A marcha dos pingüins (La Marche de L’Empereur), 2005. De Luc Jacquet
Em um determinado momento, a câmera assume o plano subjetivo de uma pingüim fêmea para que possamos ver o movimento que ela faz para capturar um peixe.
O filme pretende narrar uma história a partir do suposto ponto de vista dos pingüins. Não se trata, portanto, de um documentário de zoologia, mas sim de uma história de amor e luta pela vida. São apresentadas, de uma forma romantizada, as várias marchas que os pingüins fazem para assegurar a procriação e sobrevivência dos filhotes.
Não há pretensão de uma descrição realista do comportamento dos pingüins imperadores, a proposta é bem outra, uma interpretação subjetiva e particular da vida na Antártida. Vários dos anseios e medos humanos são representados a partir da filmagem dos pingüins no período do acasalamento.
Aos poucos, nossa empatia com essas aves aumenta e passamos a nos preocupar se realmente irão sobreviver. A câmera adota a perspectiva dos pingüins, mostrando aperseverança contra o frio, a reações à incômoda presença dos predadores e a satisfação perante a chegada dos parceiros.
Mas, evidentemente, trata-se de uma criação cinematográfica, pois, em uma observação mais atenta, o aspecto de maior fascínio talvez não seja a vida dos pingüins, mas o esforço dos homens para filmá-los. Quando os pingüins machos se unem para enfrentar o frio do inverno, fica óbvio que essa espécie está ali há milênios. Mas, e os intrusos? Aqueles que vieram gravar essas imagens? Como eles resistem a essas adversidades?
São nos planos gerais – quando as geleiras e os oceanos são apresentados, quando são mostrados bandos de aves em um plano mais panorâmico – que o homem entra como um personagem secundário nessa narrativa. É ele que, através de uma técnica só sua, está fabricando um enredo. Nesse filme os figurinistas não são os animais, mas sim o ser humano, uma presença oculta, porém marcante.
Foi a imaginação de um documentarista que possibilitou que estabelecêssemos uma identidade com os pingüins, uma ave que, certamente, muitos de nós nunca veremos, nem mesmo em um zoológico.
É um filme sobre pingüins, mas também é um filme sobre o esforço dos homens para contar belas histórias, sejam verdadeiras ou não.
Cotação: Bom