Os suspeitos. Prisioners. De Denis Villeneuve, 2013.
Duas
famílias têm suas filhas raptadas, um suspeito é preso, mas não há muita
materialidade para mantê-lo encarcerado e tudo indica sua inocência. Os pais,
inconformados, decidem prender e torturá-lo a fim de descobrir o paradeiro das
crianças.
O filme
abusa da boa vontade do espectador com revelações e reviravoltas. Em algumas
situações bastaria abrir uma porta ou fazer uma revista para sanar todos os
problemas, mas nada é feito. Já em outros casos, um pequeno indício é utilizado
para desvendar uma rede de cumplicidades. De qualquer forma, a história tem sua
solidez ao tematizar como a dor e o luto podem gerar um punitivismo cego. O
humanismo e o justiçamento parecem entrelaçar em alguns pontos, mas acabam eclipsados
pela revelação da maldade como uma natureza quase religiosa.
O
principal suspeito, Alex, é um jovem adulto com problemas mentais, ele tem
dificuldades de expressar seus pensamentos, mas possui uma atitude suspeita e
não dá para saber quais são as suas reais motivações. O pai de uma das garotas,
interpretado por Hugh Jackman, mostra-se um provedor e um protetor falido, a
única forma de redenção é por meio da violência, tornando-se, assim, um
torturador. O detetive Loki precisa andar por um labirinto de informações e pistas
falsas para tentar descobrir o paradeiro das crianças raptadas. Sua suspeição
com relação a Keller (Jackman) não é infundada, já que este também captura Alex.
Aliás,
o tema do labirinto está presente no filme, as subtramas articuladas vão revelando
uma rede de conexões na qual o denominador comum é a raiva, a dor da perda e a
extrema violência. A paisagem setentrional com neves e florestas de pinheiro
indicam destruição e beleza andando lado a lado. O mundo é um lugar perigoso e
aqueles que se esquecerem disso poderão ser mortos.
O
filme conta com uma belíssima ambientação, a fotografia capta um ambiente
gélido, bem adequado aos dramas dos personagens. Estes encontram-se perdidos em
seus ciclos de dor e violência. O detetive insiste em ser o ponto de
racionalidade, mas ele mesmo derrapa nas conexões humanas encharcadas de culpa
moral. O desdobramento da narrativa gera tensão, mas ainda assim apresenta
superficialidade em alguns momentos, escondendo ou revelando pistas conforme a
conveniência. Se nos deixarmos levar, o filme funciona bem, mas uma análise
crítica indica fragilidades no desenvolvimento da trama. Há um excelente plot,
um bom roteiro e uma execução formidável, porém comprometidos pelas
fragilidades internas da história. Isso tudo se resume na estereotipação do
trabalho policial: aquele instante em que ele bate a mão na mesa antes de ter o
insight baseado em um detalhe até então despercebido.
Embora
o filme possa ser apropriado como uma legitimação da tortura, ele também mostra
o alto custo emocional e existencial de impor ao outro o sofrimento, seja ele
culpado ou não. Os suspeitos" desafia o público a não ser tão facilmente
arrebatado pela violência mostrada em cena. Nesse sentido é tanto um drama
policial quanto um ensaio moral.
Cotação: ☕☕☕