domingo, 7 de junho de 2009
A mulher invisível
A mulher invisível, 2009. Brasil. De Cláudio Torres
Um dos principais suportes para a projeção e apreensão do modelo ideal da mulher seria através do cinema. Ao bem da verdade, todas as artes já se preocuparam com a figura feminina, definindo seus atributos e as fontes de seus encantos, portanto esse filme tupiniquim trilha um caminho há muito conhecido.
A mulher invisível relata a trajetória do démodé Pedro que ao ser abandonado por sua esposa cria uma consorte imaginária, perfeita em sua corporeidade e personalidade, uma versão bad girl da “Amélia, a mulher de verdade”. No entanto, essa mulher de verdade não é real, mas ideal, ela vive somente no mundo etéreo masculino, já que as senhoras e senhoritas também possuem suas premissas quanto à natureza dos cabras-machos. Divorciar-se de marido é inclusive uma afirmação existencialista, um posicionamento perante à realidade, extirpando desta os elementos que não lhes interessam ou convêm. Justamente nesses encontros e desencontros de expectativas que a vida amorosa dos varões e das donzelas segue-se.
Aí temos a primeira contradição do filme, já que Vitória, essa sim real e vizinha de Pedro, aguarda durante toda da projeção o momento de entrar em cena. Mesmo sendo casada com um crápula não consegue se divorciar, como sua função é a de esperar, cabe a ela uma resignação, até que um infarto fulminante retire o obstáculo que a distanciava do seu “verdadeiro amor”, separados somente por uma parede, algumas alucinações coletivas e sérias fragilidades emocionais de ambas as partes.
O modelo que prevalece de mulher ainda é Amélia, fiel, conformada, amorosa, afeita ao espaço doméstico. De fato, Vitória é uma vitória para os ultrapassados anseios masculinos de controle.
Mas Amanda (hum... nome sugestivo), a mulher imaginária, é a solidificação de todas as fantasias juvenis de Pedro. Além do corpo escultural, Amanda gosta de trabalhos do lar, assistes aos “clássicos da terceirona”, tem um passado que inclui lesbianismos e, claro, sabe ser amorosa e cativante. Seu único defeito é unicamente não existir, ou talvez não, pois se vivesse uma mulher com tais configurações, provavelmente estaríamos falando de um autômato.
Entre Amanda, a que ama incondicionalmente, e Vitória, o verdadeiro troféu masculino, temos outras duas figuras paradigmáticas: Pedro “the nice” e seu amigo Carlos, um cafajeste vindo dos ano oitenta, com aquele bigodinho supostamente charmoso, mas que lembra a face de um glutão interessado em comer almôndegas de frango no bar da esquina.
Os devaneios de Pedro quase pertencem ao reino das esquizofrenias, assim A mulher invisível ficaria entre Eu, eu mesmo e Irene e Uma mente brilhante, ressalvando, no entanto, que não há nenhuma genialidade matemática em Pedro, um humilde controlador de trânsito.
Mas o filme diverte e, o mais importante, tem fôlego, sempre colocando novos desafios para o protagonista. No entanto, as conclusões apresentadas não resolvem satisfatoriamente os problemas decorrentes dos dilemas morais vivenciados pelos personagens. Pedro precisa de terapia, Vitória é uma bisbilhoteira e Carlos é o elo mais fraco da história, uma muleta para facilitar o prosseguimento da narrativa. O “encontro” final entre Pedro, Amanda, Vitória e Carlos possui a consistência de uma apresentação teatral improvisada, um anticlímax, ninguém parece empenhado em dar credibilidade ao ato. Não tem problema, entre tantos devaneios não há por que se cobrar a verossimilhança.
E aqui, o blog acaba.
Cotação: Regular
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Um comentário:
Uai, Davidson. Tava cada dia melhor!... por que acabou? Acho que vc é brilhante nisso e canaliza seu espírito rabugento -hehe - em algo de muito bom, pelo menos pra gente. ;)
Tudo bem contigo, né?
Carol - do Memória
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