Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider), 2007. De Mark Steven Johnson
Bem, eu poderia falar sobre esse filme. A constante estrutura da Marvel: pegue seus super-heróis, crie um drama estereotipado em sua volta e pronto. Sirva ao público e eles haverão de gostar.
Por isso, ao invés de falar de Motoqueiro fantasma, eu narrarei os
Bastidores do cinema ou o que eu senti assistindo ao filme
Estou sozinho em casa, sentado, com os pés sobre a escrivaninha. Em minha frente o computador está ligado, tenho um longo trabalho a fazer e a única coisa que eu digitei foi asdfg.
Dou uma espreguiçada. O celular toca. Quase nunca toca, mas naquele momento tocou.
Eu atendo: “What’s up?
É uma voz feminina. Não. É uma linda voz feminina.
“ Cinema, hoje, que tal?”
A voz feminina só não é mais linda que a sua dona. Consigo balbuciar um sim.
“ Local X, hora Y, ok?”
Como um bom favelado, só consigo pronunciar: “Demorô”.
Estou em frente ao cinema, ela vem se aproximando. She is so pretty. Pergunto a ela o que quer assistir. Se ela me convidasse para um pacto suicida, a única coisa que eu perguntaria seria o traje adequado para a ocasião.
Infelizmente ela não propôs um pacto de morte, mas sim que assistíssemos Motoqueiro Fantasma.
No problem. Ver um filme ruim em uma boa companhia é quase o mesmo que ver um ótimo filme com uma péssima companhia – bem.... na verdade não, mas naquele momento eu tentei me enganar.
Lógico que minha expectativa quanto ao filme não era das melhores. Estava mais preocupado com os olhos azuis da minha companhia e o batom cor de néon que ficava tilintando em seus lábios.
Fila. Ela quer comprar pipoca. Fosse outra pessoa: eu começaria a rir, perguntaria se também iria tomar Coca, provaria por a+b que cinema não é lugar de comer, e por fim arremataria com a crítica à vinculação entre cinema e fast food.
“Vai beber o que?” Pergunto...
Fila. Ela diz: “Isso é tão ridículo, não acha?”, ela me aponta um casal de namorados, “Aquela menina é tão branquinha, junto com um cara tão escurinho”.
Desolação, ela é nazi, é racista. Seria eu capaz de me envolver com uma mulher que defende o Apharteid? Que legitima o nazismo? Que questiona o sagrado e universal princípio de que todos os homens são iguais? – nossa, ela tem um pé tão bonitinho... por que não? Ninguém é perfeito...
Desconverso. Dentro do cinema, sentamos. Então ela inicia sua explanação sobre seus filmes preferidos: eles envolvem perseguição de carros, explosões, cenas de lutas fulminantes, musiquinhas dançantes e efeitos especiais estrondosos.
Hum... se uma cinéfila fizesse meu tipo eu daria em cima da Sofia Copolla...
Bem, infelizmente não se limitou a isso. Eu tive que aturar meia hora de mastigados estrondantes de pipoca, ela não desligou o celular (que a propósito, em um determinado momento tocou – se ela tivesse atendido tudo teria acabado ali mesmo). Por fim, a gota d’água: quando o motoqueiro fantasma desce uma inclinação de 90º graus – sim, sua moto pode subir e descer prédios por um “dá cá a palha” – ela não se conteve e deu um gritinho.
“Uhh”
Deus, tudo, menos isso. Uma coisa é negar o holocausto, a outra é gritar no cinema. Concluo que nunca daria certo.
Fim do filme – o bem vence o mau, ou o mau vence a si mesmo e se torna o bem... ah quem se importa!
Ela diz que gostou da minha companhia, diz que teríamos que fazer isso mais vezes. Eu respiro fundo e me armo para dizer a verdade. Ela joga o cabelo para traz de uma maneira tão sui generis que eu percebo o quanto sou intransigente. Não posso fazer juízos de valor de forma tão precipitada. Me aprumo e digo: “Com certeza, devemos fazer isso mais vezes”.
