segunda-feira, 10 de março de 2025

Os suspeitos

Os suspeitos. Prisioners. De Denis Villeneuve, 2013.

Duas famílias têm suas filhas raptadas, um suspeito é preso, mas não há muita materialidade para mantê-lo encarcerado e tudo indica sua inocência. Os pais, inconformados, decidem prender e torturá-lo a fim de descobrir o paradeiro das crianças.

O filme abusa da boa vontade do espectador com revelações e reviravoltas. Em algumas situações bastaria abrir uma porta ou fazer uma revista para sanar todos os problemas, mas nada é feito. Já em outros casos, um pequeno indício é utilizado para desvendar uma rede de cumplicidades. De qualquer forma, a história tem sua solidez ao tematizar como a dor e o luto podem gerar um punitivismo cego. O humanismo e o justiçamento parecem entrelaçar em alguns pontos, mas acabam eclipsados pela revelação da maldade como uma natureza quase religiosa.

O principal suspeito, Alex, é um jovem adulto com problemas mentais, ele tem dificuldades de expressar seus pensamentos, mas possui uma atitude suspeita e não dá para saber quais são as suas reais motivações. O pai de uma das garotas, interpretado por Hugh Jackman, mostra-se um provedor e um protetor falido, a única forma de redenção é por meio da violência, tornando-se, assim, um torturador. O detetive Loki precisa andar por um labirinto de informações e pistas falsas para tentar descobrir o paradeiro das crianças raptadas. Sua suspeição com relação a Keller (Jackman) não é infundada, já que este também captura Alex.

Aliás, o tema do labirinto está presente no filme, as subtramas articuladas vão revelando uma rede de conexões na qual o denominador comum é a raiva, a dor da perda e a extrema violência. A paisagem setentrional com neves e florestas de pinheiro indicam destruição e beleza andando lado a lado. O mundo é um lugar perigoso e aqueles que se esquecerem disso poderão ser mortos.

O filme conta com uma belíssima ambientação, a fotografia capta um ambiente gélido, bem adequado aos dramas dos personagens. Estes encontram-se perdidos em seus ciclos de dor e violência. O detetive insiste em ser o ponto de racionalidade, mas ele mesmo derrapa nas conexões humanas encharcadas de culpa moral. O desdobramento da narrativa gera tensão, mas ainda assim apresenta superficialidade em alguns momentos, escondendo ou revelando pistas conforme a conveniência. Se nos deixarmos levar, o filme funciona bem, mas uma análise crítica indica fragilidades no desenvolvimento da trama. Há um excelente plot, um bom roteiro e uma execução formidável, porém comprometidos pelas fragilidades internas da história. Isso tudo se resume na estereotipação do trabalho policial: aquele instante em que ele bate a mão na mesa antes de ter o insight baseado em um detalhe até então despercebido.

Embora o filme possa ser apropriado como uma legitimação da tortura, ele também mostra o alto custo emocional e existencial de impor ao outro o sofrimento, seja ele culpado ou não. Os suspeitos" desafia o público a não ser tão facilmente arrebatado pela violência mostrada em cena. Nesse sentido é tanto um drama policial quanto um ensaio moral.

Cotação: ☕☕☕

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