O Fantasma
de Mora Tau. Zombies
of Mora Tau. De Edward L.
Cahn, 1957.
O filme
se passa na África e enfoca o esforço de uma equipe de exploradores em
recuperar um antigo tesouro subaquático guardado por zumbis. É um filme de
horror comercial lançado pela Columbia Pictures com temática
e estrutura de um “Filme B” dos anos 50. O Fantasma de Moura Tau é
econômico na apresentação dos personagens e da trama. Ao retornar para a casa
da avó, Jan tem notícias da incursão dos zumbis na região. Ao longo da trama envolve-se com os mergulhadores e se apaixona por um deles.
O Fantasma de Mora Tau nos ajuda a compreender como a
figura do zumbi modificou-se ao longo dos anos. Até A Noite dos
Mortos-Vivos de George Romero (1968) parece ter existido uma
polissemia de significados acerca de tais criaturas. A forma de representar os
zumbis em Mora Tau aproxima-se do “terror de catacumbas” revelando a influência das histórias e vampiro. Antes dos filmes de Romero,
os zumbis eram pensados como ghouls, entidades espirituais ligadas
a um corpo. Há diálogo com as narrativas de fantasmas e, em diferentes momentos, os personagens
precisam entrar em um mausoléu a fim de salvar vítimas (mulheres) dos
mortos-vivos. Embora os monstros tenham uma dimensão corpórea, eles também se
comportam como fantasmas.
O enredo busca transpor o espectador
para uma região desconhecida e misteriosa. No entanto, a cultura africana não é
abordada. Há referências despropositadas ao vodu que, diga-se de passagem, não consiste em uma prática africana, mas caribenha. O argumento de uma enseada na “África exótica” é o
argumento inicial da história revelando um olhar colonialista ao representar o “Velho Mundo” como uma região na qual coisas absurdas e inexplicáveis acontecem.
A narrativa segue o ponto de vista dos colonizadores brancos sem contatos ou menções aos povos nativos. É uma África sem africanos e com a memória apenas dos expedicionários que por ali passaram em busca dos diamantes.
O núcleo dos personagens divide-se
entre os moradores locais, a Senhora Peters e sua neta Jan e os exploradores,
com destaque para o capitão Harrison, sua esposa Mona e Jeff, o mergulhador
responsável por retirar as joias o mar. Os antagonistas são os antigos
marinheiros perecidos nos intentos anteriores, como assombrações mostram-se implacáveis. Possuem, de fato, semelhanças com os mortos-vivos de White Zombie (1932). Não
são seres maus, mas não podem ter o descanso enquanto a maldição não for
quebrada.
A construção da narrativa é trivial,
como uma ghost story as situações são previsíveis. O desfecho para a personagem Mona, por exemplo, era esperado, afinal, uma mulher de moral ambígua nos anos
cinquenta não poderia ir muito longe. Ela compete com Jan pela atenção do
mergulhador chegando a beijá-lo na frente de seu marido. Em um outro polo, representando a conduta da esposa ideal, está a viúva Senhora Peters. Desejosa de libertar o marido da malidção zumbi, ela é a única com clareza da situação.
A relação com os cenários é esquemática.
Os acontecimentos desenrolam-se na casa da Senhora Peters, na floresta ou no
barco. As cenas dentro do oceano (cenários) não são amadoras, mas exalam o terror
comercial do estúdio Colúmbia Pictures. O
cenário revela um olhar sobre a alteridade, ou seja, como o outro é visto na perspectiva do ocidental. No caso, o outro é a própria África, afinal das
contas, onde estaria esse lugarzinho chamado Mora Tau? O que temos aí não é o
umbral entre a vida e a morte, mas o eterno retorno à região do ignoto.
O ignoto pode ser entendido como a
terra distante e misteriosa. Há inclusive um tipo de romantização identificada
na fala de Jan ao perceber que as estradas locais continuam abandonadas. Parece
ser um lugar parado do tempo em conexão com forças antigas. O fracasso dos
europeus revela um ambiente inóspito ao homem branco e, mesmo assim, há o
fascínio por um região longínqua, onde a sexualidade reprimida das personagens femininas encontra algum tipo de vasão.
Mesmo para um cinema de entretenimento
de curto fôlego, a mise-en-scène deixa muito a desejar: há o barco naufragado,
o cemitério dos colonos europeus e só. As selvas são bem comportadas, não há
animais por lá. Ora vejam, um filme na África sem leões! Tudo é muito
superficial, e talvez o maior atrativo seja o próprio título chamativo.
Mora Tau desperta a curiosidade, a habitação do diferente, ambiente desconhecido e inexplorado e, por isso, desejado.
Essess zumbis são o típico
monstro dos anos cinquenta na forma de assombrações cobertas de algas marinhas avistadas nas estruturas tumulares, na praia ou debaixo d’água. Apesar
das limitações da produção, o esforço de compreensão crítica do filme ajuda a entender
as distintas representações dos mortos-vivos no cinema. Nos filmes, por vezes são
representados como criaturas cadavéricas em decomposição e interessadas em alimentarem-se
dos vivos, mas também podem ser vistas como almas penadas. De
qualquer forma são eficazes para revelar os desejos reprimidos externados
somente em um mundo distante da civilização.
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