Eu sou a lenda (I’m the legend), 2007. EUA. De Francis Lawrence
Novo complexo de cinema do Shopping Cidade. Uma longa escada me conduz até o salão principal. É tão íngreme que, por um instante, suponho estar me dirigindo ao céu. É... só se for o céu do consumismo.
A bomboniére lotada, sacos gigantes de pipocas, por todo o canto filas, não sei de onde vem e nem para onde vão. Patrícias, casaizinhos e meninões, sexta feira, Shopping Center: esse é o público alvo. Nova atualização do Panis et Circenses, mas desta vez nada é de graça, cobra-se.
Entro na sala de projeção: admirável mundo novo, tudo colossal, inclusive a imbecilidade do público. Ao meu lado um casal discute se a pronúncia correta é “áxixe” ou “ráxixe”. Eu, por minha vez, penso se o correto seria “árakiri” ou “rárakiri”...
Trailer: Batman: o Cavaleiro das Trevas – os rapazes já esfregam as mãos, ansiosos por essa nova dose de testosterona. As luzes se apagam e como diria Quantin Tarantino: agora nossa atração principal.
Aparentemente não há mais seres vivos na terra, Robert Neville (Will Smith) pode andar despreocupado. Mas ainda sim, ele insiste em correr pelas ruas em um carro veloz, tentando abater um antílope. Todos os supermercados de Nova York a sua disposição e ele teima em queimar pneu para perseguir um animal. No filme ele é o cara mais inteligente: o CIENTISTA.
A narrativa começa tropegamente, mas ganha densidade e ritmo, principalmente quando percebemos a sua habilidade em calcular os riscos e seu envolvimento com os prováveis perigos. Lá fora zumbis mutantes, famintos, que só saem a luz do luar: mistura de sangue-suga com mortos-vivos – premissa interessante... só faltou um licantropo para avacalhar de vez...
Eu sou fã do gênero, mas os filmes de zumbis já deram o que tinha de dar... Extermínio 2 (que é produção inglesa) marcou o limite, passou da hora de explorar outro filão.
Eu sou a lenda se baseia em uma série de clichês, Neville viu sua família morrer – ela amava sua mulher e filha... desde então ele se purga, na procura da cura pelo vírus. Ele se tornou cético e amargo, além de que depois de três anos isolado, uma certa tendência anti-social é inevitável.
Mas eis que surge uma coadjuvante, vinda de São Paulo, como ela conseguiu chegar a ilha de N.Y que estava com as pontes rompidas não é bem explicado (não vão me dizer que foi de navio...). De qualquer forma não há por que dá atenção para alguém que já entra em cena proselitando que “Deus tem um plano para todos nós” – vai ver que a moça era da Igreja Universal. Se Ele tem um plano para todos nós, queria saber por que ele me deixou entrar no cinema naquele dia.
Não que inexistam bons momentos no filme, o suspense é bem construído, a caracterização da cidade também é eficiente, além de pequenas nuances: será que o casal ao meu lado percebeu que havia um Van Gogh na casa de Neville?
Quanto ao desfecho nada falarei, só que é uma grande picaretagem, ao término eis que a bandeira americana novamente ressurge, povo tenaz e resistente, sempre encontrando novos meios de sobrevivência.
Na saída, mocinhas bem prendadas distribuem folhetos do Pitágoras com balas de açúcar. Publicidade direta, merchandising frontal, pois quem se submete ao enquadramento dos esquemões hollywoodianos também não estaria propenso ao achatamento intelectual dos pré-vestibulares?
Só posso responder por mim, chupei a bala e joguei fora o folheto.
Cotação: Regular
domingo, 3 de fevereiro de 2008
domingo, 30 de dezembro de 2007
Happy Feet
Happy Feet – o Pingüim (Happy Feet), 2006. EUA. De George Miller
Um filme sobre os pingüins imperadores, exímios cantadores. Para o acasalamento, eles formam seus pares a partir de cantos. Porém, um deles, chamado Mano, tem uma peculiaridade: é incapaz de cantar, ele só consegue expressar seus sentimentos através da dança.
Essa sua habilidade o indispôs perante seu grupo, sobretudo os mais velhos. Mano é um desolado, inapto a seguir os antigos rituais de corte e acasalamento da espécie. A impressão inicial é estarmos diante de mais uma das tantas atualizações do patinho feio. Um novo exemplar das fábulas de aceitação social, bem ao gosto da Disney ou da DreanWork. O exemplo mais recente que me vem a mente é sobre um ogro que se diz misantropo, mas cujo anseio mais íntimo é justamente a inclusão nos padrões da maioria.
Na verdade, um dos paradoxos das sociedades ocidentais contemporâneas é o culto ao individualismo ser complementar às medidas de massificação e homogeneização dos gostos e sensibilidades. O cinema americano tem uma predileção por aquele modelo de herói que se diz diferente, mas que, ao final, mesmo que implementando alguma mudança, acabará por aceitar uma reordenação conservadora do sistema (lembrem-se do desfecho de FormiguinhaZ). Aula de sociologia funcionalista no mais elementar grau... Sem dúvida que esses problemas perpassam Happy Feet do início ao fim, e durante os primeiros atos eu tinha a convicção de que estava a desperdiçar uns 90 minutos do meu tempo.
Contudo, na metade da projeção o enredo adquire uma nova conotação, a meta do personagem (de conquistar a amada e ser aceito pelo seu bando) é substituída por uma nova missão, a de compreender a razão do desaparecimento dos peixes. Esta atípica ave decide realizar uma jornada em direção a seres desconhecidos (os ETs) que, supostamente seriam responsáveis pela carestia dos víveres.
