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sábado, 29 de março de 2008

A Rainha


A Rainha (The Queen), 2006. Inglaterra/França/Itália. De Stephen Frears.

Trata-se de um forte diálogo com a cinematografia clássica, ao enfocar a biografia de um personagem de forma pouco ambígua (optando por uma coerência quase impossível à natureza humana), pois A Rainha é um filme de um personagem só, a monarca inglesa.

Mesmo que não concordemos com todas as ações dessa personagem, imediatamente simpatizamos com ela, com aquela inteligência aristocrática e soberba não excessiva.

A rainha da Inglaterra é uma mulher clássica que tem de enfrentar a voracidade da mídia e da cultura de massa. Valores como elegância, contenção, descrição se chocam com a necessidade de exposição, com a exigência de uma relação quase umbilical com os meios de comunicação.

Diana entendia isso, mas Elizabeth II não. Esse é o grande valor do filme, mostrar descompassos entre comportamentos diferentes, mas se focando em uma única personagem. Ela é chave para entendermos os paradoxos da monarquia inglesa.

A monarca vem de uma época onde a ostentação é motivo de censura, basta ver que não há nenhum luxo excessivo ao seu redor, até mesmo o televisor, em um dos aposentos, não é dos mais recentes. Claro, a rainha da Inglaterra veio de uma época ainda marcada pela carestia instaurada com a Segunda Guerra Mundial.

Os personagens que a rodeiam são um contraponto interessante, como o primeiro Ministro Tony Blair, que gradualmente vai se simpatizando com as posições da rainha – na verdade há uma certa insinuação, muito deliciosa, de que Blair é um capacho.

Outra insinuação divertida é quando percebemos que príncipe Charles é um covarde, com receio de ser atingido pela onda de insatisfação popular contra a monarquia, quanto a sua recusa de lamentar publicamente a perda da princesa Diana.

Um desafiador filme sobre o contemporâneo, sua propostas é a de ser analítico, sem levantar bandeiras para algum dos lados. Essa suposta isenção contribui para a narrativa, o que evita as prováveis pieguices de uma história muito centrada em uma única personagem.

Não há nada apelativo, nenhuma cena, nenhum acompanhamento musical. Nossa adesão a rainha é mais racional do que emotiva, sentimos certa empatia para com essa dama que lastima o azar de não ter o direito ao voto.

A única ressalva fica para aquela cena em que Tony Blair dá um chilique danado ao ouvir uma crítica à rainha, gordurinha totalmente desnecessária.

Filme de boas interpretações, filme de boa direção, bem incrustado na filmografia clássica. Não inova, mas convence.

Cotação: Bom