segunda-feira, 19 de novembro de 2007

1408

1408 (1408), 2007. EUA. De Mikael Hafström.

1408 = 1+4+0+8 = 13

Um filme feito a partir de um livro de Stephen King é um filme feito a partir de um livro de Stephen King. Se considerarmos essa premissa válida, podemos seguir em frente.

Na maior parte do tempo é um filme mediano, o que se deve mais ao roteiro, bem didático, do que ao enredo abordado. Temos um caçador de fantasmas, chamado Mike Enslin (interpretado por John Cusack) que, devido a problemas não resolvidos no passado, decidiu-se tornar um pesquisador (sic) de evidências sobrenaturais.

Geralmente ele se hospeda em lugares com fama de mal assombrados, na tentativa de estabelecer contatos com ecos de outro mundo. Mike Enslin recebe um estranho convite para se hospedar no quarto 1408 do Hotel Dolphin, mas o gerente (Samuel L. Jackson) tenta dissuadi-lo desse intento. Tal quarto tem um longo histórico, com o falecimento (por mortes naturais ou não) de vários hóspedes. Cético e arrogante, o personagem de Cusack decide arriscar, para finalmente ser confrontado por eventos contrastantes a sua racionalidade.

Não vou buscar furos e incongruências nessa história (quem era a estranha mulher com o sinistro carrinho de bebê? quem souber favor me responder), afinal, Stephen King é S. King, já devíamos estar acostumados. Mas, para os apreciadores do gênero de terror/horror, essa produção não decepciona, até porque realmente ela é bem feita. Logo na introdução já entendemos que tipo de pessoa é Mike Enslin, em seguida vemos o rápido (porém importantíssimo) embate entre ele e o gerente do Dolphin. Tudo feito de forma eficiente, sem excessos e picaretagens.

A própria maneira como o diretor constrói a cidade de Nova York é eficiente, trazendo a tona o lado sinistro da metrópole, com suas luzes desfocadas e a impessoalidade dos arranha-céus.

A ascensão do horror no quarto se dá de forma gradual, partindo, a princípio, de pequenos indícios (aparentes coincidências) para progressivamente ganhar forma, com a inconteste presença do sobrenatural. Sabe-se que o quarto é maléfico, mas não há um conteúdo específico relacionado a ele, isto é, sua natureza não é necessariamente fantasmagórica. Trata-se de um espaço anômalo, capaz de exercer uma pressão sobre seus hóspedes, ao diluir as fronteiras entre o real e a alucinação.

E é justamente nesse ponto que eu quero me reter. A maneira que o horror emerge no filme é a justaposição entre a percepção real e o delírio, pois, gradualmente, para o personagem e o próprio expectador, torna-se impossível distinguir a realidade do desvairo. Algo que também pode ser percebido em outros filmes roteirizados a partir das histórias de S. King. Mas que aqui é radicalizado a ponto de confundir definitivamente o espectador.

O desfecho sem dúvida é sem-vergonha e eclipsa os poucos méritos do filme. Uma vez no quarto 1408 torna-se impossível manter a consciência, a mente se abre, introduzindo as lembranças, os receios e as fraquezas – mas permanece a dúvida sobre qual dessas visões estão intricadas no universo real e concreto. Ao quebrar definitivamente a distinção entre a percepção factual e a alucinação, tudo se torna válido, ficando fácil demais confundir o público. Torna-se possível, inclusive, brincar com o tempo e o espaço, jogando o personagem em acontecimentos que nunca ocorreram e os dotando de uma coerência desnecessária.

Enfim, é um logro, ainda que bem apresentado. Na suposta abordagem investigativa, vemos um esquema desgastado do gênero de terror. Por detrás do 1408 se esconde o previsível 13. Bu! Um susto atrás do outro. Bem concatenados, suspense na dose certa. Mas só.

Recepção, fecha a conta. Estou partindo.

Cotação: Fraco

Hairspray (notas gerais)

Hairspray – em busca da fama (Hairspray), 2007. EUA. De Andan Shankman

Hairspray – em busca da fama pode ser resumido como um filme politicamente correto, ainda que salpicado por um humor um pouco mais ácido. Originalmente um musical da Broadway, cujo título era certamente um trocadilho com Hair, outra famosa produção.

Michelle Pfeiffer roubou a cena, interpretando uma mulher egoísta, convencida e preconceituosa, se valendo de todos os recursos para garantir a vitória de sua filha em um concurso de danças exibido por um programa de televisão direcionado para adolescentes.

A estreante Nikki Blonsky fez uma boa apresentação, ao encenar Tracy Turnblad, uma garota obesa apaixonada pela dança e pelo galã da escola. John Travolta faz o papel da mãe de Tracy, boa atuação, mas sem maiores destaques (e também oportunidades para se destacar).

