Filme excepcional para recuperar o potencial fantástico do cinema americano e da própria cultura circense dos freaks shows: as diferentes personas do estranho mágico chamado Dr. Lao prometem um show sem precedentes.
O filme recupera é uma fábula moral anticapitalista e comunalista. A temática circense tem recorrência no cinema norte-americano. Vale explorá-la por seu potencial metalinguístico e autorreflexivo, além do imaginário arraigado da estupefação perante a arte itinerante.
Mas neste filme em específico o que vemos é a chegada de um circo dirigido por um personagem supostamente chinês conhecido como Dr. Lao. Aliás, ênfase no “supostamente”, já que o ator se chama Tony Randall, interpretando tanto o Dr. Lao como as suas demais faces:
- Mago Merlim, um mago cansado;
- Apolônio de Tiana, um implacável adivinho;
- Uma serpente com traços antropomórficos;
- Abominável homem das neves, sem participação relevante;
- Medusa, a personagem mais assustadora do circo;
- Pan, despertando o desejo de uma professora reprimida;
- O monstro do lago Ness, disfarçado em um peixe.
Estes sete seres são importantes transmutações do mágico chinês, cuja atuação releva as ambivalências e hipocrisias da cidade de Abalone. O perigo que paira é o de se render a um especulador local em sua tentativa de comprar as terras dos moradores.
As técnicas de stop motion impressionam em retrospecto, mas para os padrões da época já eram limitadas. A maquiagem renderia, em 1965, um Oscar honorário (categoria especial) ao maquiador William J. Tuttle.
Com um visual maravilhoso (embora limitado) e uma moralidade ingênua “As 7 faces do Dr. Lao” revela-se eficaz na fusão de arquétipos duradouros das culturas mítica e circense com as traquinices do cinema comercial.