“Que bom, agora eu tenho que ir, marquei de encontrar com meu namoradinho daqui a meia hora”.
“What? What? What’s hell?”
Eu caio de joelhos ao chão, sinto uma tremenda febre, sai fumaça da minha jaqueta, meu corpo está em chamas. Minha cara é uma bola de fogo. Sim! Eu sou o motoqueiro fantasma. Saio correndo pelo saguão com uma risada diabólica e salto bem em cima da minha moto (eu nem não sabia que tinha uma...).
Percorro a cidade em minha fantasmagórica motocicleta, percebo que sou um amaldiçoado, o filme, finalmente, faz todo o sentido para mim.
Cotação: péssimo
Pós escrito: minha crítica favorita, a mais verdadeira, até hoje tenho traumas com essa experiência.
Lógico que minha expectativa quanto ao filme não era das melhores. Estava mais preocupado com os olhos azuis da minha companhia e o batom cor de néon que ficava tilintando em seus lábios.
Fila. Ela quer comprar pipoca. Fosse outra pessoa: eu começaria a rir, perguntaria se também iria tomar Coca, provaria por a+b que cinema não é lugar de comer, e por fim arremataria com a crítica à vinculação entre cinema e fast food.
“Vai beber o que?” Pergunto...
Fila. Ela diz: “Isso é tão ridículo, não acha?”, ela me aponta um casal de namorados, “Aquela menina é tão branquinha, junto com um cara tão escurinho”.
Desolação, ela é nazi, é racista. Seria eu capaz de me envolver com uma mulher que defende o Apharteid? Que legitima o nazismo? Que questiona o sagrado e universal princípio de que todos os homens são iguais? – nossa, ela tem um pé tão bonitinho... por que não? Ninguém é perfeito...
Desconverso. Dentro do cinema, sentamos. Então ela inicia sua explanação sobre seus filmes preferidos: eles envolvem perseguição de carros, explosões, cenas de lutas fulminantes, musiquinhas dançantes e efeitos especiais estrondosos.
Hum... se uma cinéfila fizesse meu tipo eu daria em cima da Sofia Copolla...
Bem, infelizmente não se limitou a isso. Eu tive que aturar meia hora de mastigados estrondantes de pipoca, ela não desligou o celular (que a propósito, em um determinado momento tocou – se ela tivesse atendido tudo teria acabado ali mesmo). Por fim, a gota d’água: quando o motoqueiro fantasma desce uma inclinação de 90º graus – sim, sua moto pode subir e descer prédios por um “dá cá a palha” – ela não se conteve e deu um gritinho.
“Uhh”
Deus, tudo, menos isso. Uma coisa é negar o holocausto, a outra é gritar no cinema. Concluo que nunca daria certo.
Fim do filme – o bem vence o mau, ou o mau vence a si mesmo e se torna o bem... ah quem se importa!
Ela diz que gostou da minha companhia, diz que teríamos que fazer isso mais vezes. Eu respiro fundo e me armo para dizer a verdade. Ela joga o cabelo para traz de uma maneira tão sui generis que eu percebo o quanto sou intransigente. Não posso fazer juízos de valor de forma tão precipitada. Me aprumo e digo: “Com certeza, devemos fazer isso mais vezes”.
“Que bom, agora eu tenho que ir, marquei de encontrar com meu namoradinho daqui a meia hora”.
“What? What? What’s hell?”
Eu caio de joelhos ao chão, sinto uma tremenda febre, sai fumaça da minha jaqueta, meu corpo está em chamas. Minha cara é uma bola de fogo. Sim! Eu sou o motoqueiro fantasma. Saio correndo pelo saguão com uma risada diabólica e salto bem em cima da minha moto (eu nem não sabia que tinha uma...).
Percorro a cidade em minha fantasmagórica motocicleta, percebo que sou um amaldiçoado, o filme, finalmente, faz todo o sentido para mim.
Cotação: péssimo
Pós escrito: minha crítica favorita, a mais verdadeira, até hoje tenho traumas com essa experiência.