domingo, 31 de agosto de 2008

Andarilho


Andarilho, 2008. Brasil. Cinco em Ponto. De Cao Guimarães

O cinema e a literatura estão repletos de alusões e representações sobre os errantes. Quando pensamos na cultura norte-americana fica ainda mais fácil evidenciarmos a mística em torno desses eternos viajantes. Mark Twain, Henry Miller, Jack Kerouac e Jon Krakauer são alguns dos escritores que já abordaram o assunto. O fascino pela vida na estrada também rendeu excelentes filmes, especialmente na década de 1960, com os chamados road-movies.

Esses personagens, que decidem abandonar o conforto da vida sedentária e os valores e conformismos da “sociedade”, recebem uma caracterização romântica e heróica. São aventureiros, hippies, drogados ou desempregados, mas cientes da decadência da cidade e convencidos de que a verdadeira felicidade e paz interior só podem ser alcançadas em uma vivência do provisório.

O filme de Cao Guimarães traz uma outra identidade para esses marginalizados, em seu cru documentário o que sobressai é a solidão, provocada nem tanto pelo nomadismo, mas por uma condição de loucura. Parece que a imagem de um caminhante aventureiro e crítico não tem respaldo no imaginário coletivo brasileiro, a sugestão do louco andarilho parece mais convincente, expressões de uma cultura tão permeada pelo autoritarismo quanto a nossa. O pobre só é bem visto pelas autoridades quando indo ou regressando do trabalho, seus momentos de ócio devem ser cuidadosamente vigiados. As forças policiais estão sempre dispostas a te abordar e questionar de onde você vem e para onde vai. Restringe-se a pouca tolerância para com os andarilhos, tal opção de vida somente se justifica por se tratar de um demente, alguém que não responde pelos seus atos, merecedor de uma rápida condescendência ou esmola.

São três os andarilhos registrados no filme, e desses dois podem ser considerados pelo senso comum como loucos. O falar sozinho e o estranho gesticular comprovam suas poucas habilidades para o convívio rotineiro, portanto se vêem obrigados a procurar na estrada uma morada; difícil esta sobrevivência, marcada pela fugacidade, precariedade e sentimentos de alheamento. Por não negarem de todo o contato com outros homens eles não podem ser considerados eremitas, caminham pelas margens das rodovias, mas sem a procura por um refúgio definitivo.

O discurso estabelecido por Cao Guimarães é ambíguo, limitando-se a exibir fragmentos da vida desses caminhantes, não há o interesse pela análise ou pelo reconhecimento das identidades passadas e presentes desses homens. Nesse sentido, indiretamente, o que o diretor faz é corroborar com a imagem de pobres loucos trafegantes no norte de Minas Gerais. Vale inclusive questionar qual o direito tem o cineasta em filmar essas pessoas – em invadir seus universos particulares com uma câmera, indecorosa mas não inquiridora. Em fim, qual o compromisso do observador com o objeto observado? Às vezes parecer se limitar a um exercício de esteticização, criando planos belos e inteligentes, alegorias das subjetividades dos andarilhos. Vemos, por exemplo, a trajetória das luzes dos faróis dos automóveis se perdendo na escuridão da noite, quem as observa é um homem velho, cansado e deitado no chão de um bar perdido em lugar nenhum.

A cena final impressiona pela composição apresentada, as noções de tempo e espaço desafiam o expectador. Cenário quase infinito, capaz de engolir carros e homens, um ambiente extraterreno, inóspito e incivil. Conclui-se, portanto, que as estradas – locais de passagem – seriam abrigos somente para os anormais? Aqui está o perigo que circunda o Andarilho. Fica o risco de concluir que o lugar do louco é no hospício (ou então qualquer outro eufemismo em voga) para receber o cuidado e a vigilância necessários. Alguns se convencerão de que a vida sedentária estaria isenta de problemas e patologias, assim a via e a rua só têm como serventias a função de ligar um ponto a outro (dá casa ao shopping, por exemplo). Qualquer ato contra-hegemônico, qualquer indisposição contra as convenções da “sociedade” devem ser relevadas já que são puerilidades e excentricidades de homens que não dominam sua razão por inteiro.

O homem racional sabe de onde vem e para onde vai, traz consigo as carteiras de identidade e trabalho. Tem patrão, tem cartão de crédito, tem celular. As únicas coisas que lhe faltam são as liberdades de decidir e vislumbrar seu cativeiro cotidiano. Mas, como consolo, aos olhos dos demais, ele não é um louco que erra sem rumo ou prumo. Nesse contexto, Andarilho nos convida a pensar as relações e os limites entre a loucura e o bom senso.

