terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Retrospectiva 2025 - filmes assistidos


Com eventuais omissões e uma tristeza por ter desistido das resenhas, esses foram os filmes que eu assisti em 2025. Foi um ano de relativa atividade cinéfila. Espero explorar, em 2026, o acervos que eu tenho, adentrando nos clássicos e terror.

Total de filmes assistidos: XX.

Filmes vistos em 2025:

  • Extermínio: A evolução. 28 Years Later. De Danny Boyle.
  • Um dia fora do controle. Playdate. De Luke Greenfield, 2025.
  • A mulher da cabine 10The Woman in Cabin 10. De Simon Stone, 2025.
  • O macaco. The monkey. De Osgood Perkins, 2025.
  • A Hora do Mal. Weapons. De Zach Cregger, 2025.
  • Meus 84m284jegobmiteo. De Kim Tae-joon, 2025.
  • Tempo de guerra. Warfare. De Alex Garland, 2025.
  • Demon City. Demon City. De Seiji Tanaka, 2025.
  • Sorria 2. Smile 2. De Parker Finn, 2024.
  • Um Homem Diferente. A Different Man. De Aaron Schimberg. 2024.
  • Sociedade dos Talentos Mortos. Dead Talents Society. De John Hsu, 2024.
  • Guerra Civil. Civil War. De Alex Garland, 2024.
  • Querido Papai NoelDear Santa. De Bobby Farrelly, 2024.
  • Arquivos da Perversão: Escotismo, Acusações e Silêncio. Scouts Honor: The Secret Files of the Boy Scouts of America. De Brian Knappenberger, 2023.
  • Astérix & Obélix: O Reino do Meio. Astérix & Obélix: L’Empire du Milieu. De Guillaume Canet, 2023.
  • Meu amigo. Robot Dreans. De Pablo Berger, 2023.
  • As OutrasLas Demás. De Alexandra Hyland, 2023.
  • Rosalina. Rosaline. De Karen Maine, 2022.
  • A Oitava Noite.  Je8ileui Bam. De Kim Tae-hyoung, 2021.
  • O gangster, o policial e o diablo한국어. De Lee Won-tae, 2019.
  • Corrente do Mal. It Follows. De David Robert Mitchell, 2014.
  • Os suspeitos. Prisioners. De Denis Villeneuve, 2013.
  • Uma noite em 1967. De Renato Terra e Ricardo Calil, 2010.
  • Fúria de Titãs. Class of Titans. De Louis Leterrier, 2010.
  • A filha do general. The General's Daughter. De Simon West, 1999.
  • O Turista AcidentalThe Accidental Tourist. De Lawrence Kasdan, 1988.
  • O predador. Predator. De John McTiernan, 1987.
  • Totalmente Selvagem. Something Wild. De Jonathan Demme, 1986.
  • Sundelbolong. De Sisworo Gautama Putra, 1981.
  • Heróis do Oriente. Zhonghua Zhangfu. De Lau Kar-leung, 1978.
  • Pesadelo Perfumado. Perfumed Nightmare. De Kidlat Tahimik, 1977.
  • Trinity e seus companheirosUn genio, due compari, un pollo. De Damiano Damiani, 1975.
  • Meu nome é ninguém. Il mio nome è Nessuno. De Tonino Valério, 1973.
  • Meu Nome Ainda É Trinity. Trinity Is Still My Name. De Enzo Barboni, 1971.
  • Trinity é o meu nomeLo chiamavano TrinitàDe Enzo Barboni, 1971.
  • Os abutres têm fome. Two mules for Sister Sara, 1970.
  • Poker de Sangue. Five Card Stud. De Henry Hathaway, 1968.
  • A Fuga do Passado. Kiga Kaikyō. De Tomu Uchida, 1965.
  • As 7 Faces do Dr. Lao7 Faces of Dr. Lao. De George Pal, 1964.
  • A face oculta. One-Eyed Jacks. De Marlon Brando, 1961.
  • A chegada do outono. Aki tachinu. De Mikio Naruse, 1960.
  • A Canoa VirouDon't Give Up the Ship. De Norman Taurog, 1959.
  • A Bolha Assassina. The Blob. De Irvin Yeaworth, 1958.
  • A Soldo do Diabo. Man in Shadow. De Jack Arnold, 1957.
  • Irmão, irmã. Ani Imôto. De Mikio Naruse, 1953.
  • Uma aventura na África. The African Queen. De John Huston, 1951.
  • Festim Diabólico. Rope. De Alfred Hitchcock, 1948.
  • As Damas do Bois de BoulogneLes Dames du Bois de Boulogne. De Robert Bresson, 1945.
  • A regra do jogo. La Règle du jeu. De Jean de Renoir, 1939.
  • CamaradasLa Belle Équipe. De Julien Duvivier, 1936.
  • White Zombie. De Victor Halperindo, 1932.

sábado, 18 de outubro de 2025

A Regra do jogo


A regra do jogo. 
La Règle du jeu. De Jean de Renoir, 1939.

