sábado, 6 de outubro de 2007

Editorial: Indie - Festival de Cinema

Zoológico.

Casais gays hardcores, casais heteros metaleiros, punks, hippies, aspirantes a modelos, playboys, black-boys, japan-girls. Em suma, toda a galeria de alternativos de B.H reunidos em um mesmo lugar, unidos por um mesmo evento.

Claro, e entre eles eu. O sujeito normal, o servente de pedreiro, aquele que gasta uma hora e meia para chegar até o cinema.

A fila para a retirada dos ingressos é quilométrica e suas chances de não assistir a sessão não são pequenas. Até mesmo porque os fura-filas são a espécie mais abundante do local.

Indie: Mostra Mundial de Cinema. Não entendo. Festivais como esse, ao invés de popularizarem o cinema, afastam o público normal, que se sentem constrangidos em dividir o mesmo espaço com essa fauna belorizontina.

Passei horas na fila, ouvindo todo um rol e besteiras pseudo-intelectualóides e proto-pretensiosas. Era o rapaz que dizia ter assistido Bertoulucci na França e que a tradução em português seria incapaz de transmitir a “essência última” do diretor. Então que diabos ele fazia naquela fila? Roubando meu ingresso, com certeza.

Era a menina loira do cursinho pré-vestibular, preocupada em assistir filmes que falem da globalização, ou então o aprendiz de Martin Luther King reclamando a pouca presença de filmes sobre o gueto (observação: a jaqueta dele alimentaria uma família do “gueto” inteirinha...).

Eu também tenho um sonho! E nele esse povo é mudo.

Esse festival só é freqüentado por aqueles que não precisam trabalhar, aqueles que têm tempo disponível para ficar uma hora fila da bilheteria e mais trinta minutos para entrar na sala de projeção.

Se isso é a democratização do cinema, que não se questione o império dos Shoppings centers!

Porém, ainda que o público seja sempre o mesmo é inquestionável a importância de oferecer um cardápio variado de filmes. Desse modo, o Indie é uma oportunidade para presenciarmos os cinemas de outros rincões do mundo – embora, por razões óbvias, eu ache excessiva a concentração de filmes norte-americanos e franceses.

Mesmo depois de anos, o Indie é somente uma promessa, e cada vez mais difícil de se realizar. Há de se modificar essa situação, redimensionando o uso desse espaço de exibições fílmicas. Que os falsos entendidos sejam enxotados do Usina Unibanco de Cinema e do Cine Humberto Mauro.

Xô falsos entendidos! Seus all-stars multicores, seus trejeitos artificiais, seus brincos escandalosos, suas tatuagens, suas camisas irreverentes não são bem vindos! Abram espaço que o povo quer entrar!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Davidson,

Infelizmente, só posso discordar de sua visão. Ao contrário do que você diz, a população de Belo Horizonte se ausenta desse festival porque quer, seja porque não gosta de conviver com o diferente, como parece ser seu caso, seja porque não tem bom gosto ou inteligência suficiente para apreciar os filmes que são apresentados no Indie. Há opções de filmes em todos os horários, inclusive aos fins de semana. Não se pode dizer que a localização do Usina é ruim, pois há um quarteirão dali fica um templo religioso que recebe pessoas de todas as partes da região metropolitana de Belo Horizonte. Assim, só posso dizer que por trás desse seu discurso de "democratização", existe uma idéia facista, de mediocridade coletiva, bem parecida com aquela que move tantos fiéis ao grande templo vizinho do cinema. Quem é você para dizer quem se comporta de maneira certa ou errada. Aposto que por trás de seu pretenso comportamento "normal", existe um conformismo irremediável, que contribui a cada dia para a homogeneização e decadência cultural de nossa sociedade.

Observer Pereira disse...

Raphael,

via de regra eu não respondo comentários, pois pressuponho o direito da crítica. Mas desta vez abro uma exceção.

Acho que você está se contradizendo. Por um lado afirma que se o povo não vai ao cinema é porque não tem inteligência suficiente. Mas por outro lado você insinua minha tendência fascista ao pressupor a mediocridade coletiva? Como assim?

A boa localização de um estabelecimento não é garantia de que ele será freqüentado. Há uma série de condicionamentos ocultos que inviabilizam a participação do público geral e não iniciado. Muitas pessoas nem sabem que o Humberto Mauro é um espaço público. Os próprios seguranças e funcionários uniformizados assustam os visitantes desinformados.

Além disso não critiquei os filmes exibidos - o que a propósito, seria uma outra discussão - mas sim o perfil do público que participa do festival.

Esses "alternativos" tem seus pézinhos bem fincados nas comodidades da classe média belorizontina e é deles que nasce o conservadorismo.

Por fim, realmente questiono um festival que vai atender uma ínfima parecela da população...

Aliás, o sucesso do fenômeno neo-pentecostal se deve ao fato deles se lembrarem desse filão esquecido. Os que não assiste cinema coreano, os que não conhecem o cinema francês, mas aqueles que compram dvds piratas de produções protestantes.

Ora...