Cotação: Bom

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Zohan - Um Agente Bom de Corte


Zohan - Um Agente Bom de Corte (You Don't Mess with the Zohan), 2008. EUA. Happy Madison Productions / Relativity Media. De Dennis Dugan

Hollywood sempre me surpreende, mas a surpresa dessa vez é positiva

Já no início a performance de Adam Sandler dá o tom do filme, o puro deboche situado na fronteira entre as paródias de James Bond e o humor negro. Integrante do exército israelense, o agente contra-terrorista Zohan Dvir é um sujeito durão, viril, que adora dar uns sopapos nos opositores de Israel, isto é, qualquer um que tenha aparência árabe.

Pavor dos seus inimigos, herói nacional, objeto de desejo das mulheres. Sim, este é Zohan, com seu cabelo encaracolado e suas roupas dos anos noventa – que agora, de acordo com a “Lei de Laver” é o novo ridículo da vez –, o braço duro do Estado contra as facções e os guerrilheiros.

No entanto, o engodo já se antecipa, por trás dessa versão translocada de 007 encontra-se um homem comum, cujo sonho é ser cabeleireiro. Impedido de exercer seu direito de escolha em uma sociedade que demanda guerreiros (pois todos devem servir ao exército) o personagem simula sua morte e parte para terra da liberdade (precisa dizer onde fica?), lá ele se prepara para começar outra vida, com um novo corte de cabelo tãooooooo anos noventa...

Chama-se agora Scrappy Coco, um imigrante em busca de uma oportunidade... ele segue o sonho americano... o sonho de ter um emprego subalterno. No entanto, sua antiga vida de agente secreto não está superada. Na terra do Tio Sam há vários palestinos que, mesmo vivendo em harmonia com a comunidade israelense local, devem ser vigiados, afinal, o quesito um para ser terrorista é não ser judeu. Além da busca pela profissionalização como cabeleireiro, Zohan deve se preparar para as invectivas de seu arqui-rival Phanton (John Turturro).

Está exposto o quadro, dentro desses argumentos se desenvolverão situações hilárias, caracterizadas pelo desempenho escrachado de Sandler. É o humor do insano, objetivando a ridicularização de tudo e todos. Os “extremistas” dos dois lados são os alvos preferenciais da chacota, os estereótipos vêm à tona e em seguida são ressignificados. Os sotaques, frases e trejeitos dos palestinos e israelenses, ao final das contas, assemelham-se e, para os americanos “típicos”, ambos podem ser ameaças. Em dado momento um personagem revela que a barba do outro constituía em atestado inequívoco de terrorismo: “se eu te visse sentado no avião eu desembarcaria”. Aquele a quem foi direcionado essa declaração escuta, reflete e em seguida concorda com seu conteúdo.

É engraçado porque verdadeiro, diria a velha escola de humoristas de palco.

Eis o grande mérito do filme, trata-se de um trabalho de humor, ignorem a previsível lição de moral, pedagógica e inócua, sobre a tolerância e o diálogo. Em certo sentido teríamos um filme quase político, caso entendamos a zombaria como um esboço de posicionamento crítico. Quando uma discussão sobre a contribuição de Bush para a geopolítica é insinuada, o assunto degringola para uma série de referências sexuais, como, por exemplo, as cochas (pernas) de Hillary Clinton. Explicita-se algo que muitas vezes é esquecido, a comédia não precisa assumir a condição de propaganda, basta ser engraçada.

As próprias cenas de ação soam irreais porque assim o querem, a masculinidade inconteste de Zohan se contrapõe à nova profissão por ele escolhida e tão estigmatizada como afazer afeminado. Os recursos à violência são quase redundantes, pois as questões se resolvem por sua sexualidade, antes de ser uma gente secreto Zohan Dvir é um “bond cama”. Aí está! Paródia das paródias de James Bond.

Não tenhamos ilusões, You Don't Mess with the Zohan é piada, e não discurso sobre a igualdade humana, mas ainda sim destoa do neo-conservadorismo reinante. Em épocas de trevas densas a luz de uma lamparina é quase um farol.