O filme se alonga demais em algumas questões, acabando por se tornar tedioso e obscurecendo seus poucos momentos de humor. A questão dos problemas étnicos, ainda que atual, é abordada de uma forma um tanto descontextualizada. As trilhas musicais, de um modo geral, são divertidas.

Uma boa opção para sessão da tarde e nada mais...

Cotação: Fraco

sábado, 17 de novembro de 2007

A loja mágica de brinquedos

A loja mágica de brinquedos (Mr. Magorium’s Wonder Emporium ), 2007. E.U.A. De Zach helm

Assistir um filme como este nos impõem vários desafios. A começar pelo problema das dublagens, pois, supõe-se, que nossas crianças não sabem ler. O primeiro filme com legendas que assisti foi Lua-de-mel assombrada (com Gene Wilder, lembram?) e eu só tinha sete anos. Claro, eu não era prodígio nenhum, a indústria cultural é que não havia desenvolvido essas novas táticas de massificação.

Eu aprecio muito os filmes (e a (boa) literatura) direcionada para o público infanto-juvenil, pois é importante fornecê-los experiências estéticas válidas e compatíveis com seus níveis cognitivos. Porém, as crianças estão mais preocupadas com a pipoca, comendo porções cada vez maiores (regadas a coca-cola) e não raro engasgando. É difícil se concentrar no filme, pois, além da dublagem há o problema dos mastigados dos garotos. Contudo, o silêncio dura enquanto durar a pipoca, terminado o consumo, eles começam a se remexer nos bancos, a conversar com as mães, a andar pelos corredores. Enfim, é um inferno. Deveriam fazer um balde de pipoca que durasse durante toda a projeção. Um pote gigantesco, no qual as crianças cairiam e se afogariam.

Mas, em parte, a culpa também é do filme, que não consegue desenvolver um bom diálogo com seu público alvo. Não que Natalie Portman não tente, já que sua atuação é completamente infantilizada (e não é a personagem, mas a atuação da atriz). Até confesso que ela está uma gracinha, mesmo num papel tão limitado. Porém, há algumas cenas constrangedoras, na qual a bonitinha Molly Mahoney (sacaram as sutilezas do nome?) demonstra uma dificuldade de escapar do mundo infantil e se integrar ao universo dos adultos. Um erro em que nem o próprio Magorium (Dustin Hoffman), o mágico criador da loja, resvala, já que, apesar de sua excentricidade ele parece ter uma percepção bem definida dos elementos da vida. Suas frases, ainda que piegas, denunciam uma sincera interpretação da realidade, abordando questões complexas, como a morte, por exemplo.

Uma das principais deficiências do filme é que a questão da mágica tem um papel diminuto, optando por enfatizar os dilemas e as dificuldades dos personagens. Questões desinteressantes como o garoto que não conseguia fazer amigos, o contador incapaz de usar a imaginação e as dificuldades de Mahoney em “encontrar seu caminho” é que dão o tom da história. O próprio cenário da loja, com seus brinquedos sui generis, raramente desperta o espanto e a admiração do expectador, acostumados a composições mais grandiosas, a exemplo da franquia Harry Potter.

O mais destacável é a sinceridade do roteiro, não extrapolando seus objetivos ao abordar a dicotomia loja mágica-mundo real de forma convincente. Só vêem o maravilhoso aqueles que querem, o resto, os adultos, desapercebem as coisas ao redor. Nas cenas em que Mahoney e Magorium dançam na rua ou pulam nos colchões de uma loja de estofados, vemos o desinteresses dos demais, que andam eretos e rápidos, incapazes de se integrar àquele universo mágico.

A trama se encerra didaticamente, cada personagem aprende uma lição, o que não equivale, necessariamente, ao crescimento. O desfecho também é limitado, não gerando um deslumbramento final no público.

Aliás, um público difícil. Que fala demais, que come demais, que conversa demais. Poucos conseguem se integrar plenamente na dinâmica mágica do enredo. Ainda há que se discutir a necessidade de um cinema próprio para as crianças, a sala escura talvez não seja a melhor estratégia. Nesse sentido, não é que as crianças são travessas e nem que o filme falhe completamente. É muito mais o mal humor do crítico perante o risco de massificação do público jovem. Os meninos até querem o cinema, porém é crucial que as narrativas fílmicas, o espaço físico da exibição e o posicionamento dos pais ensinem – sem ser pedagógicos – as formas mais proveitosas de interagir com a sétima arte.

Porque correr no cinema e se engasgar com a pipoca não dá. Simplesmente não dá.

Cotação: Fraco