender que todo padecimento é solitário, que toda decrepitude é sôfrega. Em sua sinistra e radical democracia, a morte faz pouco caso se sua pele tem à aspereza octogenária ou o frescor do recém-nascido.
Bem produzido, mas pouco consistente. Criativo e até bem desenvolvido, mas falta uma seriedade a esse trabalho, para fazer jus à sua condição de cinema hollywoodiano classe “A”.
Cotação: regular
P.s: Acho que Ao entardecer não se passa no sul dos Estados Unidos, mas fica o dito pelo não dito.
Hum... é uma picaretagem erudita, se você tiver imaginação e gostar dos dramas Hollywoodianos certamente sairá satisfeito com esse trabalho – muito bem produzido – de David Fincher. No entanto, Jack (1996) de Copolla, com muito menos recursos já nos havia contado uma história similar, mesmo que abusando do ingrediente “água e açúcar”. Tratava-se da história de um garoto que envelhecia mais rápido que o normal, e embora sua mente fosse de uma criança, o corpo era de um adulto.
Em O curioso caso de Benjamin Button temos o inverso, a história de uma criança que nasce velha e, no decorrer dos anos, vai rejuvenescendo, seu relógio biológico encontra-se invertido, empurrando-a da senilidade para a fase lactante. Porém sua mente segue o “ritmo natural”, isto é, sua idade mental sempre está em contradição com a idade física.
De fato, um caso curioso: o motor do filme, se é que assim se pode se expressar, e que dará o fio da meada para acompanharmos a trajetória de Benjamim Button (Brad Pitt) e a sua delicada relação com Daisy (Cate Blanchet). A história é contada do ponto de vista do protagonista, mas a narradora é a neta de Daisy que lê o diário de Benjamim para sua avó moribunda. Hollywood tem uma predisposição toda especial para colocar velhinhas no leito de um hospital (principalmente se forem sulistas), vide o “feminista” Telma & Louise e o constrangedor Ao entardecer (2007, de Lajos Koltai).
O curioso caso de Benjamin Button é consistente, tecnicamente primoroso, vide as ambientações e as próprias maquiagens. No entanto o desenvolvimento do roteiro não consegue escapar dos rocambolismos do gênero. Sofrendo da síndrome de “Forrest Gump”, o protagonista vivencia importantes lugares e eventos, tendo inclusive a chance de participar de um combate contra um submarino nazista, ocasião em que um reles barco rebocador de terceira categoria consegue derrotar (com alguns sacrifícios é claro) uma dessas poderosas máquinas de guerra dos malignos alemães.
Gump, digo Button, desde seu nascimento, quando é quase atirado em um rio, logo em seguida adotado por uma simpática funcionária de um asilo, tem como principal desafio conjugar sua idade física com a mental, na tentativa de alcançar um equilíbrio. Digamos, mentalidade de 17 anos e físico de 67 não é uma situação muito confortável, mas a decrepitude física não o impede de se relacionar com o mundo através da percepção própria de um jovem.
Pode se dizer que o filme seja a crônica de uma morte anunciada, com todos os elementos típicos desses melodramas refinados. As tragédias, os desencontros amorosos, os perecimentos e nascimentos, o “aprendizado de vida” e toda essa parafernália de lugares-comuns chics. Há no meu entender algumas falhas no roteiro, mas que não merecem ser citadas, para não dar ensejo ao previsível (mas não justificável) argumento de que se trata de uma fábula, no entanto, garanto que não vi unicórnios, salvo um ou dois beija-flores. A possível explicação para a singularidade de Button é desconexa e não liga nada com nada – antes tivesse sido descartada.
Curioso é que Button (ou Brad Pitt, sei lá) passa por um processo de “marlombrandomização”, com o decorrer das décadas (trazendo seu inevitável rejuvenescimento) suas aparências e trejeitos parecem sofrer a influência dos anos sessenta. Já nos atos finais temos um indômito motoqueiro (ei James Dean, adorei sua boina!), com algumas angústias existenciais possivelmente pertencentes a um rapaz de 24 anos ou a um respeitável senhor de 65 anos. Tanto faz, os homens nunca crescem mesmo...
Vítima de uma maldição ou talvez gratificado com uma benção, Benjamin tem dúvidas se cabe a ele a possibilidade de uma “vida normal”. Receia que, às vésperas de seu término, sua especificidade possa conduzi-lo a um final de reclusão e solidão. Mas apesar de toda a sabedoria adquirida, ele parece não entender que todo padecimento é solitário, que toda decrepitude é sôfrega. Em sua sinistra e radical democracia, a morte faz pouco caso se sua pele tem à aspereza octogenária ou o frescor do recém-nascido.
Bem produzido, mas pouco consistente. Criativo e até bem desenvolvido, mas falta uma seriedade a esse trabalho, para fazer jus à sua condição de cinema hollywoodiano classe “A”.
Cotação: regular
P.s: Acho que Ao entardecer não se passa no sul dos Estados Unidos, mas fica o dito pelo não dito.