Megatubarão 2. Meg 2: The Trench. De Ben Wheatley, 2023.
Filme
com apelo comercial, a começar por contar com Jason Statham no elenco, o
último dos moicanos dos filmes de ação. Megatubarão 2 é um híbrido: um
pouco de catástrofe, um pouco de monstruosidade e umas doses exageradas de
humor. Uma equipe de exploração desce até fossas subaquáticas nas quais ainda existem animais pré-históricos. Lá, sob intensa pressão da água
(situação que o roteiro vai lembrar e esquecer conforme conveniência) os
exploradores encontram uma estação de mineração clandestina.
As
premissas que sustentam o filme dispensam maiores comentários, naturalmente. O
plot descarta, também, a verossimilhança recuperando a despretensão criativa dos anos
noventa. Naqueles tempos tudo era pretexto para dar ribalta ao mocinho com seus
dotes físicos invejáveis e a sua perícia formidável. A narrativa, no entanto,
custa a chegar a esse ponto, mostrando-se inicialmente muito mais séria do que necessário. A primeira parte é de claustrofobia com a tripulação dos submarinos presa entre tubarões
pré-históricos e mineradores assassinos. Os ângulos de câmera fechados e a baixa
iluminação sugerem situações de risco iminente, confirmadas pela morte de membros da equipe.
Durante boa parte do tempo, a Dona Morte parece pegar leve com o núcleo de personagens principal. Jonas Taylor, o herói interpretado por Statham, sua filha Meiying e seu cunhado Jiuming Zhang enfrentarão as criaturas marinhas, os criminosos e as traições internas no grupo. Meiying é uma jovem de 14 anos clandestinamente embarcada na expedição, aumentando a sensação de urgência. Já o arrojado explorador Zhang, tio da menina, acredita ser possível “domesticar” os megatuberaões. Ele corre tantos riscos quanto Taylor. Durante os primeiros sessenta minutos, o filme segue essa toada colocando dilemas e riscos para os personagens. Na outra metade, porém, quando já estão na superfície o trilher levemente inspirado na ficção científica cede lugar à comédia de ação.
Planos abertos, micronarrativas com efeito cômico, fotografia limpa e bem iluminada destoam do primeiro arco, no qual a tensão estava presente. A própria necessidade de autossacrifício, inicialmente uma possibilidade, torna-se motiva de joça e piada entre os personagens. A segunda metade peca por introduzir desafios simultâneos, reduzindo a importância dos tubarões na trama. Ao emergirem à superfície eles arrastam consigo toda uma fauna aquática, incluindo um polvo gigante e alguns monstros que remetem às criaturas de Jurassic Park. Porém toda a tensão do arco anterior já está perdida.
Essa mudança no foco narrativo pode ser percebida, por exemplo, nas imagens idílias do resort para onde os monstros estão a se deslocar. As cenas das pessoas nadando, tomando drinks ou se apaixonando tem o efeito de preparar o espectador pela carnificina que se seguirá. Mas o efeito não é o de suspense e sim o de comicidade. De fato, como comédia de ação o filme funciona bem, mas para isso ele precisa deixar o drama e a tensão no fundo do mar.
A contraposição entre os defensores e os saqueadores da natureza mostra-se pífia, é um ponto do roteiro que só é citado sem qualquer desenvolvimento. Os exploradores mostram-se interessados em proteger a natureza, mas ao mesmo tempo mantém um megatubarão em cativeiro. E não fica claro porque a mineração naquela região seria ilegal, possivelmente por causa dos megas, mas isso é abordado de forma superficial. Esse parece ser o principal problema do filme: um excesso de temáticas e elementos, todos abordados de forma superficial. Isso resulta em sequências de ações dinâmicas, mas com pouco foco no que é relevante. Com os atos finais tal problema é intensificado. Os tubarões, sempre citados como as ameaças, ocupam um lugar pequeno, embora não desprezível, nos eventos.
O destaque reduzido dado aos tubarões vai de encontro às atuais produções de monstros. Filmes da já citada franquia Jurassic Park e de outros como Godzilla e King Kong, além do próprio subgênero dos megatubarões assassinos, sugerem que essa temática está em alta. No filme, os tubarões são o perigo de fundo, um background sem a consistência necessária para ocupar o plano principal. Com dificuldade em eleger “o inimigo” a narrativa alterna entre vários antagonistas até lembrar-se dos tubarões, mas nesse ponto tudo está fatalmente reduzido a um filme genérico de ação.
O filme é capaz de fornecer um momento pipoca para os apreciadores de filmes de monstros, mas está aquém de outras produções, inclusive com uma produção e um estrelato inferiores.
Cotação: ☕☕
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