Cotação: Bom

Lutero


Lutero (Luther), 2003. EUA/ Alemanha. NFP teleart / Eikon Film / Thrivent Financial for Lutherans. De Eric Till

Lutero é um bom filme, a direção de fotografia e os cenários se revelam satisfatórios. Há momentos em que a câmera gira em torno do personagem e captura o cenário, de tal forma que vemos a paisagem a partir de sua perspectiva. É o caso, por exemplo, da primeira vez que ele se depara com Roma, ao ver um Arco do Triunfo.

Contudo há um ou dois anacronismos que deve ser registrados. Em primeiro lugar (isso é só implicância) uma das personagens utiliza a expressão "inércia" com um sentido contemporâneo. Não é preciso dizer que essa palavra não estava difundida na primeira metade do século XVI.

Em seus sermões, Lutero mais parece um Seinfield do que um religioso quinhentista. Acho pouco provável que um padre tivesse aquela forma de discursar. O humor utilizado em seus sermões parecem estar descolados daquele momento histórico.

Outra coisa, o comportamento da esposa de Lutero é totalmente descontextualizado. Essa foi difícil de engolir. Imaginem: ela jogando travesseiros na cara de Lutero, nervosa por ver suas núpcias interrompidas.

Ai, ai.

Sem cotação

P.S.: Republicação de uma das minhas primeiras críticas. O engraçado é que, na época, um leitor postou um comentário criticando meu texto e mandou-me ir estudar história. Como eu havia acabado de me formar nesse curso, todos acharam quem fui eu que inventei aquela frase para criar falsa polêmica.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Abismo do Medo


Abismo do medo (The descent), 2005. Inglaterra. Pathé / Celador Films. De Neil Marshall.

"Abismo do medo ou quando Sex and the city vai à caverna"

O filme tem um final feliz.

Só quem assistiu ao filme vai entender o que eu quero dizer...

Seis mulheres acostumadas a fazer tours de eco-aventura decidem explorar uma caverna. Porém após um desabamento acabam por ficar presas em seu interior.

A premissa inicial é promissora. Uma das estratégias clássicas para nos conduzir ao medo é nos confrontar com o desconhecido. Funciona tanto para estruturar a trama quanto manter o telespectador interessado. A maior parte das pessoas diria: “nunca entraria em uma caverna como essa”. Mas, a verdade é que no momento em que assistimos à projeção nos comportamos como se fossemos as vítimas.

Imaginem: 3 km sob a terra, passando por lugares estreitos, a escuridão reina, as lanternas falham, o grupo está tenso (isso é um clichê, mas é verossímil e sempre funciona). Temos todos os ingredientes para construirmos uma história assustadora. Certo?

Errado. Infelizmente o que eu descrevi são apenas os primeiros atos do filme. Uma vez presas, a trama começa a se degringolar por um itinerário não muito original. Passamos de uma história de sobreviventes para um trilher de horror. No interior das cavernas elas percebem que não estão sós, que lá embaixo há estranhos hominídeos, verdadeiros canibais.

O tema da aparente normalidade é interessante. O que parece ser algo normal – somente mais uma caverna – esconde criaturas aterradoras. Esse conceito está presente em vários filmes de qualidades duvidosa como o clássico O massacre da serra elétrica, Pânico na floresta e Plataforma do medo. Uma casa no Texas interiorano esconde uma família de canibais; em uma floresta, uma outra família de canibais, geneticamente deformados, ataca viajantes na auto-estrada; dentro do túnel de um metrô uma estranha criatura perambula, vitimando trabalhadores e mendigos.

Esse tipo de horror está sustentado justamente nessa dualidade, a normalidade aparente esconde o covil do monstro. Se você seguir o caminho normal tudo estará bem, mas um simples atalho poderá conduzi-lo até o bestial.

Assim, assim. No caso de Abismo do medo, não funciona.

No momento em que as exploradoras ficaram presas e se depararam com seus habitantes, deveriam ter dito: “Olha, nós viemos lá de cima, estamos dizimando as formas de vida da superfície – na verdade estamos pondo fim no próprio bios – não se metam conosco por que somos humanas”.

E não estariam mentindo, pois, no decorrer do filme, as moças revelam uma grande facilidade para dizimar as criaturas da caverna. Lógico que as donzelas estavam salvando a própria pele e ao seu redor só havia carnívoros. Mas, bem, nesse sentido o filme, indiretamente, revela um pouco da banalidade do eco-turismo, o quão indesejável e predatória é a presença do homem.

