domingo, 3 de fevereiro de 2008

Eu sou a lenda

Eu sou a lenda (I’m the legend), 2007. EUA. De Francis Lawrence

Novo complexo de cinema do Shopping Cidade. Uma longa escada me conduz até o salão principal. É tão íngreme que, por um instante, suponho estar me dirigindo ao céu. É... só se for o céu do consumismo.

A bomboniére lotada, sacos gigantes de pipocas, por todo o canto filas, não sei de onde vem e nem para onde vão. Patrícias, casaizinhos e meninões, sexta feira, Shopping Center: esse é o público alvo. Nova atualização do Panis et Circenses, mas desta vez nada é de graça, cobra-se.

Entro na sala de projeção: admirável mundo novo, tudo colossal, inclusive a imbecilidade do público. Ao meu lado um casal discute se a pronúncia correta é “áxixe” ou “ráxixe”. Eu, por minha vez, penso se o correto seria “árakiri” ou “rárakiri”...

Trailer: Batman: o Cavaleiro das Trevas – os rapazes já esfregam as mãos, ansiosos por essa nova dose de testosterona. As luzes se apagam e como diria Quantin Tarantino: agora nossa atração principal.

Aparentemente não há mais seres vivos na terra, Robert Neville (Will Smith) pode andar despreocupado. Mas ainda sim, ele insiste em correr pelas ruas em um carro veloz, tentando abater um antílope. Todos os supermercados de Nova York a sua disposição e ele teima em queimar pneu para perseguir um animal. No filme ele é o cara mais inteligente: o CIENTISTA.

A narrativa começa tropegamente, mas ganha densidade e ritmo, principalmente quando percebemos a sua habilidade em calcular os riscos e seu envolvimento com os prováveis perigos. Lá fora zumbis mutantes, famintos, que só saem a luz do luar: mistura de sangue-suga com mortos-vivos – premissa interessante... só faltou um licantropo para avacalhar de vez...

Eu sou fã do gênero, mas os filmes de zumbis já deram o que tinha de dar... Extermínio 2 (que é produção inglesa) marcou o limite, passou da hora de explorar outro filão.

Eu sou a lenda se baseia em uma série de clichês, Neville viu sua família morrer – ela amava sua mulher e filha... desde então ele se purga, na procura da cura pelo vírus. Ele se tornou cético e amargo, além de que depois de três anos isolado, uma certa tendência anti-social é inevitável.

Mas eis que surge uma coadjuvante, vinda de São Paulo, como ela conseguiu chegar a ilha de N.Y que estava com as pontes rompidas não é bem explicado (não vão me dizer que foi de navio...). De qualquer forma não há por que dá atenção para alguém que já entra em cena proselitando que “Deus tem um plano para todos nós” – vai ver que a moça era da Igreja Universal. Se Ele tem um plano para todos nós, queria saber por que ele me deixou entrar no cinema naquele dia.

Não que inexistam bons momentos no filme, o suspense é bem construído, a caracterização da cidade também é eficiente, além de pequenas nuances: será que o casal ao meu lado percebeu que havia um Van Gogh na casa de Neville?

Quanto ao desfecho nada falarei, só que é uma grande picaretagem, ao término eis que a bandeira americana novamente ressurge, povo tenaz e resistente, sempre encontrando novos meios de sobrevivência.

Na saída, mocinhas bem prendadas distribuem folhetos do Pitágoras com balas de açúcar. Publicidade direta, merchandising frontal, pois quem se submete ao enquadramento dos esquemões hollywoodianos também não estaria propenso ao achatamento intelectual dos pré-vestibulares?

Só posso responder por mim, chupei a bala e joguei fora o folheto.

Cotação: Regular

2 comentários:

Bento Epaminondas disse...

Finalmente o ano começou aqui no Café com Cinema. Já estava achando que seria só depois do Carnaval.

Unknown disse...

esse filme é sua cara.. o mocinho morre no final!!!