📺 História da animação
A Haunting We Will Go, 1939. De Burt Gillet. 7 minutosA primeira vez que assisti essa animação foi em um DVD com vários episódios do Walter Lantz. Fiquei surpreso com os estereótipos raciais e escrevi minha primeira resenha sobre o assunto. Tentei buscar maiores informações, mas não consegui. Em meados dos anos 2000 não havia tanta informação, livros sobre a história dos desenhos animados eram pouco acessível.
Recentemente
revi essa animação reiterando as minhas impressões sobre a historieta de
um garoto negro sulista careca chamado de Lil’ Eightball. Ele alega não ter
medo de fantasmas e acaba arrastado para um velho moinho, no qual uma horda de assombrações
perseguem-no até quebrar sua resistência e deixá-lo amedrontado.
Eightball tem uma aparência peculiar, veste um tipo de camisola sem nada por baixo, ele é um sulista pobre vivendo em uma casa rural. Tem jeito de sabichão e gosta de bancar o esperto. Expressão do imaginário coletivo, o personagem evoca a visão negativa sobre os afro-americanos, sua primeira aparição na animação é com um fade-in, no qual ele sai da escuridão abrindo seus olhos. A cor da sua pele mescla-se, em um primeiro momento, à escuridão do ambiente.
Mas há, também, a denúncia quanto à perseguição e ao barbarismo impetrado contra os que na época eram chamados de “pessoas de cor”. Uma de suas frases – que pode variar a depender da tradução – é: “Não tenho medo de lençóis velhos”. Tal sentença constitui uma alusão (inconsciente) ao movimento Klu Klux Klan, pois os fantasmas agem como uma turba motivada em aterrorizar e expulsar o garoto do velho moinho. Os integrantes do movimento extremista vestem-se com roupas e capuzes brancos, nesse sentido a associação com fantasmas decorre com naturalidade. A própria paisagem da animação remete ao cenário das cidades racistas sulistas.
Na The
encyclopedia of animated cartoons (LENBURG, 1999, p.89) encontramos a seguinte referência
sobre personagem:
Lil’
Eightball
Former Disney
protégé Burt Gillett was responsible for creating this stereotyped black youngster
who, after a brifef opportunity at movie stardom, resurfaced in Walter Lantz
comic books of the 1940s. Directed by Burg Gillet. Black-and-white. Voice credits
unknown. A Waler Lantz Production released through Universal Pictures.
1939: “Stubborn
Mule (July 3); and “Silly Superstition” (Aug. 28).
Curiosamente, o fragmento acima suprime a menção ao episódio colorizado A Haunting We Will Go (Sep. 4, 1939). De qualquer forma, não obstante os aspectos controversos do personagem a animação tem interesse diegético devido as suas ambivalências. Detém uma paleta de cores em tons esmaecidos e uma construção narrativa com aspectos surrealistas. A ontologia da imagem construída em tal animação comporta um incômodo e uma possibilidade de maravilhamento. Por fim, o tom infantil não elimina de todo o aspecto de terror da narrativa.
Cotação: ☕☕☕☕
Referências
LENBURG, Jeff. The encyclopedia of
animated cartoons. 2. Ed. New York: Facts on File, 1999.
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