O baile na casa Anjo. Anjo no Yakata. De Kozaburo Yoshimura, 1947.
Há o pecado de didatismo no filme, pois ele aborda temáticas
candentes de uma maneira muito evidente e elementar. A família Anjo, nobres japoneses
bastante europeizados, precisa lidar com a sua derrocada após o término
da Segunda Guerra. Presos nos valores tradicionais, eles lamentam o novo mundo burguês que se anuncia.
A
família Anjo, ciente de que vai perder a casa para um credor, um homem de
negócios ressentido contra a nobreza, decide fazer um baile de despedida. No
decorrer do festejo os não-ditos são explicitados, evidenciando a necessidade
da nobreza abrir mão de seus valores aristocráticos para a autossobrevivência. Nesse
contexto dois personagens merecem destaque: Tadahiko Anjo, o patriarca relutante
em fazer concessões, e Atsuko Anjo, a habilidosa e diplomática filha. O
filme passa-se na casa do manso senhorial acompanhando os dramas familiares tais como o orgulho excessivo e os casos de amor com os empregados.
O
filme é um importante registro das transformações socias vivenciadas pelo Japão.
O diretor Kozaburo Yoshimura é conhecido por arcos dramáticos e comportamentais.
Mas as metáforas em O baile na casa Anjo são muito óbvias. A armadura do
samurai caída ao chão, as pérolas largadas sobre a praia e a etiqueta deslocada
da aristocracia mimetizam os conflitos profundos enfrentados por aquele país
tão orgulhoso, mas derrotado por uma jovem nação capitalista. Assim, o jovem chofer Kurakichi Toyama, capaz de
comprar a mansão dos Anjo com o dinheiro fruto do seu trabalho, representa os
próprios Estados Unidos da América.
Com alusões
pouco sutis, mas em um período de desenvolvimento da linguagem cinematográfica,
Anjo no Yakata consiste em uma porta de entrada para compreender o
cinema nipônico.
Cotação: ☕☕☕☕