Os Infiltrados (The Departed), 2006. EUA. De Martin Scorcese
O filme se estrutura no contraponto entre dois policiais, um deles, está infiltrado na polícia, para ajudar os mafiosos (Matt Damon), e o outro vive o disfarçe de criminoso, para fornecer informações às forças da lei (Leonardo DiCapiro).
Ambos, cada um à própria maneira, são desajustados, a escolha do caminho que decidiram trilhar está justamente ligado às suas experiências no passado. Um procura um substituto paterno (Damon) e outro constrói sua identidade recusando o pertencimento à sua família composta por criminosos (DiCapiro).
Ambos os lados procuram o “rato”, isto é, o infiltrado, uma figura marrom, igualmente odiada. Porém desempenhar esse papel de informante é tarefa difícil, e só pode ser levado a cabo por pessoas desajustadas, que sempre vivenciaram um sentimento de não pertencimento, de fluidez perante qualquer identidade grupal.
Scorcese deixou de fora seus diálogos tão brilhantemente conduzidos, optando também por uma direção mais convencional, embora não menos vigorosa – basta perceber aquela seqüência
Em Gangues de Nova York, o ator interpreta um homem violento, que pretende encontrar um lugar em uma gangue, mas, ao mesmo tempo, deseja desforrar a morte do pai, assassinado pelo líder do grupo. Já
Por outro lado, Colin Sullivan (Damon), tem a pinta do mocinho, mas sua lealdade está mais direcionada para os grupos mafiosos. Indiscutivelmente ele é um criminoso, embora ninguém perceba. Porém ele também comporta uma dimensão de desajustamento, o que ele teme não é a morte (esta, em nenhum momento o assusta verdadeiramente), mas sim a perda do ethos do bom policial. Ele abandonou a ética da igreja pela da rua – um ponto recorrente na filmografia de Scorcese – pois antes de se filiar aos delinqüentes era um coroinha.
Entre esses dois, paira a figura, sinistra mais cativante, de Frank Costello, o líder dessa facção de criminosos, interpretado pelo consagrado Jack Nicholoson, que consegue compor um personagem típico do universo scorcesiano. Costello é um crítico ferrenho da ética religiosa, sua opção é pela violência, em sua opinião, mas legítima e explícita que a hipocrisia dos eclesiásticos – ele se recusa a ter qualquer contato com os representantes do sagrado, um indício de sua vocação niilista.
Porém, o filme não consegue se afastar muito do cinema de gênero, todos os ingredientes obrigatórios para um filme policial estão presentes. O que vale a pena
Não. Os criminosos pagam seus delitos por outros caminhos, muito mais obscuros. Os ratos são necessariamente marginalizados, ao optarem por viver nas fronteiras, não resta a possibilidade fazerem uma opção decisiva por um dos lados, pois ao final, esquecerão completamente a quem eles servem realmente.
Talvez nunca descubram que o que eles procuram é a ratoeira.
Sem cotação.