Podemos perceber que havia um antigo equilíbrio biológico entre aquelas criaturas e a natureza ao seu redor. O azar das moçoilas foi se depara com esse ambiente no qual, definitivamente, não eram bem vindas.

Claramente essa é uma extrapolação um tanto maldosa, porém ela pode ser sentida dentro do filme. As rápidas aparições das criaturas assustam as girls e o telespectador, muito mais do que quando suas presenças passam a ser constante. Na medida em que o desconhecido vai se revelando como mais uma criação (mesmo que aberrante) da natureza, as senhoritas invectivam contra seu algozes com muito mais ferocidade. Houve um momento em que, rodeadas por seus inimigos, em uma postura de defesa tão cenográfica que eu gritei: “Mate esse maldito orc Legolas!”

Contudo há pontos positivos no filme, não há porque culpar o roteiro ou a direção. Não há, por exemplo, aquelas típicas personagens histéricas (que a gente ajoelha e reza para o assassino matá-las logo), as aventureiras também não cometem erros típicos, embora desesperadas conseguem reagir à altura dos acontecimentos. Mulheres modernas, arrojadas, independentes, que não ficam dando gritinhos, mas que conseguem um tempinho para discutir seus relacionamentos: Sex and the ciy and cave.

No ato final do filme, a premissa inicial da normalidade versus anormalidade é retomada, em uma seqüência intensa, na qual vemos uma das personagens vislumbrando sua escapatória. Não é um filme de horror, é um filme ecológico, me convenceu de que há nichos dos quais nunca deveríamos entrar...

Que ultraje. Mas o final é feliz, isso vocês vão ter que concordar.

Cotação: regular

P.s: Esse filme não é de todo mal, eu o reassisti e até vi algumas boas idéias, mas a cotação permanece. Observem também o formato diferenciado do cartaz, verticalizado.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O Grande Dave


O Grande Dave (Meet Dave), 2008. EUA. 20th Century Fox Film Corporation. De Brian Robbins

As roupas de Eddie Murphy não enganam, essa comédia está fora do seu tempo, de sua década. Embora os trajes de Dave sejam dos anos 70, o filme nos remete às comédias dos anos 80 saborosamente inverossímeis. Quando criança, lembro de ter assistido a história de um príncipe africano que decide partir do seu país e rumar para a América em busca do verdadeiro amor. Cavaleiro em reino distante e que acaba por encontrar sua princesa em uma selva de concreto. Contos de fadas contemporâneos...

Dessa vez temos uma nave com formato humano, pilotada por pequenos alienígenas, que decide aterrizar no solo nova-iorquino para encontrar a solução para a ameaça que paira sobre seu planeta de origem. A nave em questão é Eddie Murphy, andróide totalmente interativo, controlado por uma disciplinada tripulação sob a batuta do Capitão, interpretado por esse mesmo ator.

O filme só funciona por causa do protagonista que com suas gesticulações e caretas dão o tom a essa comediazinha familiar. A sugestão é sentar na frente da telona com um balde de pipoca e se deixar enredar por uma história previsível, mas com bons momentos de fantasia e humor, além daquela nostalgia dos anos perdidos.

Esses minúsculos visitantes, vindos do planeta Nilly, buscam um equipamento extraviado que porá um fim as suas angústias, mas o contato com as emoções humanas os influencia, colocando em risco a hierarquia interna e o sucesso da missão. O filme rende bons momentos, oportunidade para Eddie Murphy se mostrar em forma e lembrar que esse gênero ainda vive, mesmo que agonizante. O roteiro fica no convencional, martelando a importância da individualidade humana, da criatividade e da beatitude da família, com “críticas” tão inexpressíveis que soam gratuitas (bem ao gosto de vinte e tantos anos atrás).

Piadas tendendo a escatologia e referências pops (algumas de difícil identificação para nós brasileiros) marcam a presença do humor contemporâneo. O desenlace não resolve os problemas levantados ao longo da projeção, mas finalizam com um efeito sentimentalóide, que pode até agradar o telespectador, mas em contrapartida revela as fraquezas do roteiro.

O Grande Dave não é de todo mal, quando chegar à telinha há de ser valorizado e até apreciado. Uma boa opção para depois da novela das oito, incluindo aí os intervalos comerciais.

Cotação: regular

Vôo Noturno


Vôo Noturno (Red Eye), 2005. EUA. DreamWorks SKG / Craven-Maddalena Films / Bender-Spink Inc. De Wes Craven

De um lado um alto político americano da Era Bush, que vem a público e defende a necessidade da força bruta para a política internacional.