Com esse incremento, a narrativa acaba por tomar um fôlego, trazendo um sutil pensamento ecológico que é até inofensivo, mas, ao menos, não se resvalando na pieguice.
O jovem Mano descobre nos ETs criaturas indiferentes, incapazes de perceber o sofrimento dos demais. Gigantescos e poderosos, eles eliminam todas as formas de vida, dos peixes às baleias, não há criatura capaz de fazer frente à voracidade desses insaciáveis alienígenas. Caberá ao pingüim encontrar meios para se comunicar com tais seres, dissuadindo-os da predação irracional dos peixes.
No Pólo Sul há muitos animais que ameaçam a vida dos pingüins, como as gaivotas, os leões marinhos e as baleias. Porém, no desenvolvimento do filme, evidencia-se que o maior perigo reside nas inexplicáveis ações daqueles estranhos alíens que, por onde passam, deixam um rastro de destruição e sujeira. Sem dúvida, o perigo vem do espaço.
Cotação: Bom
Pantera Cor-de-Rosa
Pantera Cor-de-Rosa (The Pink Panther). Eua. DE Sawn Levy, 2006.
“Para de pressioná-la, não vê que ela é sexy!"
Assino embaixo essa frase pronunciada pelo inspetor Jacques Clouseau, interpretado por Steve Martin, ao se referir a cantora Xania (Beyoncé Knowles).
Começo esse texto por um caminho pouco usual ao destacar a beleza de Beyoncé, certamente uma das mulheres mais bonitas dos Estados Unidos, representante da pop e world music. A presença da figura da “mulher fatal” é indispensável para o desenvolvimento dessas histórias detetivescas. Basta lembrar o cinema noir e suas paródias, das quais a franquia Pantera Cor-de-Rosa é um exemplo indireto.
A beleza singular de Konwles é uma estratégia para nos levarmos a um esquema de cinema glamour onde a aparência do ator é um elemento essencial da trama. Assim Beyoncé é a mulher misteriosa e sedutora, Jean Reno é a objetividade, humildade e força e Steve Martin é a própria incompetência não admitida e encarnada em forma de homem.
Steve Martin é um ator competente, pois conseguiu substituir satisfatoriamente Peter Sellers, embora o Clouseau deste último fosse bem mais blasé. Faltou um pouco de alheamento na interpretação de Martin, não podemos nos esquecer que o inspetor francês é quase um altista, com uma percepção mínima da realidade ao seu redor.
Há algumas vulgaridades no filme, plenamente dispensáveis, um indício da queda da comédia cinematográfica contemporânea, que, cada vez mais, tende a ser escatológica. De qualquer forma as piadas básicas e as situações cômicas típicas permanecem, mas não trata-se simplesmente de um remake.
Há várias reinvenções, pois temos um Clouseau que convive com celular, viagra, internet e e-mail, todas as cenas que envolvem essas tecnologias são hilárias. A referência aos filmes de James Bond é legítima na medida em que ela tem uma funcionalidade na trama, não soando gratuita.
O desfecho é a parte mais insatisfatória do filme. A forma como se deu a “redenção” de Clouseau foi forçada, ele é um policial altamente incompetente, não há uma razão para tentar nos convencer do contrário.
Cotação: Regular
“Para de pressioná-la, não vê que ela é sexy!"
Assino embaixo essa frase pronunciada pelo inspetor Jacques Clouseau, interpretado por Steve Martin, ao se referir a cantora Xania (Beyoncé Knowles).
Começo esse texto por um caminho pouco usual ao destacar a beleza de Beyoncé, certamente uma das mulheres mais bonitas dos Estados Unidos, representante da pop e world music. A presença da figura da “mulher fatal” é indispensável para o desenvolvimento dessas histórias detetivescas. Basta lembrar o cinema noir e suas paródias, das quais a franquia Pantera Cor-de-Rosa é um exemplo indireto.
A beleza singular de Konwles é uma estratégia para nos levarmos a um esquema de cinema glamour onde a aparência do ator é um elemento essencial da trama. Assim Beyoncé é a mulher misteriosa e sedutora, Jean Reno é a objetividade, humildade e força e Steve Martin é a própria incompetência não admitida e encarnada em forma de homem.
Steve Martin é um ator competente, pois conseguiu substituir satisfatoriamente Peter Sellers, embora o Clouseau deste último fosse bem mais blasé. Faltou um pouco de alheamento na interpretação de Martin, não podemos nos esquecer que o inspetor francês é quase um altista, com uma percepção mínima da realidade ao seu redor.
Há algumas vulgaridades no filme, plenamente dispensáveis, um indício da queda da comédia cinematográfica contemporânea, que, cada vez mais, tende a ser escatológica. De qualquer forma as piadas básicas e as situações cômicas típicas permanecem, mas não trata-se simplesmente de um remake.
Há várias reinvenções, pois temos um Clouseau que convive com celular, viagra, internet e e-mail, todas as cenas que envolvem essas tecnologias são hilárias. A referência aos filmes de James Bond é legítima na medida em que ela tem uma funcionalidade na trama, não soando gratuita.
O desfecho é a parte mais insatisfatória do filme. A forma como se deu a “redenção” de Clouseau foi forçada, ele é um policial altamente incompetente, não há uma razão para tentar nos convencer do contrário.
Cotação: Regular
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