1BR – O apartamento (1BR), 2019. De David Marmor
Um
filme simples, redondinho, um suspense de baixo orçamento relativamente
livre dos clichês mais grosseiros. Trabalhando a noção de camadas em uma grande
cidade, a narrativa segue os encalços de Sarah em sua nova vida na cidade de Los Angeles. Ao locar
um apartamento, Sarah passa a fazer parte de uma comunidade interessada em
fomentar os laços pessoais. No entanto, a comunidade funciona como um tipo de
seita cujo intuito é ter um controle cada vez maior sobre seus integrantes.
A
proposta de uma subcultura (uma comunidade) contraposta à indiferença da
sociedade urbana consiste em um ponto interessante, pois o esforço em criar um
senso de vicinalidade é, em si, assustador. Além disso, as relações entre os
moradores parecem sugerir como o atual individualismo almeja e repele a socialização do tipo
interiorano.
Mesmo parecendo interessada em se integrar ao grupo, é a ameaça de violência que convence
Sarah a permanecer nos limites da comunidade. A história carece, no entanto, de maior contexto
para a construção do universo fílimico, por exemplo: como eles se sustentavam?
Quais os mecanismos efetivos para evitar a deserção e como passavam o
tempo nos limites daquele conjunto condominial? Meio tedioso não?
O
filme lembra Vivariun de Lorcan Finnegan, também de 2019: a oferta de
locação de imóvel como uma armadilha e a existência de um microcosmos sufocante
e aterrorizador são pontos comuns. Mas 1BR é bem menos radical aproximando-se
mais de um Wild Wild Country (2018), ou seja, insatisfeitos com a vida
moderna buscando alternativas ainda piores.
O
desfecho em aberto, mas sem picaretagem, reforça as dificuldades de escapar das
redes tecidas pelos terraplanistas de plantão. De fato, permanece atual a
questão da impotência da racionalidade diante dos fluxos de surto coletivo. A autopreservação
torna-se ineficaz perante a manipulação das redes, o olhar panóptico e o desejo
de pertencimento.
Assim,
ao fim e ao cabo a seita atesta vocações autoritárias latentes, mas emasculadas,
sem músculos adequados para a realização totalitária. Seus mecanismos são suficientes
para transformar ovelhas desgarradas em cobaias de um viveiro chinfrim. Eis um
filme de baixo orçamento que, involuntariamente, consegue um certo nível de
precisão sociológica.
Cotação: ☕☕