Do outro lado um mercenário bonitão (Cillian Murphy), disposto a assassinar esse político.

Quem é o vilão? Bem, infelizmente este último.

De fato, o substrato ideológico do filme Vôo Noturno é a guerra contra o terrorismo, dissolvido em um roteiro bobo sobre a ameaça de assassinato à família (linda, branca, loura, indefesa) de um figurão republicano.

A história gira em torno da funcionária de um hotel, chamada Lisa Reisert (Rahcel McAdams), que, em alto vôo, é ameaçada pelo mercenário Jackson Rippner (Murphy). Esse pouco patriótico homem está ciente que Keef, o político, está para hospedar no hotel no qual ela trabalha.

O plano, portanto, é obrigar Lisa a usar seus contatos para transferir o hóspede para um determinado quarto, mais exposto, o que facilitaria o atentado. Em solo, um comparsa de Jack está pronto para matar o pai de Reisert caso ela decida não cooperar.

A partir daí passamos a acompanhar as tentativas de Lisa em ludibriar seu adversário, na perspectiva de salvar seu pai e a família Keef. O cenário principal do filme é o interior do próprio avião, toda a tensão é desenvolvida nesse restrito espaço.

O argumento principal já não é promissor, a direção de Wes Craven também deixa a desejar – não conseguindo escapar dos seus conhecidos macetes. A atuação de Rachel McAdans é fria, a moça, que já não é muito talentosa, interpreta o papel da nice girl da pior forma possível. Sempre resistindo, relutando, complicando; a típica mocinha que decide sobreviver e preservar os bons valores. A mulher americana trabalhadora, que suporta o stress e sabe encontrar a via adequada para resolver todos os conflitos, até mesmo um atentado terrorista...

Já seu antagonista, embora bonito, inteligente e misterioso comete tantos erros que eu acabei desistindo de torcer por ele... Se estes são os inimigos da América, não há razão para Bush dormir preocupado.

Ponto positivo para o filme: documento indireto do medo de voar que acometeu os americanos nos últimos anos, um receio sutilmente explicitado. Outro aspecto interessante é a apresentação dos inconvenientes de voar, como a espera nos terminais e as grosserias dos funcionários e demais passageiros. Um tema que, a nós tupiniquins, soa bem contemporâneo.

Embora o filme se estruture em um suspense, ele nos lembra aqueles trilhers de ação, como O Chacal , uma produção de 1997, protagonizada por Buce Willis e Richard Gere. História na qual um detento deve impedir o assassinato de um membro da família presidencial. Novamente temos civis se arriscando para a proteção de políticos.

Claro, o filme faz sentido para o público americano, que irá torcer para que a família Keef se safe. Porém, por aqui, na terra do Oba-Oba, não estamos dispostos a arriscar nossos pescoços pelos nossos políticos.

Se ao invés de Lisa Reisert tivéssemos um brasileiro, certamente que o político e seus belos familiares se mudariam para a cidade dos Sete Palmos.

Sorte do Keef que a América ainda é a América...

Cotação: fraco

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Esses homens maravilhosos e suas máquinas voadoras


Esses homens maravilhosos e suas fantásticas máquinas voadoras (Those Magnificent Men in Their Flying Machines), 1965. 20th Century Fox. Inglaterra. De Ken Annakin

Ingleses, franceses, italianos, americanos, alemães, japoneses. Todos juntos. Uma disputa nos céus. Os aviões partindo da Inglaterra rumo à França, ao vencedor o prêmio em dinheiro e a glória internacional (para sua máquina, para si próprio e para seu país). O ano é 1910, o que torna o filme irresistível, pois vemos vários países disputando cavalheiristicamente um prêmio internacional. Os estereótipos de cada nação e personagens são formidáveis, pessoalmente prefiro os italianos.

Esse filme soube, de forma singular, captar o contexto da Belle Èpoque com sua despreocupação burguesa e aristocrática. Quatro anos depois desse evento, todos esses países estariam se digladiando na horrenda Guerra, por isso a ironia e melancolia de um período supostamente inocente, mas extremamente nacionalista. Alguns personagens, como o jovem e afetado piloto inglês, personificam as contradições da “paz armada”.

Um filme longo, que resgata velhas piadas, algumas do cinema mudo, pouco engraçadas até, mas que nos lembram uma época em que alguns homens definitivamente acreditaram na paz como regra geral, e não como exceção.

Sem cotação