O homem do Oeste. Man of the West. De Anthony Mann, 1958.
O
fim do ciclo do Western é complexo, relacionando-se às mudanças de época e à
forma de conceber as narrativas cinematográficas. A passagem dos anos cinquenta
para os sessenta significou a revisão de paradigmas até então dominantes. Ao mesmo
tempo, a linguagem cinematográfica passou a questionar suas abordagens,
adicionando novas camadas de conflito e subjetividade nos personagens.
Esse
é o caso de O homem do Oeste, um dos últimos filmes de Gary Cooper acerca
dos dilemas de um ex-criminoso, Link Jones, acidentalmente
envolvido com o antigo bando devido a um malsucedido assalto a um trem. Mesmo abandonando
sua vida de crime, Link vê-se confrontado pelos outrora parceiros, agora interessados
em seu retorno ao grupo. Esquecido na linha do trem com uma cantora e um jogador de cartas durante o assalto, Jones precisa fingir seu retorno ao crime para naõ ser morto. O
líder dos bandidos é seu tio cruel, violento e com sinais de demência.
Observa-se
na narrativa vários símbolos de decadência: os bandidos são degradados morais; o personagem de Cooper enfrenta a corrupção de precisar recorrer à violência. Há uma tensão profunda
no personagem, apesar do seu distanciamento da vida criminosa ele não está livre do passado. No western, muitos os mocinhos são potencialmente bandidos e há até aqueles que sofrem com isso.
Jones
precisa defender a cantora Billie Ellis de ser violentada pelo grupo, mas desarmado fica à mercê dos. Há mesmo um componente de terror e
suspense quando ele e os outros dois prisioneiros são confrontados pelo tio, o
velho Dock Tobin. A fragilidade do personagem mostra-se essencial para a
construção de um clima de desespero. A ausência
do revólver no coldre é o sinal da castração.
As cenas
com enquadramentos fechados e baixa iluminação conduzem o homem adulto ao tempo em que era um agregado do bando sob a dominação do tio. Esse arco de impotência
vai permanecer até sua vitória na briga com um dos integrantes devolvendo sua
viralidade. De dia e em um ângulo aberto, o filme abandona o aspecto mais
sombrio ao afiançar a capacidade de justiceiro de Link Jones.
Porém
o quadro de incerteza não está superado, pois o grupelho de decadentes celibatários
atiçados pela presença da cantora é o resquício do Oeste selvagem. Perigo e
decadência andam lado a lado, conforme se verá no projeto de furtar o banco de
uma cidade mineradora. Os bandidos, no entanto, descobrem que a localidade foi
abandonada e se tornou um vilarejo fantasma. Nesse ambiente de profunda
decadência, casebres malcuidados, carroças abandonadas, terra árida, Jones poderá
acertar as contas com os antigos comparsas em seu novo papel da justiceiro.
O
tio permanece no acampamento, isolado com a prisioneira, ampliando o clima de
ameaça e decadência. Provavelmente violentada pelo velho, o herói recebe,
assim, a “permissão” para matar o próprio tio. Um entrelaçamento de situações
beirando aos desfechos trágicos, impedidos somente pela capacidade do
protagonista fazer apenas a escolha pelo caminho correto.
O aspecto
sombrio do filme antecipa as ambiguidades do western tardio. Os próprios
criminosos recebem uma parcela de humanização e é com relutância que o herói os
elimina. Jones precisa recuperar sua potência, isto é, sua ação.
O seu acesso à jovem como parceira romântica está fechado por ele ser casado e
com filhos. A violência serve como válvula de escape das tensões e parece
ser a única forma de afeto em uma família criminosa. Este é o Oeste que precisa
ser esquecido.
Um
Gary Cooper envelhecido vai tirar de dentro de si a energia necessária
para transformar-se, mais uma vez, em herói, devolvendo Billie ao mundo
da lei e da ordem. Ambos partem do Oeste sentido o vazio, pois a experiência foi
profunda e não há muito a se esperar do fim da jornada. Afinal Jones ainda
pode ser imputado como criminoso e a jovem sabe que ao seu lado está o último
dos heróis.
Cotação: ☕☕☕☕
Nenhum comentário:
Postar um comentário