A narrativa La Règle du jeu assemelha-se a uma ferina comédia teatral. Os atos são bem definidos, de forma quase esquemática: uma festa realizada em uma mansão aristocrática do interior da França. Os personagens situam-se em três planos: os ricos, os empregados e os amigos/agregados empobrecidos.

Os flertes e ciúmes funcionam como aperetivos para o banquete farscesco: traições e vinganças. Os triângulos amorosos acirram o senso de decadentismo. Christine tem como marido Robert, um marquês, e como amante André Jurieux, um aviador. Do lado dos empregados há Lisette, fascinada com o modo de vida dos ricos, casada com o guarda-caça Schumacher e interessada em um novo empregado.

Embora as dimensões da história tendem para um intimismo, a interioridade dos personagens pesa pouco. Suas motivações parecem estar lastreadas no tédio e autopiedade.

Um dos pontos de contato é Octave, um diletante amargurado (que carrega secretamente a paixão por Christine). O embate entre o marido traído e o amante da esposa dá o tom de gravidade à narrativa. Ao mesmo tempo, o ciúme de Schumacher e seu descontrole compõem o arpejo geral do enredo cujo desenlace é tanto uma tragédia quanto um ato de cinismo.

A ambientação na casa de campo reflete as sobreposições entre os mundos burguês e aristocrático. Os conflitos e as dinâmicas seriam a inspiração para o filme de Robert Altman Gosford Park (2001). Nas duas películas, a ação dos empregados é o solucionador dos impasses pseudo-existenciais dos empregadores.

Filme interessante para compreendermos as tensões sociais da França na década de 1930. Seu diálogo inconsciente com o fascismo e sua crítica aguda, mas apolítica, às classes dominantes sintetizam o contexto cultural de então. Na ótica de Renoir parece inexistir uma alternativa à anomia vigente. Se as classes dirigentes estão carcomidas, não há muito o que se esperar dos trabalhadores.

A Regra do jogo não vacila em delinear a futilidade da sociedade francesa expondo a artificialidade do heroísmo militarista pós-1918. Funciona como preâmbulo de impasses coletivos que seriam resolvidos tragicamente (e naquele mesmo ano) com a invasão alemã.

Em suma, a ácida comédia de Renoir tomo o riso como o prenúncio de um desesperado: a farsa é a antessala do trágico: eis que a Europa de então dançava sobre o próprio abismo.


Cotação: ☕☕☕☕

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

As 7 Faces do Dr. Lao

As 7 Faces do Dr. Lao. 7 Faces of Dr. Lao. De George Pal, 1964.

Filme excepcional para recuperar o potencial fantástico do cinema americano e da própria cultura circense dos freaks shows: as diferentes personas do estranho mágico chamado Dr. Lao prometem um show sem precedentes.

O filme recupera é uma fábula moral anticapitalista e comunalista. A temática circense tem recorrência no cinema norte-americano. Vale explorá-la por seu potencial metalinguístico e autorreflexivo, além do imaginário arraigado da estupefação perante a arte itinerante.

Mas neste filme em específico o que vemos é a chegada de um circo dirigido por um personagem supostamente chinês conhecido como Dr. Lao. Aliás, ênfase no “supostamente”, já que o ator se chama Tony Randall, interpretando tanto o Dr. Lao como as suas demais faces:

  • Mago Merlim, um mago cansado;
  • Apolônio de Tiana, um implacável adivinho;
  • Uma serpente com traços antropomórficos;
  • Abominável homem das neves, sem participação relevante;
  • Medusa, a personagem mais assustadora do circo;
  • Pan, despertando o desejo de uma professora reprimida;
  • O monstro do lago Ness, disfarçado em um peixe.

Estes sete seres são importantes transmutações do mágico chinês, cuja atuação releva as ambivalências e hipocrisias da cidade de Abalone. O perigo que paira é o de se render a um especulador local em sua tentativa de comprar as terras dos moradores.

As técnicas de stop motion impressionam em retrospecto, mas para os padrões da época já eram limitadas. A maquiagem renderia, em 1965, um Oscar honorário (categoria especial) ao maquiador William J. Tuttle.

Com um visual maravilhoso (embora limitado) e uma moralidade ingênua “As 7 faces do Dr. Lao” revela-se eficaz na fusão de arquétipos duradouros das culturas mítica e circense com as traquinices do cinema comercial.

Cotação: ☕☕☕☕