Cavaleiros de Aço (Knightriders), 1981. De George Romero.
George Romero, conhecido por seus filmes de zumbis, nos entrega uma pérola em forma de um filme sobre um grupo de motoqueiros itinerantes que vivem segundo os códigos da cavalaria medieval. Uma apreciação positiva da contracultura aliada à denúncia da conspurcação provocada pela sociedade de massas.
Os
motoqueiros precisam seguir Billy, o rei, até que este seja derrotado em uma
peleja, mas essa não é uma tarefa fácil, porque além dele ser habilidoso existe
o séquito de cavaleiros com a função de defende-lo. Os combates são organizados
conforme as justas medievais, eles constroem armaduras e armas e tentam se
derrubar para delírio do público provinciano.
Ao chegarem nas cidadezinhas americanas os cavaleiros se tornam a sensação local atraindo tanto entusiastas quanto opositores. Com uma arrecadação espontânea conseguem os recursos para continuar as suas atividades, ou seja, trata-se de um estilo de vida até certo ponto anticapitalista. Mas no interior do grupo dissensos aparecem, uma ala passa a questionar o idealismo do rei propondo uma abordagem mais comercial e com maior publicidade.
O
estilo de filmagem de George Romero valoriza ângulos diferentes sobre as motos,
optando por manter uma certa distância, reforçando a perspectiva do
espectador com o contraste antigo-novo. O mundo moderno aparece ser um elemento intrusivo na história, pois os cavaleiros motociclistas optam por desafiar o consumismo. As
comunidades visitadas pela trupe demonstram pobreza espiritual;
caipiras conservadores presos à miséria cotidiana.
A
banalidade da sociedade norte-americana destoa dos propósitos elevados do grupo, no
entanto não há um consenso sobre o que significa ser um cavaleiro nos dias de hoje. Nesse sentido, o filme dialoga com o ultrarromantismo a partir do
escapismo de Billy. Interpretado pelo jovem Ed Harris, o rei dos motoqueiros busca um tipo de transcendência ao qual os seus companheiros não conseguem
atingir. Sua melancolia, no entanto, enfatiza a resolução do coletivo em
ressignificar a vida moderna de forma alternativa.
A
disposição ao sacrifício e ao martírio entregam um personagem depressivo, mas apaixonado
por uma causa até certo ponto intangível. Nesse sentido parece ser uma
despedida dos últimos lampejos da rebeldia não cooptada. A recusa radical em
fazer qualquer tipo de concessão é o ponto de inflexão que coloca não só Billy,
mas todo o grupo, em crise existencial.
Quase
um filme-manifesto Romero parece mostrar, mais uma vez, a existência dos
mortos-vivos. Agora não se trata de monstros decompostos e sim da mediocridade suburbana demarcada no excesso de álcool e fast-food, além da violência
doméstica e da religiosidade opressiva. Compartilhando temas comuns com o
famoso Easy Rider (1969), Knightriders também aposta nas motos
como vetor de fuga dos insubmissos e contestadores rumo à autenticidade da vasta América.
Cotação: ☕☕☕☕☕
2 comentários:
Clap clap clap clap clap....
Devo não gostar do filme, mas a resenha me fez querer vê-lo.
Belo texto, Amador!
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