Velozes e furiosos – desafio em Tókio (The Fast and the Furious: Tokyo Drift), 2006. EUA. De Justin Lin
Quando entrei na sala do cinema senti cheiro de pipoca, ouvi o barulho das latas de refrigerantes sendo abertas. A maior parte do público era casais de namorados; havia também grupinhos de amigos. Só eu não fazia parte daquele cenário. Procurei o assento mais distanciado e me preparei para as tolices de sempre.
Me surpreendi. Era bem pior do que eu pensava. Banal e ultrajante.
Uma moça propõe a dois competidores que o vencedor ficaria com ela; se coisificando de tão bom grado... Durante o racha: batidas, destruições e acidentes, mas parece que ninguém está preocupado com as conseqüências. Sean Boswell, o mocinho do filme – um jovem com menos de 18 anos –, ao capotar seu carro, sorri.
É esse o espírito do filme: inconseqüência perante tudo.
A própria narrativa é inconseqüente, pois em poucos minutos o garoto problema já está no Japão, estudando em uma escola japonesa, mesmo sem saber falar o idioma local. O garoto saiu dos E.U para evitar problemas, para isso foi morar com seu pai. Este pede que ele fique longe de carros e confusões. Na cena em seguida Sean Boswell já está atrás de um volante, flertando a namorada do bad boy local.
Corre-se. Assim é o filme, uma correria sem fim, carros e mulhres-objetos sendo exibidos. Uma musica dançante ao fundo e frases de efeito que não deveriam ser expressas nem nos para-choque dos caminhões.
Pasmem: o filme é anti-americano. Não há família no filme, apenas genitores relapsos, que não sabem cuidar dos seus rebentos. Não há comunidade, não há país, não há nada. Os carros correm, e isso é tudo. Nem o clássico conflito entre bem e mal está presente. Pois todas as personagens fazem parte do mesmo mundinho ridículo, você pode torcer pelo mocinho, mas sua causa não é melhor que a do “vilão”.
O desconforto que o filme me causou só não foi maior do que meu desprezo pelo público do cinema. Mastigava-se pipoca, dava-se beijos, urros, gritinhos, aplausos e comentários ridículos. Parecia que o filme só incomodava a mim.
Carros correm pelas ruas da cidade, passando por automóveis de motoristas “normais”, os carros batem, as vezes explodem, e as pessoas aplaudem. É inconseqüente, é anti-iluminista. A preocupação com o humano foi perdida, a relação de causa-efeito esquecida. O que importa é aprender a dar a manobra drift, o que vale a pena é faturar a garota.
No cinema, o público delira. Comenta-se a beleza dos carros, elogia o desempenho das manobras. Só eles não perceberam que é um racha. Só eles não perceberam que o filme é um elogio ao banal, (corre-se para ver quem é o melhor).
Quando o filme acaba, os casais se levantam abraçados, os rapazes comentam os carros. As moças arrumam o cabelo. O grupo de amigos brincam entre si, satisfeitos com o entretenimento. As latas de refrigerante estão vazias, assim como o saco de pipocas.
Eu continuo sentado, insatisfeito, perplexo. Filme e público me cansaram, levanto desanimado e vou para o ponto de ônibus. Final do espetáculo e eu estou infeliz:
... quero meu dinheiro de volta.
Cotação: Péssimo